Por Beatriz Duarte (*)

No cenário mundial atual, marcado pela necessidade de uma rápida transformação e adaptação tecnológica em todos os setores, são cada vez maiores os desafios organizacionais e humanos sentidos nas áreas das Tecnologias da Informação (TI).

O setor das TI é um dos mais dinâmicos e inovadores da economia, impulsionado pela necessidade de as empresas procurarem estar sempre no topo na disponibilização das melhores ofertas e soluções para os seus clientes, dadas as vantagens que, por exemplo, a inteligência artificial e a análise de dados proporcionam.

Todos estes fatores levam a que cada vez seja mais desafiante, numa primeira fase, encontrar talento qualificado para colmatar a procura existente, e numa segunda fase, trabalhar o setor humano de retenção e requalificação de talento, estando a formação no topo das estratégias cruciais a ter em conta.

O relatório “Data for Humanity”, encomendado pela Lenovo em 2023, e que contou com a participação de altos executivos de organizações com receitas no valor de 500 milhões de dólares, concluiu que apenas 15% das organizações preenchia os critérios necessários para serem consideradas Líderes de Dados. De acordo com o relatório, quando atingidos os três critérios indispensáveis (Gestão de Dados, Análise de Dados e Segurança de Dados) estima-se um aumento de 78% das receitas das empresas, sendo essenciais para as que pretendem estar na linha da frente da liderança nas TI.

Os dados mostram que é urgente apostar na qualificação e requalificação de talento, até porque um outro estudo feito pela IDC (International Data Corporation) prevê que o mercado europeu de software de Big Data e Analítica continuará a crescer até 2027, impulsionado sobretudo por investimentos em plataformas de software de inteligência artificial.

Com esta rápida evolução tecnológica é exigido aos profissionais uma constante atualização de skills e de conhecimento, que se tem vindo a mostrar insuficiente tanto ao nível de ensino superior, como de ensino profissional. Segundo a Comissão Europeia, em 2020 faltavam pelo menos 800 mil profissionais de TI na Europa. O objetivo é alcançar 20 milhões de profissionais de TI até 2030, de acordo com um relatório de 2021 da mesma entidade.

Por outro lado, algumas ofertas profissionais em Portugal têm uma imagem estereotipada e pouco diversificada, que podem resultar numa baixa atratividade para a construção de uma carreira de TI em Portugal, o 4º país a nível global onde as empresas têm mais dificuldade em contratar, de acordo com o estudo Talent Shortage Survey 2023, do ManpowerGroup.

Torna-se cada vez mais evidente para os profissionais da área que há uma ausência de oportunidades totalmente remotas, uma exigência enquadrada na oferta nacional por questões principalmente culturais das empresas. Quando nos deparamos com ofertas de diversas empresas estrangeiras do mesmo setor, estas oferecem melhores e mais diversificadas condições de trabalho.

Apesar de o caminho ainda ser longo, é possível resolver o problema da escassez de talento no setor das TI, através da formação contínua, reskilling e upskilling dos profissionais. As organizações devem investir no desenvolvimento de literacia de inteligência artificial junto dos seus colaboradores para que o talento jovem e sénior, quer esteja ou não na área das TI, tenha oportunidades de progressão ou mudança de carreira. Em 2022, um estudo da Multipessoal revelava que 65% das pessoas no ativo sentia necessidade de renovar as suas competências para evoluir na carreira, o que será importante não só para a requalificação de profissionais cujas competências estão desadequadas às necessidades do mercado, mas igualmente para combater a escassez de talento.

A aposta nas formações especializadas nas mais diversas áreas de TI, disponíveis em Portugal, vão facilitar a aquisição de competências em qualquer momento da carreira, sejam elas técnicas, ou a nível de soft skills, que farão diferença para acompanhar este mercado em constante evolução.

(*) Tech Lead Data Analyst/Professora na TechoOf