Por Pedro Branco (*)

A crise financeira mudou a forma como vemos os Bancos. De entidades robustas e intocáveis, sinónimo de resiliência, a pilares da economia e referências de boas práticas de gestão, a Banca é hoje um setor em mudança ao nível nacional e internacional.

E quando falamos em mudanças, falamos ainda da perceção que os clientes têm do setor, da redução de efetivos, do encerramento de agências e das necessidades de reforço de capital. A grande exposição mediática leva a uma ação-reação imediata por parte dos clientes perante qualquer noticia negativa, em alguns casos materializada numa corrida aos depósitos, com impactos quase imediatos nos rácios de capital dos bancos.

Por outro lado, a cada vez maior regulação do setor (e o facto de ser um processo com alguma dinâmica), constitui um sério condicionalismo à definição estratégica. Se por um lado os governos e os reguladores entendem que a regulação é a chave do sucesso do setor, motivando a transparência e o rigor, a banca vê a regulação (prudencial e comportamental) como um entrave à diferenciação e com impactos no capital.

A alteração da estrutura acionista dos maiores bancos do sistema é outras das variáveis que tem afetado o maior ativo do setor: a confiança dos clientes. Adicionalmente, o único banco “refúgio” do sistema financeiro nacional, tradicionalmente imune a crises de confiança (e de capital), viu o seu estatuto alterado por via das decisões de gestão passadas (que afetaram significativamente as opções futuras), no que respeita, e mais uma vez, a questões de capital, bem como das sucessivas alterações e indefinições no que respeita à gestão de topo.

Ainda assim, a “iberização” do setor, vista como perda de soberania por alguns é na verdade uma oportunidade para os Bancos ganharem dimensão e para muitas empresas conseguirem acesso a uma maior capacidade de financiamento e a um mercado de maior dimensão.

Neste contexto a Banca deve voltar a ser vista como “a stedy ship in stormy waters”, capaz de resistir a ventos e tempestades, crises financeiras e de confiança, adaptando-se aos novos tempos de mudança e de concorrência dos novos players digitais.

(*) Financial Services Senior Manager, Glintt Portugal