Em defesa do reforço da disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação nos vários graus de ensino, Emanuel Teixeira avançou com a criação de um movimento, respondendo ao desafio lançado pelo Governo no novo portal, que quer desenvolver as ferramentas de cidadania e participação. O interesse gerado fez com que este movimento se tornasse um dos sete mais votados, entre mais de mil propostas avançadas no site desde Janeiro, e há ainda espaço para apoiar a ideia, pelo menos até quinta-feira, quando encerram as "urnas" digitais.





No TeK já demos hoje espaço às sete propostas mais votadas, mas decidimos aprofundar as ideias do movimento de Emanuel, até porque estão diretamente relacionadas com os temas abordados no site.




Emanuel Teixeira, professor de informática, respondeu às perguntas que colocámos, explicando porque criou o movimento e quais os objetivos que defende, mas também as propostas para o futuro.




TeK: Como surgiu a ideia de criar este movimento?

Emanuel Teixeira:
A ideia surgiu depois de uma entrevista que li sobre o tema no Público, referindo que as TIC eram uma disciplina sem importância no modelo de ensino. A partir desse instante, achei importante informar sobre esta, pois pareceu-me que não era percebida como disciplina nuclear no desenvolvimento dos alunos nestes tempos em que o universo digital se une ao mundo real.

O desconhecimento da necessidade de um ensino formal nesta área de conteúdos deve-se ao facto de a nós emigrantes digitais nos parecer que a nova geração os nativos digitais sabem tudo sobre o tema, mas tal não é verdade, estes têm um domínio das tecnologias, mas falta-lhe, o saber estar e o saber ser no universo digital.

Programas como o PIZA, têm como disciplina avaliadora as Tecnologias da Informação e Comunicação e a OCDE, considera-a um dos critérios para medir a qualidade de ensino de um território, logo também aqui a importância justificável da disciplina.




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TeK:
Defende o reforço da abrangência aos níveis escolares do 5º, 7º e 10º anos, mas concorda com o currículo do que se ensina nas aulas de TIC? Acha que é este tipo de formação que os jovens precisam?

Emanuel Teixeira: Sim, mas é claro que os currículos têm que ser mudados e tornados mais dinâmicos, a disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação tem especificidades que não se encontram noutras áreas do conhecimento, como por exemplo a velocidade exponencial do desenvolvimento dos seus conteúdos.

O que sugiro é a criação de três currículos novos. Os princípios do uso da escrita digital e das ferramentas básicas deverão começar a ser lecionados nas Tecnologias da Informação e Comunicação, no 7º ano, correspondendo à idade ideal para o início destes temas. No entanto não são, porque não podem ser, tratados os problemas da entrada no mundo digital dos adolescentes, com todos os riscos inerentes, desde a exposição, até ao uso desregulado de muitas ferramentas, como sejam as sociais e que os adolescentes contactam, sem saber usar, bem como da noção de algoritmo, conceito importante para que a próxima geração possa competir nas mais diferenciadas áreas de trabalho.

Logo é também importante que as Tecnologias da Informação e Comunicação estejam presentes no 10º ano de escolaridade. E por fim, mas não menos importante é o contacto com as noções básicas do interface, estas devem ser assumidas o mais cedo possível, ou seja no final do 1º ciclo, ou princípio do 2º, onde se poderia abordar, também os primeiros conteúdos na área da segurança básica de dados e como disse uso do interface. Penso que para a produção de um ensino de qualidade a disciplina de TIC deve estar então presente nos 5º, 7º e 10º ano.



TeK: Como vê o desinvestimento deste governo nos projetos de modernização tecnológica das escolas e no desenvolvimento de programas de incentivo à utilização de computadores?

Emanuel Teixeira: De facto foi feito um investimento monumental, em ferramentas, mas não se preparou o corpo docente, para o acompanhamento dos seus alunos, de que adianta ter um quadro interativo na sala e muitos computadores, se a maioria dos professores não sabem como tirar partido dessas ferramentas, é culpa destes? Definitivamente não, pois, por desconhecimento, ou por outra razão qualquer, o Governo anterior equacionou que bastaria entregar as ferramentas digitais e todos aprenderiam a utilizá-las, isto não é possível, os sistemas de educação informal, existem, mas pelo seu conceito desregulado não permitem uma aprendizagem intencional e sistemática. Então acho que o investimento na formação dos professores deveria ter acompanhado a instalação dos equipamentos e como tal não aconteceu, o investimento tornar-se-á obsoleto em alguns anos e o corpo docente e discente não terá tirado usufruído destes investimentos de forma assertiva, no entanto mesmo sem esse esforço de formação, foi o maior salto qualitativo no uso das Tecnologias digitais aplicados ao ensino.

Penso que até se criou em todos os professores pouco preparados para o uso destas ferramentas alguma aversão e isso resultou numa campanha contra as tecnologias digitais nas escolas. Talvez por estas razões o Ministério da Educação tem feito um desinvestimento e desvalorização do uso deste tipo de ferramenta, mas penso que quando se constatar que é um erro não investir no conhecimento digital o processo reverter-se-á e nos próximos anos será feito um investimento na formação, se tal não acontecer, haverá, um retrocesso no conhecimento, que as próximas gerações pagaram, ficaremos com um País menos preparado para a competitividade, tão necessária para o sucesso das pessoas individualmente e de um Povo globalmente.



TeK: Se conseguir ganhar a votação, e falar com o Primeiro-ministro, que propostas concretas lhe vai apresentar?

Emanuel Teixeira: Eu considero que todos os movimentos têm importância e fiquei contente quando percebi que todos eles, de alguma forma estão ligados à educação. As propostas que levaria ao Primeiro-ministro eram as da criação de uma base de conhecimento digital estruturada, vertida numa proposta de currículo, transmitida ao longo dos três anos que referi anteriormente.



TeK:Se não conseguir ganhar, acha que esta ideia mesmo assim conseguiu a mobilização que desejava ou foi além da visibilidade que tinha inicialmente previsto?

Emanuel Teixeira: Penso que importante é alertarmos para os problemas e simultaneamente propormos soluções, penso que a visibilidade, quando as ideias são boas e os projetos exequíveis, acaba por aparecer e como cidadão o que me tem importado é apresentar a minha opinião e com a discussão melhorar esta, tornando-me mais informado e mais consequente nas decisões e opiniões que tenho.




TeK: Qual a sua opinião sobre este tipo de iniciativas, acha que ajuda a uma democracia mais participativa ou as pessoas ainda não estão habituadas a envolverem-se em causas como esta e por isso é mais marketing para o Governo do que uma maneira de fazer algo concreto?

Emanuel Teixeira: Não sei qual será o resultado final deste projeto, mas ao darem voz ao cidadão comum, estão a transformar, um pouco, a forma como a democracia pode ser vista e talvez nos próximos anos as pessoas comuns possam ajudar e ser parte integrante da gestão do País. Claro que também é marketing político, mas se no final a forma de governação for melhor todos ficaremos a ganhar.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Fátima Caçador