Por Rui Talhadas (*)

No mundo das Tecnologias da Informação (IT), as parcerias desempenham um papel crucial no caminho para o sucesso das empresas no cenário altamente competitivo do setor. No entanto, o desafio está em equilibrar as obrigações que o negócio impõe, para não comprometer a autenticidade das relações entre parceiros. Esse equilíbrio é essencial para alcançar o sucesso sustentável e partilhado.

A indústria de IT caracteriza-se pela sua constante inovação e competitividade. Para se manter à frente do setor, cada concorrente leva a cabo projetos complexos e dinâmicos, o que muitas vezes os leva a procurar parcerias estratégicas. Essas parcerias, de modo a não comprometer a autenticidade das relações entre parceiros, devem basear-se numa confiança genuína e trazer vantagens tangíveis a cada uma das partes.

No entanto, há uma série de pontos que comprometem esse equilíbrio. Um dos maiores obstáculos à criação de relações de confiança, dentro e fora do mundo empresarial, é a má gestão de expectativas. Em Portugal, observa-se uma cultura de receio em contradizer, chegando ao ponto de "o cliente ter sempre razão". Esses estigmas frequentemente conduzem a situações em que as expectativas não têm outro desfecho possível senão a quebra das mesmas.

Não podemos esquecer-nos do facto de as empresas serem representadas por pessoas e de que, para essas pessoas, são definidos objetivos a cumprir. Normalmente, esses objetivos são de curto-médio prazo, o que nem sempre coincide com os objetivos de médio-longo prazo das empresas. Essa diferença faz com que, por vezes, os objetivos individuais de curto prazo prevaleçam acima da criação de parcerias genuínas.

Vivemos num país habituado a olhar para o próprio umbigo, e muitas vezes ficamos mais frustrados com a vitória do "vizinho" do que contentes com as nossas conquistas. Vemos o vizinho como um inimigo, em vez de considerá-lo como um possível parceiro para ambos crescerem. Nada disto é benéfico para a evolução das empresas nacionais e afeta claramente o sucesso de muitas parcerias. A verdadeira beleza do sucesso está na sua partilha com aqueles que contribuíram como parceiros genuínos.

A solução para esses dilemas começa por quebrar o estigma de superioridade/inferioridade entre fornecedor/cliente. Quando uma parceria é criada, deve obrigatoriamente ter a premissa de ser vantajosa para ambas as partes (win-win). Se esta não existir à partida, dificilmente a relação funcionará de forma equilibrada e duradoura.

A comunicação desempenha também um papel central na construção de relações autênticas. A transparência desde o início é fundamental para estabelecer a confiança necessária para uma parceria bem-sucedida. As expectativas devem ser geridas cuidadosamente desde o início da relação e continuamente ao longo da parceria, assegurando que os objetivos de ambas as partes estejam sempre alinhados. Isso previne a acomodação descuidada numa relação "de longa data".

Além disso, a flexibilidade é essencial. No setor de IT, a agilidade é uma virtude. As empresas devem estar dispostas não apenas a ajustar, mas também a evoluir as suas parcerias à medida que a conjuntura se desenvolve. A capacidade de adaptar acordos e resolver desafios é fundamental para manter o equilíbrio entre os objetivos de negócio e a autenticidade nas parcerias.

Em relação aos pontos acima mencionados e para que as empresas prosperem a longo prazo, a mudança de mentalidades é e deve ser de iniciativa própria.

Construir relacionamentos fortes requer tempo e investimento. A longo prazo, estas parcerias genuínas tendem a ser mais valiosas do que acordos superficiais. É nessas parcerias que as empresas deveriam investir, e não em objetivos de negócio de curto a médio prazo.

A importância de parcerias genuínas no mundo da IT é indiscutível. O equilíbrio entre satisfazer as necessidades do negócio e criar relações autênticas é um desafio omnipresente. Uma questão que permanece é: Quando iremos superar a habitual mentalidade egocêntrica e promover ativamente uma cultura de parceria, onde o foco está em como podemos ajudar-nos mutuamente a evoluir?

(*) Business Manager, Bee Engineering