A Vodafone e a Digi Telecom assinaram um acordo, nos termos do qual a Vodafone pretende ceder à operadora 40 MHz de espectro e acesso à sua rede de fibra ótica, num compromisso para tentar ver desbloqueada a compra da Nowo.

A informação foi divulgada pela Digi, em comunicado, e confirmada pela Vodafone. “A Vodafone Portugal celebrou um acordo com a Digi, que prevê a cedência de espetro da Nowo e acesso à oferta grossista bitstream da rede de fibra ótica detida pela Vodafone”, confirmou a Vodafone ao Eco.

“Este acordo integrará a proposta de remédios a apresentar à Autoridade da Concorrência, no âmbito da operação de compra da Nowo que está atualmente em análise, estando por isso este acordo ainda sujeito à aprovação das entidades reguladoras competentes”, refere a mesma nota.

A Digi Telecom prepara-se para lançar os primeiros serviços em Portugal. A operadora é aliás uma das empresas com espectro adquirido para serviços 5G. No comunicado agora divulgado, a empresa de origem romena explica que a Vodafone pretende ceder-lhe 20 MHz na faixa dos 1.800 MHz e 20 MHz na faixa dos 3.400-3.800 MHz, para além de garantir acesso grossista à sua rede de fibra. No comunicado é também referido que o acordo está relacionado com o processo de compra da Nowo pela Vodafone.

A intenção de compra da Nowo foi anunciada pela Vodafone em setembro do ano passado, mas o negócio ainda não foi concretizado. Tem estado em análise pelo regulador da concorrência, que tem poder para vetar o negócio e pelo regulador sectorial, que pode definir remédios para que a compra seja autorizada sem prejudicar a concorrência, se a análise identificar esse tipo de riscos, como foi o caso.

A Digi é um dos operadores mais competitivos do mercado espanhol em termos de preços - está também noutros mercados europeus, onde se diferencia igualmente pela estratégia de preços. No país vizinho a empresa tem preços muito abaixo dos que são praticados no mercado português, como destacou há dias o atual presidente da Anacom, Cadete de Matos, que se diz convicto de que a empresa vai forçar uma rápida mudança na oferta dos restantes operadores. Tem também ofertas associadas a períodos de fidelização de três meses. Em Portugal, os períodos de fidelização impostos pelos operadores são normalmente de 24 meses e, em alguns casos, de 12 meses.

Em maio deste ano, o Expansion escrevia que em Espanha a Digi Telecom já tinha conseguido “roubar” 280 mil clientes à concorrência, graças à sua estratégia agressiva de preços. A Vodafone terá, precisamente, sido o operador mais visado, com 243 mil contas a trocarem de fornecedor, segundo a mesma fonte. As contas do primeiro semestre deste ano, reveladas em agosto pela empresa, também mostravam que a Digi conseguiu ganhar 434 mil clientes no país vizinho no período em análise, passando para 5,7 milhões de subscritores, entre serviços fixos e móveis. No último ano ganhou 1,4 milhões de clientes em Espanha.

A Digi Telecom está a preparar a entrada no mercado português há vários meses. O lançamento dos primeiros serviços deve acontecer já no início de 2024. Em maio do ano passado o Eco adiantava que a empresa já tinha já 70 pessoas a trabalhar em Portugal, que estava já a desenvolver a sua rede móvel e que também tinha planos para oferecer serviços de rede fixa.

À data, a empresa não confirmou todas as informações, mas fez uma primeira declaração pública sobre a operação em Portugal, referindo-se ao tipo de serviços que queria disponibilizar. “A Digi Portugal encontra-se a trabalhar no sentido de investir em redes de alta velocidade, nova geração e tecnologia de ponta, que permitam entregar os serviços mais modernos e com elevados padrões de qualidade aos consumidores portugueses”, referia a declaração enviada ao Eco.

Em março do ano passado surgiram também várias informações sobre intervenções e equipas da operadora no terreno que faziam prever o lançamento para breve de serviços de banda larga da operadora em algumas cidades do país.