Por Sandra Carvalho (*)

A diversidade é central ao desenvolvimento das espécies. A ideia da heterogeneidade e de vantagens competitivas leva-nos ao início do estudo da biodiversidade; desde Darwin a Lamark que se comprovou a pertinência da diversidade na melhor adaptação e progresso da espécie humana.

Embora o foco inicial dos estudos tenha sido uma análise de características físicas, as vantagens da multiculturalidade e diversidade cognitiva têm demostrado as mais valias da coexistência nas equipas de recursos com dimensões diferentes, de modo a responder a projetos e desafios colocados de formas diferenciadas e criativas.

Se considerarmos as organizações como um sistema vivo, dinâmico e mutável, só poderemos antecipar que recursos humanos igualmente multitask e multidimensionais conseguirão responder de forma assertiva aos reptos mais complexos da atualidade.

Assim, no contexto organizacional contemporâneo, a diversidade cognitiva emerge como uma vantagem estratégica que a Inteligência Artificial (IA) não consegue replicar.

Enquanto a IA oferece inúmeras vantagens em termos de eficiência, processamento de dados e automatização de tarefas, carece da capacidade de aportar a variedade de perspetivas e estilos de pensamento que são intrínsecos ao Ser Humano, que são também, em todo o caso, pelo menos na atualidade, intransmissíveis. Pode ser uma ferramenta poderosa no aumento da eficiência e auxiliar na tomada de decisões baseadas em dados, no entanto, não pode substituir a riqueza trazida pela diversidade cognitiva.

A componente cognitiva manifesta-se de várias formas, e deverá estar integrada nas organizações como um imperativo, que levará a abordagens enriquecedoras e criativas perante os diversos problemas. Assim, também as respostas serão de diferentes estilos de pensamento, e as perspetivas mais inovadoras na resolução, permitindo uma melhor adaptabilidade quando exposta a situações inesperadas, como as que têm surgido nos últimos anos, quer a nível geopolítico, económico, de cariz social ou de saúde.

Modelos comportamentais, como o teste psicométrico e comportamental DiSC, não só realçam o valor das diferenças individuais, como destacam também uma área em que a IA, apesar de uma evolução crescente, permanece limitada.

A diversidade cognitiva permite a coexistência, na organização, de colaboradores que aportam perspetivas de resolução tanto inovadoras como orientadas para resultados, desafiando o status quo e impulsionando a organização para novos territórios. Por outro lado, permite ainda a promoção de um ambiente colaborativo, facilitando a comunicação aberta e o brainstorming de novas ideias, assegurando que as mudanças sejam implementadas de forma organizada e sustentável, enquanto outros garantem que todas as soluções sejam pensadas e meticulosamente planeadas. São dimensões diferenciadas e vencedoras, se forem complementares.

Será interessante estarmos munidos de ferramentas, e já existem bastantes, que nos permitam mapear essas competências emocionais, sociais e comportamentais, permitindo que as organizações alavanquem ao máximo o potencial sinérgico dos colaboradores.

Em suma, é inequívoco que a pluralidade/multiplicidade cognitiva oferece uma vantagem competitiva em qualquer ecossistema. A integração de modelos cognitivos/comportamentais em ambientes organizacionais destaca e maximiza essas diferenças humanas, possibilitando um pensamento coletivo mais inovador, adaptável e competente. Ao reconhecer e valorizar a diversidade cognitiva, as empresas valorizam, não só o indivíduo na sua essência, como também semeiam e cultivam uma dinâmica inclusiva, indispensável à sua consistência e sustentação do negócio.

(*) Diretora Norte do grupo EGOR