
Por John Gazal (*)
Plano de 109 mil milhões de euros em França. Datacenters de 1 gigawatt. 2 milhões de Unidades de Processamento Gráfico. 200 mil milhões de euros na Europa. Uma longa lista de investimentos que serão, de agora em diante, analisados mais profundamente para melhor compreender para que serão utilizados. A União Europeia está empenhada em competir na corrida da IA e promover o ecossistema da IA da UE. Embora isto seja 100% promissor, também levantou várias questões: como é que este gigantesco projeto de IA pode ser concretizado? Qual será a potência de cálculo necessária? Que tipo de infraestruturas estamos a considerar? Que tipo de casos de uso ganharão vida? Como vamos regular o uso da IA?
Estas questões levantam uma série de desafios que têm de ser enfrentados. E não nos podemos esquecer que o setor da cloud está na linha da frente destes desafios. Porque não há IA sem cloud. Por detrás de cada serviço de IA, existem datacenters, serviços e soluções cloud, infraestruturas cloud e hardware. Esta complexa cadeia de valor não só precisa de estar alinhada para impulsionar esta ambição de IA da UE, como também dar suporte a quatro desafios principais: controlar o consumo de energia, educar a sociedade sobre a utilização e as tecnologias de IA, formar e reter os talentos certos, e mobilizar um ecossistema já frutífero. A cloud está no centro do desafio e precisamos de agir já.
Reduzir a energia para prevenir um crescimento descontrolado evitar um potencial boom
A revolução da IA aumentará drasticamente o atual impacto ambiental da indústria tecnológica, que devemos tentar conter a todo o custo. Enquanto «núcleo» do setor, este processo deve começar pelos datacenters. É fundamental que nos debrucemos sobre o consumo de energia, através de estratégias de controlo e de redução, para permitir uma utilização sustentável e produtiva. Em 2022, a Agência Internacional de Energia (AIE) anunciou que os datacenters consumiram 460 TWh e mencionou um potencial aumento para 1 000 TWh, impulsionado principalmente pela IA, o que representa o consumo anual de eletricidade da Índia. Na Europa, a boa notícia é que acreditamos numa combinação energética massivamente descarbonizada, que poderá fornecer uma energia «limpa» aos datacenters.
A Europa está a caminhar no sentido de desenvolver um ambiente mais coeso, a nível de políticas de inovação ou de iniciativas em diferentes países. Podemos contar com iniciativas europeias e mundiais, como a recente «Coalition for Sustainable AI», à qual nos associámos para dar força a iniciativas que utilizem a IA em prol do ambiente local e mundial, como a descarbonização das economias e a preservação da biodiversidade.
Mas, para além dos nossos fornecedores de energia, nós, enquanto fornecedores de cloud, especialistas em infraestruturas, arquitetos de datacenters e agentes inovadores, devemos esforçar-nos para reduzir e controlar o nosso consumo de energia a todos os níveis, para mitigar o nosso impacto. O arrefecimento por água, as tecnologias de conservação de energia e os datacenters de ponta para melhor servir as comunidades locais e controlar a energia consumida por infraestruturas de maior envergadura fazem parte do caminho que devemos seguir, capitalizando as nossas tecnologias.
Oferecer uma cloud sustentável é uma crença partilhada no setor, mas não é suficiente. Todos os utilizadores e clientes da IA devem também agir de forma responsável, solicitando e escolhendo serviços que minimizem o seu impacto ambiental. É essencial educar o mercado sobre as tecnologias disponíveis, os seus custos energéticos e o nosso impacto enquanto indivíduos, de modo a abrir caminho tanto para uma cloud sustentável como para um desenvolvimento sustentável da IA.
Explorar a diversidade da IA para tirar melhor partido dela
A IA não se resume apenas aos LLM (Modelos de Linguagem de Grande Dimensão), grandes consumidores de energia, que exigem milhares de GPU potentes. Embora nos últimos três anos tenhamos discutido apenas a IA generativa e os Modelos linguísticos de grande dimensão, a IA também se refere a aplicações e sistemas de machine learning, à IA baseada em agentes, a plataformas de pesquisa acelerada e plataformas de inferência que ajudam a criar aplicações e serviços.
A informação sobre os vários tipos de IA ajudará não só a compreender o consumo com base nas necessidades reais da IA por parte da indústria e da sociedade, como também a explorar as diferentes possibilidades tecnológicas e a desvendar todo o potencial da IA. Aumentar a consciencialização para as tecnologias é uma parte importante para compreender melhor as necessidades do mercado, ao mesmo tempo que se aumenta a competência e se fomenta a maturidade. Mas para além de aumentar a consciencialização, chegou a altura de explicar realmente o que a IA pode e não pode fazer, através de uma estrutura para criar limites éticos como o Regulamento Inteligência Artificial, bem como uma explicação das diferentes utilizações da IA.
As regulamentações irão desempenhar um papel importante na definição da estrutura da IA a longo prazo, nos casos de uso a desenvolver, bem como na criação de limites éticos para proteger as empresas e a sociedade sem restringir a inovação.
A democratização da IA será também respondida através da popularização e informação sobre outros tipos de aplicações, da abertura de vários serviços e datacenters e de novos casos de uso para GPU ou aceleradores dedicados. A diversidade é a chave para abraçar o poder da IA e ter uma abordagem mais sustentável em relação à mesma.
Promover um ambiente fértil para a IA na Europa
Entre os profissionais de IA, 120 000 são europeus e representam o primeiro solo fértil para os trabalhadores de IA em todo o mundo. O desafio está em prosseguir com a formação, por forma a colmatar as lacunas nas necessidades atuais e futuras (cerca de 75% dos empregadores tiveram dificuldades em preencher as vagas de IA), mantendo-se competitivo e retendo esses trabalhadores. A IA é agora atrativa. Está na hora de tornar a Europa mais atrativa do que nunca. Dando destaque aos nossos campeões. Respeitando as normas internacionais em matéria de benefícios e compensações. Preenchendo os critérios que impedem uma nova fuga de cérebros.
E temos campeões europeus de referência, como a Mistral.AI, a Aleph Alpha na Alemanha, a LightOn ou até a HuggingFace e, claro, fornecedores de cloud líderes na Europa. Este é um primeiro ambiente sólido para desenvolver e atrair a longo prazo.
A Europa deve acreditar no seu potencial. Não subestimar os seus pontos fortes. Não negar as conquistas passadas. Não desistir perante a concorrência. Mas a jornada também não deve ser descurada: o trabalho não pode ser feito apenas com investimentos; os esforços para o realizar exigirão mais trabalho e cooperação do que dinheiro. A nossa missão é ir além das palavras. E ainda há muito a fazer. No entanto, o caminho para o sucesso é claro: dominar o impacto ambiental da IA, oferecer uma gama completa de serviços de IA e reter o talento e as empresas na Europa. Só assim conseguiremos que a Europa reivindique verdadeiramente a sua posição na corrida da IA. Vamos com tudo e com todas as forças.
(*) VP para o Sul da Europa e Brazil da OVHcloud
Pergunta do Dia
Em destaque
-
Multimédia
Clair Obscur: Expedition 33 é uma carta de amor de França aos RPGs japoneses -
App do dia
Bomber Friends inspira-se no clássico Bomberman numa experiência multijogador online para oito amigos -
Site do dia
Grave o ecrã com a extensão Supercut e partilhe rapidamente o vídeo -
How to TEK
Já pode trocar o assistente da Google pelo ChatGPT no smartphone. Veja como
Comentários