Armindo Monteiro, presidente da COMPTA, acaba de tomar posse como presidente da ANETIE - Associação Nacional das Empresas das Tecnologias de Informação e Electrónica, num mandato de dois anos que mantém algumas das linhas estratégicas já definidas para a associação, mas onde as o enfoque se centra na redução dos custos de contexto para o sector.

Em entrevista ao TeK o novo responsável pela associação explica algumas das linhas estratégicas a desenvolver e partilha a sua visão sobre o sector, os constrangimentos da conjuntura actual e da política de compras públicas.

TeK: A ANETIE tem vindo a assumir um papel importante na dinamização de actividade, reflexões e estudos que ajudam a promover o sector de TI. Quais os planos e projectos da nova direcção?
Armindo Monteiro:
A nova direcção da ANETIE assumiu o compromisso de lutar pela redução dos custos de contexto do sector das Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica (TICE), designadamente ao nível da fiscalidade e da burocracia. Por outro lado, vai fomentar o investimento em formação avançada, investigação científica, desenvolvimento de tecnologia e registo de marcas e patentes.
A diferenciação dos nossos associados e dos seus produtos/serviços deve ser realizada por via da inovação, objectivo que poderá, em nossa opinião, ser mais facilmente alcançado através de parcerias entre empresas, Estado, universidades e institutos de investigação. Criando uma vasta rede de partilha de conhecimento, as empresas do sector ganham escala e massa crítica indispensáveis à sua competitividade, em especial nos mercados externos. Por isso, vamos trabalhar afincadamente para que essa rede se torne realidade e gere as sinergias desejáveis.

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TeK: A promoção das empresas de TI no estrangeiro vai continuar a ser uma das linhas de actuação da ANETIE? Vão dinamizar mais missões?

A.M.:
O sector das TICE tem revelado competitividade e potencial de crescimento, mas necessita de reforçar a sua capacidade de penetração nos mercados externos. Neste sentido, vamos intensificar as acções de internacionalização da ANETIE, nomeadamente através de missões empresariais no estrangeiro, da presença em grandes certames tecnológicos e da promoção de parcerias com centros de investigação internacionais.

TeK: Este é um vector fundamental para o desenvolvimento das TIC nacionais?
A.M.:
Sim, sem dúvida. Com um mercado interno exíguo e um tecido produtivo nacional pouco qualificado, as empresas do sector necessitam de se internacionalizar para atrair novos clientes, aumentar as vendas, gerar mais receitas, ganhar notoriedade corporativa, desenvolver soluções mais inovadoras e estabelecer parcerias que se traduzam em valor acrescentado.

TeK: Num momento de alguma fragilidade económica, que papel podem assumir as empresas de TI para ajudar ao desenvolvimento económico e à competitividade das empresas portuguesas?
A.M.
Ao desenvolverem e transferirem para o mercado novas tecnologias de informação e electrónica, as empresas do sector estão, naturalmente, a disponibilizar ao tecido empresarial português ferramentas que lhe possibilitam aumentos de produtividade, redução de custos, ganhos de eficiência interna, mais actividades de inovação, novos factores de diferenciação para bens/serviços, melhorias no relacionamento com o cliente e sistemas de distribuição com eficácia acrescida. Ora tudo isto se traduz em competitividade empresarial e, a montante, em crescimento económico.

TeK: A escassez de profissionais qualificados tem sido apontada como uma das falhas no nosso mercado, que coloca alguns entraves ao desenvolvimento das empresas de TI. De que forma se pode contrariar esta questão?
A.M.:
As universidades portuguesas formam engenheiros e gestores com grandes competências na área das novas tecnologias. Acontece, porém, que o nosso mercado de trabalho nem sempre consegue fixar os quadros mais qualificados nesta área. Muitos jovens são atraídos por melhores condições de realização profissional no estrangeiro, reduzindo-se assim os horizontes de recrutamento das empresas nacionais.
Para fixar quadros altamente qualificados, é necessário que as empresas portuguesas ganhem escala suficiente para garantirem melhores salários, boas condições de I&D e expectativas de progressão profissional. Por outro lado, no tecido empresarial português tem de prevalecer a "cultura do mérito" - o que ainda não acontece plenamente, mesmo no sector das TICE.

TeK: A actuação do Governo, a nível de concursos públicos, foi criticada por direcções anteriores por ser considerada pouco aberta às empresas nacionais. Acredita que esta situação se mantém ou que já foi alterada?
A.M.:
A situação ainda se mantém. O tecido empresarial português é constituído esmagadoramente por PME e, no sector das TICE, avultam as start-ups. Neste quadro, não se percebe porque razão uma empresa, para se qualificar para a Central de Compras do Estado, tenha obrigatoriamente de apresentar um volume de negócios de 5 milhões de euros. Este valor é, obviamente, difícil de atingir por PME e muito menos por empresas nos primeiros anos de actividade.
Ou seja, o Estado não permite às empresas pequenas e jovens ganharem competitividade, escala e notoriedade, uma vez que lhes exige um conjunto de requisitos impossíveis de satisfazer.
Mais: o Estado obriga à verificação de requisitos que ainda estão em fase de auditoria e certificação - processo muito lento em Portugal, ao contrário de outros países. E assim se favorecem, de forma administrativa, as multinacionais nos concursos públicos, em detrimento das PME portuguesas.

Fátima Caçador