Por Mariana Figueiredo Salvaterra (*)
Muito se tem falado do potencial que as novas ferramentas de Inteligência Artificial trazem para o dia a dia de quem trabalha com e em tecnologia. Ao mesmo tempo, também surgem receios sobre, afinal, o que pode estar em risco neste desenvolvimento, o que nos afasta do essencial: a IA generativa pode realmente transformar, regenerar e melhorar a forma como produzimos.
Em cima da mesa, somam-se as dúvidas: como podemos então medir a produtividade dos colaboradores se usam estas ferramentas para o seu trabalho?; o que significam estas mudanças para o modo de produção da organização?; é possível confiar na qualidade dos resultados da IA?; e, se a ferramenta faz o mesmo que um Developer, então que valor acrescentado tem esta pessoa na equipa? De acordo com um estudo da Boston Consulting Group, um em cada três colaboradores acredita mesmo que a IA pode eliminar o seu trabalho.
No meio das preocupações sobre o convencional, o habitual, o confortável, perde-se o sentido de oportunidade para repensar e inovar o futuro, aliando o potencial do Humano e da Máquina - um não elimina o outro, pelo contrário: este caráter híbrido vem alimentar a inovação e o crescimento. Já utilizamos muitas destas ferramentas e plataformas no nosso dia a dia profissional - e nunca se levantaram tantos problemas com essa prática. Correção gramatical e verificação linguística como faz o Grammarly, lembretes e organização como faz o Google Calendar, revisão e edição de código como faz o Co-pilot da Github são algumas das tarefas que os profissionais em Tecnologia conseguem otimizar com recurso à automação, IA e machine learning.
Se podemos confiar a 100% no que as plataformas nos dão? Naturalmente, não, mas é precisamente por isso que continuar a investir na formação e especialização dos colaboradores é fundamental. Há competências inerentes ao ser humano que vão, cada vez mais, enriquecer a qualidade dos resultados e distinguir as organizações que invistam nesta estratégia.
Falamos aqui de pensamento crítico, resolução de conflitos, intercomunicação, trabalho em equipa, análise de problemas, liderança e gestão de pessoas, competências essenciais à evolução da equipa como um todo onde cada colaborador, com as suas especificidades, enriquece e contribui para o crescimento integrado com a equipa e as ferramentas de IA. No fundo, competências para as quais o tempo é fundamental se queremos os melhores resultados e que, através do uso de ferramentas de IA generativa, as equipas ganham a seu favor. Com mais tempo para se focarem nas questões que apenas eles podem, efetivamente, resolver, os colaboradores conseguem otimizar produtividade e performance - “work smarter, not harder” é o lema para quem quer ver mais além.
Dentro de pouco tempo, por exemplo, “bater código” não vai mais significar escrever linha a linha num software; passará, sim, pela análise do código que a IA generativa escreveu e como isso responde ao que precisamos de desenvolver. Noutro exemplo, as empresas ganham também margem para inovar em frentes de produtos de software que, antes, não seria possível: ter uma ferramenta que permite testar hipóteses e novas funcionalidades contribui para reduzir o tempo entre teste-decisão, permitindo definir uma estratégia mais certeira, com menor custo e com impacto positivo no produto e na organização.
Tal como adoptamos, por exemplo, a máquina de calcular como ferramenta que nos permite fazer cálculos mais rapidamente e corretos sem nos escusar de sabermos que cálculos temos de fazer, também as novas ferramentas de IA nos vão permitir resultados melhores e mais rápidos, desde que as saibamos adoptar e usar.
O objetivo do uso destas plataformas nunca é substituir o profissional, mas sim acrescentar e melhorar a qualidade do output que a “máquina” produz. Se as ferramentas nos ajudam a resolver um problema, cabe-nos a nós analisar, nesse processo, se é a melhor resposta e se resolve, de facto, a questão. Humano e máquina continuarão a ser o par perfeito para as empresas de tecnologia que querem, realmente, estar na linha da frente da disrupção, ditando tendências e regenerando a forma como pensamos o futuro.
(*) CEO da Zühlke em Portugal
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