Por Pedro Serra (*)

A conectividade veio abrir novas oportunidades na forma como as empresas gerem as suas frotas. Hoje, com dados em tempo real, é possível tomar decisões mais rápidas e informadas — o que se traduz numa operação mais eficiente e segura, tanto para os condutores como para as pessoas à volta.

Uma das mais-valias é permitir uma gestão proativa da frota. Com os dados recolhidos dos veículos, os gestores conseguem antecipar manutenções e reparações, evitando surpresas e minimizando tempos de paragem. Isto é fundamental: um veículo parado, mesmo que por poucas horas, pode ter um impacto financeiro ou logístico na operação — seja porque deixa de fazer entregas, seja porque obriga a reorganização de rotas.

Estes dados também permitem reagir a situações excecionais. Se um veículo começa a ter um comportamento estranho, é possível atuar imediatamente e pedir ao condutor para parar ou encaminhá-lo para uma oficina. Muitas vezes, estas anomalias não seriam sequer detetadas pelo condutor, independentemente da experiência do mesmo. Agir a tempo, significa uma redução de custos e um aumento do tempo útil de operação do veículo.

Além disso, a informação sobre o comportamento do condutor, como aceleração, consumo ou travagens bruscas, ajuda a avaliar se este está a conduzir de uma forma eficiente ou se pode beneficiar de formação. Isto tem um impacto direto no consumo de combustível (ou energia) e até na integridade da carga transportada. Uma condução imprudente por exemplo, pode comprometer mercadoria mais frágil. Este conjunto sublinha a importância de dados na promoção de operações mais eficientes e seguros.

A Internet of Things (IoT) veio, por isso, tornar esta informação mais acessível. Já existem várias soluções no mercado que permitem recolher dados dos veículos, até em formato aftermarket, o que democratizou o acesso. Hoje, qualquer gestor de frota pode ter este tipo de informação na palma da mão, sem grandes barreiras de entrada. Os dados recolhidos em tempo real vão desde o consumo de combustível e localização GPS, até à temperatura de arcas frigoríficas, número de rotações do motor ou pressão nos pedais. Tudo o que está disponível nos painéis digitais dos veículos pode ser transmitido e analisado. O desafio está em tratar esta informação para que chegue ao utilizador final de uma forma clara e útil — visto que estamos a falar de grandes volumes de dados, muitas vezes complexos.

Claro que esta realidade traz também desafios técnicos. O primeiro é garantir que os veículos estão ligados de forma quase permanente enquanto circulam. A conectividade é essencial, mas ainda depende de redes móveis que nem sempre são estáveis. Depois, há o desafio de garantir que os sistemas que recolhem, tratam e transmitem estes dados são robustos e têm o mínimo de falhas possível. Existe também, naturalmente, a questão da segurança. É obrigatório garantir que os dados estão protegidos — tanto os do veículo como os do condutor e da empresa — e que estes não caem nas mãos erradas.

Olhando para o futuro, a conectividade e a IoT vão ter um papel cada vez mais relevante na mobilidade elétrica. Em primeiro lugar, vão ajudar a perceber melhor como tudo funciona. Verifica-se ainda muito desconhecimento em relação aos veículos elétricos, contudo, ter acesso a dados ajuda a desmistificar e a dar mais confiança a quem considera participar nesta transição. Depois, vão ser fundamentais para o planeamento: desde saber que postos de carregamento estão disponíveis até perceber se a rede elétrica consegue suportar os consumos. Se de repente todos tiverem um veículo elétrico, vamos precisar de soluções inteligentes para evitar sobrecargas e otimizar o funcionamento da rede. Para isso é preciso informação, planeamento e ferramentas que ajudem cada pessoa a gerir melhor o seu dia-a-dia.

(*) Engineering Manager na tb.lx