Por Predrag Poposki(*)

Imaginem que estamos em 1996 e passamos o dia sem o luxo das nossas apps favoritas, como a Netflix, Dropbox, Spotify ou Instagram. À primeira vista, percebemos como se imiscuíram de forma perfeita nas nossas vidas, aumentando a nossa produtividade, entretenimento, comunicação - e procrastinação também. Mas compreendemos realmente como é que estão acessíveis 24 sobre 7 e em todo o mundo? A resposta está na Nuvem, a força tecnológica que veio redesenhar a forma como as empresas operam e inovam.

Comecemos com a minha analogia favorita entre computação da Cloud e produção elétrica. Recordam-se dos dias em que era preciso gerarmos a nossa própria eletricidade? Eu não, mas imagino que era algo impressionante, caro e que exigia muito conhecimento. E mesmo que eventualmente dominássemos esta produção, com certeza era difícil equilibrar a produção e o consumo. Nos dias de verão, gastávamos menos e, no período de inverno, possivelmente mais. Noutros dias, não precisaríamos de energia de todo.

Mas depois surgiram as centrais elétricas para revolucionar a forma como acedemos à energia e como lidamos com picos de procura. A Cloud faz o mesmo: em vez de se construir e manter infraestruturas de telecomunicações complexas, esta tecnologia assume-se como uma plataforma centralizada que oferece recursos, armazenamento e serviços on-demand. É como ligar a ficha a uma tomada de energia computacional infinita, assim como fazemos na rede elétrica.

A verdade é que a Cloud está a crescer exponencialmente. Basta olharmos à volta e tudo o que vemos é potenciado por estas soluções. Aplicações de referência como O365, Salesforce, Slack, Zoom, G-Suite ou Atlassian: todas tiram partido desta tecnologia e abraçam a escalabilidade, flexibilidade e custo eficiência para entregar experiências perfeitas a utilizadores nos quatro cantos do mundo. Se gigantes da indústria confiam na Cloud, então temos aqui a prova da sua fiabilidade e das suas capacidades disruptivas.

Ao mesmo tempo, a evolução destas soluções está a alimentar ferramentas de Inteligência Artificial de que temos ouvido falar recentemente. Já se perguntaram porque é que esperamos tanto tempo pelo ChatGPT? Bom, podemos agradecer à Cloud pelo seu desenvolvimento. As tecnologias de IA prosperam a partir da energia e do armazenamento computacional em massa - ambos totalmente disponíveis com esta tecnologia. OpenAI, Amazon SageMaker e Google Cloud AI nivelaram o terreno de atuação, permitindo que a IA se tornasse acessível às empresas sem necessidade de investimentos avultados em infraestruturas. A conexão entre IA e Cloud abre um novo mundo de possibilidades.

Na Era da Disrupção Digital, as empresas precisam de se transformar se querem manter o seu poder de competição e a Cloud oferece precisamente uma rampa de lançamento nessa aventura. É preciso escalar uma infraestrutura para responder a um aumento súbito na procura? Sem problema. Queremos tornar ferramentas e tecnologias avançadas mais acessíveis sem grandes gastos em infra estruturas? A Cloud ajuda. Além disso, os fornecedores da Nuvem encarregam-se da proteção de dados e segurança, permitindo que os negócios se concentrem no que fazem melhor e deixem os “pesos pesados” das TI para os especialistas.

Então, com tantas vantagens, onde reside o problema? Se tudo parece tão romântico, porque é que a adaptação das empresas à Cloud é tão demorada? Mesmo passados tantos anos, parece que ainda nem todos entendem o seu verdadeiro potencial. Enquanto muitos abraçaram esta tecnologia e colheram bons resultados, outros continuam a hesitar, pouco seguros de como pode esta integrar-se na sua estratégia ou, até, mostrando-se céticos sobre as suas capacidades.

Esta hesitação pode dever-se a vários fatores, onde a mudança ocupa o primeiro lugar. Mudar de uma infraestrutura mais tradicional e local para uma Nuvem digital exige uma mudança na mentalidade e dos processos da operação. É preciso adotar novas tecnologias, migrar dados e redesenhar os fluxos de trabalho. Para empresas que estão muito presas aos seus atuais sistemas, a hipótese de fazer uma transição desta envergadura pode ser assoberbante.

Em simultâneo, confiar dados críticos para o negócio a um fornecedor externo pode levantar algumas preocupações sobre falhas de segurança, acesso não autorizado a dados ou perda destes. Embora os fornecedores de Cloud invistam largamente em medidas de segurança, esta mudança continua a ser um salto de fé para algumas empresas.

O vasto leque de modelos de serviços, implementação e custos da Cloud pode parecer confuso, tornando mais desafiante e menos apelativo o processo de navegação e escolha da estratégia mais adequada às necessidades específicas das organizações. A falta de conhecimento e de experiência nesta tecnologia também contribui para o problema, criando maior hesitação e incerteza.

Por último, mas não menos importante, o retorno sobre o investimento (ROI) também é uma preocupação. Algumas empresas podem questionar os benefícios financeiros de migrar para a Cloud, especialmente considerando os custos iniciais associados a esta transição. Pode ser desafiante quantificar, a longo prazo, o valor e a poupança conseguidos pela escalabilidade melhorada, pouca manutenção e crescente agilidade.

Estou totalmente convencido de que o melhor momento para perceber a Cloud é agora. As empresas podem ou não decidir abraçar e navegar a onda da transformação digital, mas deveriam pelo menos experimentar e moldá-la de acordo com as necessidades do negócio. Com a Nuvem como nossa aliada, vamos potenciar a inovação e melhoria de processos, abrindo oportunidades à entrega de experiências extraordinárias aos consumidores.

(*) Diretor de Cloud & Partner na Zühlke

Nota da Redação: foi feita uma alteração no texto