Por Karoli Hindriks (*) 

Vivemos num mundo caracterizado pela mobilidade. Se outrora o local de trabalho era fixo, hoje o mesmo não acontece. A possibilidade de trabalhar remotamente abre portas aos trabalhadores para escolherem onde preferem viver, sem que isso afete a sua atividade profissional. Estão estabelecidas as condições para a criação de uma geração de nómadas digitais, mas teremos as condições necessárias para ter um mundo de trabalho verdadeiramente global?

A mobilidade internacional é altamente condicionada por altos muros fronteiriços. A complexidade e exagero da burocracia inerente aos processos migratórios torna-se um entrave para quem quer realojar-se noutro país. Preencher toda a documentação necessária para os pedidos de visto já é um processo moroso, esperar por receber os documentos finais é ainda pior. Em Portugal, obter o visto de trabalho e entrada no país pode levar até dois a três meses.

Mas porquê? Acredito que face a este cenário, todos se questionem do mesmo: “Porque é que as barreiras à mobilidade global são tão elevadas?”.

Olhamos para o passaporte como o bilhete de passagem entre fronteiras, o documento essencial para sair e entrar em diferentes países. No entanto, este tem origem no pós-Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de ajudar os países ocidentais a movimentarem-se pelo mundo. Hoje, mais de um século depois, o mesmo documento rege como nos movimentamos pelo mundo.

Há vários exemplos de como este mecanismo não responde às necessidades e tendências dos dias de hoje. Entre os vários países mais atrativos para recrutar talento altamente qualificado, encontram-se a China, Filipinas e Índia, devido aos seus altos níveis de qualificação, especialmente na área da tecnologia. Curiosamente, de acordo com o Henley Passport Index de 2023, estes três países são portadores de passaportes de difícil circulação. Face a este problema, o primeiro passo para atualizar e modernizar os processos de migração e mobilidade global passa por redefinir o sistema do passaporte.

A resposta está em tirar partido de tecnologias inovadoras para criar uma identidade digital segura de cada indivíduo. A criação de uma plataforma digital segura, onde os documentos de cada indivíduo fossem partilhados com os sistemas governamentais em todo o mundo, permitiria criar um passaporte digital válido e reconhecido por todos os países. Embora alguns possam ficar hesitantes com a ideia de partilhar a sua informação pessoal, a criação de uma plataforma digital com as devidas proteções consegue ser um método ainda mais seguro do que o atual sistema. Este sistema permitiria, igualmente, reduzir drasticamente o tempo necessário para a aprovação da entrada no país, ao mesmo tempo que contribuiria para um futuro mais sustentável, onde não seria necessário imprimir papel.

A utilização de tecnologias de automação nos processos de realojamento e imigração é benéfica tanto para quem pretende realocar-se, como para as empresas que procuram talento internacional. Aliar a tecnologia aos processos de realocação permite aumentar a capacidade de resposta, aliviando os encargos das empresas e dos profissionais, e garantindo um melhor controlo e eficácia de cada caso.

Sou uma ávida defensora de que o passaporte nos define como residentes do nosso país de origem, quando na realidade somos cidadãos do mundo. Queremos ser trabalhadores em qualquer parte do mundo e para qualquer empresa. Um passaporte digital universal contribuiria para um mundo onde atravessar fronteiras não significaria uma perda de tempo e um desperdício de recursos. Através disso, poderíamos expandir oportunidades para além das fronteiras e ajudar a construir um mundo mais rico para todos.

(*) CEO e Cofundadora da Jobbatical