Por Rodrigo Oliveira (*)

Chega ao trabalho e abre o seu email. Hoje é dia de iniciar novo projecto e consulta o briefing num documento que a sua colega partilhou consigo no Google Docs. Mas, calma, nem tudo tem de ser trabalho. Também há lugar para uma pausa e descontrair um pouco. Imagino que aproveite para brincar com o telemóvel, navegando pelas redes sociais de estimação ou, no meu caso, ver os vídeos do dia que a NASA partilha na sua morada online. São sempre impressionantes. Obrigado NASA. De volta à jornada, é hora de reunir com um novo cliente. Será via Zoom, pois ele vive nas paisagens nipónicas e teve a amabilidade de se adaptar às horas do sol deste lado do mundo. No regresso a casa, faz-se acompanhar pela mix escolhida pelo Spotify. Normalmente, não desilude. Chega o serão e agora é que vai ser: momento de sorver os últimos episódios daquela série da Netflix que está mais empolgante do que nunca.

Pois é, ao que parece andamos todos “nas nuvens” ou, tecnologicamente falando, na computação em nuvem. A inclusão destas e tantas outras aplicações e plataformas nas diferentes circunstâncias das nossas vidas é a viva prova disso. Softwares, dados, arquivos, tudo está disponível em nuvens tecnológicas à distância de um download ou de uma subscrição. Esteja onde se estiver, a partir de qualquer dispositivo. Seja no telemóvel, computador ou no tablet, o que é preciso é estar On. Para uns, a cloud está a ser revolucionária. Para outros, é a inovação a democratizar-se. Mas o que é realmente este fenómeno cloud, pergunto eu?

Uma cloud que não faz chover

Para percebermos o que a tecnologia cloud trouxe às nossas vidas, façamos o exercício de voltar aos tempos em que ainda não era um dado adquirido. Talvez a geração Z não tenha bem presente esta realidade, mas eu, filho dos emblemáticos anos ‘80, lembro-me bem o que era estar sempre a fazer contas à memória do meu PC e arranjar pens USB e discos rígidos adicionais para encaixar mais um programa de edição ou a versão mais recente do jogo Resident Evil. E quando queria apresentar aos meus amigos a banda que andava em repeat na minha mente, não enviava nenhum link para mostrar, gravava, sim, num CD e entregava-lhes em mãos. E o software de gravação desse mesmo CD vinha também ele num CD que instalava no computador após sucessivos passos a clicar “sim” e “continuar”.

Pois bem, com a computação na nuvem toda a morosidade e hardwares necessários ao bom funcionamento destes processos são superadas, através do acesso remoto de programas, processamento de dados e armazenamento de arquivos, ligado a uma conexão de Internet. As vantagens deste serviço (ou já lhe podemos chamar paradigma?) superam em muito os riscos que pode trazer ao utilizador: memória ilimitada, menos custos, ubiquidade, informação centralizada, backups assegurados, actualizações automatizadas, disponibilidade a 99,9%, mais transparência sobre o uso de recursos, simples de usar por qualquer utilizador, mais sustentável, e por aí adiante.

Quanto às desvantagens, a principal é muito evidente. Refere-se à dependência de uma conexão de Internet pois, sem ela, a nuvem “dissipa-se”. Contudo, há cada vez mais recursos a funcionarem offline. Outra desvantagem é a dificuldade que poderá surgir na hora de migrar o espólio informativo e estrutural de uma empresa. Hospedar e integrar aplicações e softwares da actual nuvem para outra plataforma pode ser muito desafiante ao nível de interoperabilidade e suporte, mas, se querem boas notícias neste campo, dou-vos o exemplo da Netflix que, em 2016, migrou totalmente para o sistema em nuvem e, como podemos constatar, encontra-se de muito boa saúde.

A nuvem ainda mais à lupa

Para melhor compreender o que é isto de ser uma nuvem tecnológica, começo por apresentar os seus quatro tipos de existência: a nuvem privada que, tal como o seu nome nos indica, não tem um ponto de acesso público. A infraestrutura é usada apenas pela empresa que a adquire, sendo gerida e hospedada pela própria ou pela empresa que fornece o servidor. Como privada que é, os serviços são mais personalizados, o que acarreta custos superiores à da nuvem pública. Nesta última, os recursos informáticos são mais padronizados por servirem um maior número de pessoas através de uma rede pública. Depois, há a junção destas duas, a nuvem híbrida, que acontece quando uma empresa usa uma base de nuvem privada e a integra, estrategicamente, no uso de serviços de uma nuvem pública. Por fim, nem sempre assinalada, existe a nuvem comunitária dedicada à partilha dos recursos por diferentes empresas e organizações em nome de solucionar um problema comum.

Agora, testemos os seus conhecimentos sobre o universo cloud. Já ouviu falar de SaaS? E de PaaS? Parecem onomatopeias, mas são acrónimos dos dois principais serviços arquitectados na cloud - Software como Serviço (SaaS), Plataforma como Serviço (PaaS) - e fazem mais parte da nossa vida do que pensamos. Com o SaaS, acedemos ao software sem ter de pagar licença e isto reflecte-se no simples que é aceder aos nossos serviços e-mail, Whatsapp, Zoom, Linkedin e Facebook. Já na PaaS, é criado todo o ambiente on demand, em que a empresa tem mão em todos os processos e ferramentas. A Amazon Web Services é o maior exemplo deste serviço e é através da sua matriz que acedemos aos conteúdos Airbnb, Financial Times, NASA, Netflix... está a sentir a dimensão?

A computação em nuvem é uma das inovações que irá revolucionar a nossa sociedade nos próximos anos, ao lado de grandes nomes como Big Data, Internet das Coisa, Inteligência Artificial e Machine Learning. Se durante muito tempo se falou da migração inicial das empresas para a nuvem, hoje, a discussão anda à volta se a integração será em multicloud ou em nuvem híbrida. A procura por estes dois formatos aumentou durante a pandemia que exigiu infraestruturas para home office em tempo recorde e maior capacidade de armazenamento e resposta para lidar com a procura massiva e concentrada por conteúdos de entretenimento e informação. Andar nas nuvens deixou de ser um devaneio poético para passar a ser uma revolução. Fiquemos atentos à sua passagem.

(*) CEO Zyrgon Network Group

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