Por Tiago Farinha (*)
Em pouco mais de um par de meses, o Mundo, tal como o conhecíamos, mudou e o responsável chama-se COVID-19. Todos, sem exceção, fomos obrigados a adaptarmo-nos às suas consequências, vislumbrando-se ainda no horizonte mudanças profundas em todas as vertentes da nossa sociedade, talvez semelhantes a um medicamento de libertação prolongada ou uma marca de água.
Nesta fase, já não restam dúvidas, de que apesar de estarmos a viver um confinamento e um isolamento social sem paralelo, abolimos o individualismo que muito nos caracterizava e estamos mais ligados que nunca. Emergem por todo o lado na sociedade valores como o altruísmo, a humanidade, a coragem e a entrega incondicional.
Nada será como antes e o setor da Inovação e Tecnologia, além de ter de realizar o seu realinhamento interno, terá um papel importante a desempenhar na sociedade e na economia após o reduzir da onda pandêmica.
A digitalização da economia vai afirmar-se
A internet, que tantas vezes foi apontada como geradora de isolamento quando usada em excesso, é por estes dias a nossa principal janela para o mundo. Uma das consequências desta crise está a ser a aceleração do aproveitamento de todas as potencialidades que a rede nos permite.
Os termos Transformação e Economia Digital convivem massivamente entre nós sendo alvo, contudo, das naturais resistências e limitações que a nossa condição humana e social vai impondo. Estamos a assistir a uma explosão da economia digital apenas semelhante ao fenómeno astrológico de uma supernova. Esta tendência veio necessariamente para ficar, havendo o imperativo de o tecido empresarial ajustar transversalmente os seus processos internos de forma a acomodar e maximizar toda esta bagagem digital que este período nos permitiu desenvolver (competências, mindset, ferramentas, métodos de trabalho, novas rotinas, etc.).
Vidas, serviços e produtos na era do (pós-)condicionamento social
”Fique em casa”. Somos invadidos massivamente por esta mensagem. ”Vai ficar tudo bem”, mas vai levar tempo. Talvez o tempo necessário para a população desenvolver imunidade ou para que uma vacina seja desenvolvida, testada, tenha bons resultados, e seja disponibilizada a todos. Até lá, parem tudo o que não é absolutamente essencial e fiquem todos em casa. Esta realidade, obrigou-nos a reinventar e acomodar novas rotinas.
Esta paragem quase sabática, faz com que redesenhemos as relações sociais e económicas tal como as conhecíamos, abrindo espaço para crescer uma sociedade verdadeiramente globalizada e digital muito mais assente em e-produtos e e-serviços. Neste âmbito, a tecnologia apresenta-se como parceiro estratégico de excelência, não apenas para implementar soluções, mas também, e sobretudo, para apoiar a maximização e a construção de pontes para a digitalização de todos os processos de negócio. Temos todos que fazer mais com menos e só a tecnologia sabe como resolver esta equação.
Reorganização das formas de trabalho
Operou-se uma autêntica revolução na forma como todos nós trabalhamos. Na realidade, considero que a outra face de uma crise é necessariamente a busca pela oportunidade. Neste caso estamos no timing exato para desmistificar o trabalho remoto e transformá-lo definitivamente num modelo de exercer uma profissão que, na medida exata, deverá competir taco-a-taco com o modelo presencial. Há que ter em consideração que esta forma de trabalho que, entre outras vantagens, reduz custos e incrementa a satisfação e a motivação dos colaboradores, pois impacta na dimensão work life balance. Assim sendo deixa de ser encarada como uma utopia ou um sinónimo de improdutividade e será necessariamente uma norma em detrimento da exceção. Há indicadores que provam o aumento de sistematização de serviços, qualidade ou foco. O trabalho remoto, subsistente em várias áreas das TI como o Nearshore, irá tornar-se mais comum em formas mistas ou totais tendo um impacto a todos os níveis.
O líder nestas organizações terá um duplo desafio pois, por um lado, terá que desenvolver todas as competências necessárias à realização do trabalho remoto e, por outro, terá paralelamente que desenvolver estratégias que garantam que a comunicação é fluida e eficaz na equipa. É seu desígnio, também, que colaboradores permaneçam motivados e produtivos, garantindo a sustentabilidade do negócio. Culturalmente, as equipas estavam habituadas à proximidade da chefia e garanti-la remotamente será certamente uma tarefa desafiante que nos fará sair a todos das nossas zonas de conforto. Dar autonomia às equipas, comunicar e gerir resultados são algumas estratégias possíveis para garantir a liderança à distância, mas estes fatores terão que estar alinhados com competências chave que também os colaboradores terão que desenvolver, nomeadamente a automotivação, a autonomia a flexibilidade e a responsabilidade. Estas soft skills, já por si importantes, serão mandatárias nos perfis profissionais em processos de recrutamento da KCS IT.
Reconversão de talentos para um setor necessitado
Na última década as necessidades de talento especializado na área tecnológica em Portugal têm-se vindo progressivamente a intensificar. O aumento da necessidade de profissionais nas empresas locais, as criações de centros de excelência de organizações internacionais, entre outros fatores, ditam um aumento na procura de competências em TI por parte do mercado e, necessariamente, uma maior escassez de disponibilidade destes profissionais. Uma previsível recessão económica irá levar muitas pessoas e reconverterem as suas competências alinhando-as com setores onde há e haverá mais oportunidades de emprego. Neste contexto, já existem várias medidas e programas com sucesso reconhecido, orientadas á reconversão de carreiras para o setor das TI´s.
Portugal será cada vez mais o centro tecnológico da Europa
Se nos últimos anos o nosso país tem sido cada vez mais procurado para sedear centros de tecnologia por consórcios internacionais, a próxima década poderá ver um redobrar desse investimento. As competências e o talento dos nossos profissionais, as valências geográficas, a competitividade económica face a outros países, aumentará certamente o peso que os serviços de empresas tecnológicas têm no PIB de Portugal.
Proximidade e capacidade de resposta
Poderá ser um paradoxo, mas a era de distanciamento social em que vivemos e o seu após vão exigir uma maior proximidade entre gestores, clientes e colaboradores. No ecossistema de empresas de Inovação e Tecnologia, como a KCS iT, estão incorporadas práticas que impõem uma maior capacidade de resposta às necessidades reportadas. Não se trata apenas de metodologia de gestão e eficiência, mas sim de humanização e de criação de relações próximas entre os vários agentes que tornam um produto ou serviço uma realidade.
Em resumo, tendo bem presentes os fortes impactos da pandemia COVID-19 nas nossas vidas e os que se avizinham na economia, tenho de encarar com otimismo o futuro. Aliás, nós, portugueses já muitas vezes demos prova da nossa resiliência em momentos complexos. Mais do que focado na crise, estou e estarei atento às oportunidades de desenvolvimento e de mudança positiva que esta nova realidade nos confronta. Conto com a ajuda de toda a minha equipa para reinventar e convergir o significado de fraqueza com o de vantagem competitiva.
(*) Diretor Geral KCS iT
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