O trabalho publicado na Nature foi desenvolvido pelos cientistas Mark Showalter (Instituto SETI) e Doug Hamilton (Universidade de Maryland), dos Estados Unidos, e referia que a rotação das luas Nix, Hydra, Kerberos e Styx, ao contrário do que acontece com as luas até agora descobertas de grande parte dos planetas, não é constante e varia de forma imprevisível ao longo do tempo.

Por explicar, no entanto, ficou o porquê deste inesperado fenómeno. A resposta surgiu dois meses depois pelas mãos do Departamento de Física (DFis) da Universidade de Aveiro (UA) e foi revelada ao mundo no último número da revista "Astronomy & Astrophysics Letters".

Segundo os investigadores portugueses, a razão para estranha rotação das quatro luas de Plutão é explicada aplicando as leis da física. Para compreender este problema, aponta Alexandre Correia, coordenador da investigação e especialista em sistemas solares, planetas extrassolares e física planetária, “é necessário ter em conta dois fatores que distinguem estas pequenas quatro luas de todas as outras”, nomeadamente de Caronte, a outra lua de Plutão que tem uma rotação regular. 

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Assim, “devido [às quatro luas em causa] serem corpos de pequenas dimensões com diâmetros inferiores a 50 quilómetros, elas assemelham-se mais a asteroides em forma de batata do que a corpos esféricos como a Lua da Terra”. Têm sempre por isso, aponta Alexandre Correia, um eixo mais alongado.

Outro dos fatores que fazem Nix, Hydra, Kerberos e Styx um conjunto único no sistema solar é que, ao contrário das quatro pequenas luas, a maior lua de Plutão, Caronte, é quase tão grande como Plutão - tem 10% do tamanho de Plutão -, “pelo que, tecnicamente, o sistema Plutão-Caronte deve ser classificado como um sistema binário [sistema com dois corpos de dimensão semelhante que orbitam em torno do centro de massa comum] e não de sistema Planeta-Lua”.

Se Caronte não existisse, explica o investigador, as pequenas luas iriam evoluir por efeito de maré até ficarem síncronas com Plutão, como seria de esperar. Noutro cenário, se só existisse Caronte, as pequenas luas iriam apontar o eixo maior na direção de Caronte até, igualmente, ficarem síncronas com esse corpo celeste.

No entanto, como existe Plutão e Caronte, “as pequenas luas ficam ‘indecisas’ e umas vezes tendem a apontar o eixo maior para Plutão, outras vezes para Caronte, dependendo de quem passou mais próximo”. Esta alternância entre a perturbação de Plutão e de Caronte tem como consequência uma rotação irregular das pequenas luas, pois elas nunca conseguem chegar a ficar síncronas nem com Plutão nem com Caronte, garante Alexandre Correia.