À medida que o país enfrenta a pandemia de COVID-19, o espírito de solidariedade torna-se cada vez mais forte e a sociedade civil reúne esforços para atender às necessidades das pessoas que pertencem ao grupo de risco da doença. A SOS Vizinho é uma das iniciativas que quer ajudar quem mais precisa, fazendo chegar bens essenciais a quem não pode sair de casa através de uma rede nacional de voluntários.
A iniciativa que começou como uma plataforma digital agora conta também com uma linha telefónica de apoio, operacionalizada pela Altice Portugal. A linha gratuita 800 20 20 20 está disponível todos os dias, entre as 08 e as 20 horas. Do outro lado da linha está um grupo de 50 voluntários que tomam nota das necessidades de quem telefona, agindo como intermediários entre a população de risco, as equipas que coordenam o SOS Vizinho e quem entrega os bens.
Ao SAPO TEK, Henrique Paranhos, um dos fundadores e responsável pela iniciativa, contou que a ideia de criar a linha telefónica começou a ser discutida logo desde a conceção do projeto. É verdade que já existiam plataformas digitais de apoio à população em risco, no entanto, Henrique indicou que ainda há um número de pessoas dentro deste grupo que não têm acesso à Internet em casa ou não tem tanta agilidade no que toca às tecnologias.
“Tivemos da parte da Altice uma recetividade inacreditável desde o momento zero”. O responsável indicou que a empresa colocou logo uma equipa à disposição para responder às necessidades da iniciativa do ponto de vista logístico e de recursos humanos.
Como montar uma linha que une a SOS Vizinho a quem mais precisa?
O estabelecimento de uma linha entre a SOS Vizinho e a e a Altice surgiu por meio do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, através de Carla Ventura, Vice-presidente da CASES. “Este é um projeto de serviço público que tem uma vertente solidária do mais relevante que neste momento pode existir no país”, indicou André Figueiredo, diretor da direção de coordenação institucional, corporativa e comunicação da Altice, ao SAPO TEK.
O diretor deu a conhecer que, assim que a Altice tomou conhecimento da iniciativa e das necessidades que tinha para torná-la numa realidade, a proposta foi levada ao CEO Alexandre Fonseca que, imediatamente, deu “luz verde” para avançar com a parceria.
Para montar toda a estrutura necessária por trás da linha de apoio, a equipa liderada por Luís Alveirinho, CTO da Altice, teve de agir rapidamente. Ao SAPO TEK, o responsável indicou que depois de se estabelecer um número de telefone visível a todas operadoras de comunicações, foram organizados todos os aspectos do call center em Picoas, não esquecendo as medidas de segurança de todos os colaboradores. Estão previstos cerca de 50 voluntários que vão garantir o funcionamento das 10 posições disponíveis, esclareceu Luís Alveirinho.
Em colaboração com a equipa à frente do SOS Vizinho, a Altice gravou também uma série de mensagens para informar a quem telefona se os serviços estão ativos e, caso haja uma grande afluência à linha, se é necessário esperar um pouco para ser atendido.
“O projeto e este tipo de iniciativas são fundamentais, em particular, em meios mais pequenos ou afastados de grandes centros urbanos onde a dificuldade em ter acesso a alguma informação é menor”, afirmou Luís Alveirinho, acrescentando que é nestas zonas do país onde há uma tendência maior para a população em risco não ter uma rede de apoio de familiares, por exemplo.
De uma ideia à ação em 3 semanas
“A necessidade faz o engenho”, já dizia o velho ditado e, no caso da SOS Vizinho, foi a constatação de uma realidade que se afigurava difícil que levou ao seu surgimento. A entrada de Portugal em Estado de Emergência para conter a propagação da COVID-19 deixou Henrique Paranhos a pensar em quem não pode mesmo sair de casa para comprar comida ou medicamentos.
De uma ideia lançada numa publicação no Facebook em março, foram necessárias três semanas, vistas pelo responsável como um dos períodos mais intensos da sua vida, para tornar a SOS Vizinho numa realidade a nível nacional.
Aos comandos de uma iniciativa com cerca de 3 mil voluntários no terreno, está uma equipa de gestão com 70 membros e ainda uma segunda linha de coordenadores por cada um dos concelhos do país, afirmou Henrique Paranhos. “Foi tudo desenhado e pensado ao pormenor de como ia ser o processo da entrega dos produtos”, explicou o responsável.
A escolha dos voluntários é, para a SOS Vizinho, um dos aspectos essenciais e, para assegurar que tudo corre de forma segura, a iniciativa tem em prática um processo de seleção rigoroso. Henrique sublinhou que mandar os equipas para o terreno sem qualquer apoio ou procedimentos de segurança poderia ter graves consequências, seja para a população em risco ou para os próprios voluntários.
Assim, a SOS Vizinho definiu desde logo uma série de critérios para quem é que pode participar como voluntário, onde se incluem, por exemplo, a permanência em Portugal nos últimos 15 dias e não ter estado em contacto com alguém que tenha sido diagnosticado com a COVID-19 ou que suspeita que tem a doença.
O responsável esclareceu que, no processo de seleção, há uma ligação e um acompanhamento pelo coordenador do concelho em questão. Os voluntários no terreno recebem manuais de apoio com indicações detalhadas acerca do que podem ou não fazer. A iniciativa está a também a reunir esforços para garantir também que os voluntários em todos os concelhos tenham um kit com máscaras de proteção, luvas, gel desinfetante, sacos descartáveis e toalhitas de limpeza.
De acordo Henrique Paranhos, uma coisa é cerca: a SOS Vizinho vai estar sempre pronta a acompanhar quem mais precisa durante o tempo que a crise de COVID-19, dependendo de um conjunto de pessoas que estar a dar “corpo e alma” à causa. Ao SAPO TEK, o responsável indicou, no entanto, que o futuro após a pandemia é uma das questões que tem vindo a ser frequentemente debatida entre a equipa a cargo da iniciativa.
“Para o futuro, [o SOS Vizinho] é um movimento e um projeto que faz sentido”, afirmou o responsável, acrescentando que a iniciativa está a identificar e a dar resposta às necessidades a um vasto número de pessoas que precisa efetivamente de apoio. Henrique sublinhou que a sustentabilidade da SOS Vizinho fora do modelo de voluntariado terá de estar sob a mesa uma vez passada a crise da COVID-19.
Nota de redação: O artigo foi atualizado com uma correção em relação aos esforços que a iniciativa está a reunir para garantir que todos os voluntários tenham kits com materiais de proteção (Última atualização: 10/04/20; 16h07)
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