Por Pedro Xavier Mendonça (*)

A tecnologia digital não educa por si mesma. Educa acompanhada por educação. Isto é, a educação prepara-nos, com mais ou menos eficácia, para uma sociedade tecnológica. Quando a tecnologia digital educa é porque foi usada num ambiente educacional, contextualizada. Um quadro interativo não serve para nada se o professor não o enquadrar (literalmente, neste caso) numa prática de ensino-aprendizagem. Um quadro negro e um giz podem ser muito mais educativos se foram bem usados. E até podem servir melhor uma sociedade tecnológica, ensinando matemática, por exemplo.

O deslumbramento pela digitalização em contexto escolar apenas serve para concentrar a política educativa em meia-dúzia de soluções. Permite ainda a construção de discursos mágicos que rapidamente criam a ilusão da ação. Ao mesmo tempo que diversos organismos internacionais estimulam, acriticamente, o uso das tecnologias digitais no ensino, como a OCDE e a UE, algumas escolas pelo mundo fora, na prática, têm recuado na aplicação vanguardista de políticas educacionais monodigitais. Por isso, são de novo vanguardistas. Dez anos passados sobre o lançamento do Plano Tecnológico da Educação, é tempo de pensar antes num Plano Educativo para a Tecnologia.

Entendamo-nos. Não estou a defender uma posição primária tecnofóbica. Até porque a tecnologia está em tudo. Estou a falar da obsessão com o digital enquanto dispositivo automático de aprendizagem. A importância dos aparelhos informáticos deve ser medida não pela capacidade que terão de ensinar, mas sim pela necessidade da sua integração no sistema educativo enquanto conhecimentos a serem aprendidos, porque serão, eventualmente, essenciais para o exercício de uma profissão. Se forem usados como instrumentos pedagógicos, aí devem ser posicionados em estratégias compósitas, postura que exige um professor. Julgo que o problema está no papel que atribuímos à função técnica: ora como solução total, ora como tema e caracter social. Visto que faz parte da sociedade, a tecnologia, por isso, deve ser incluída no sistema de ensino - como conteúdo curricular, e não como força exterior que resolve os problemas por si só.

Dito isto, devemos olhar para a sala de aula de hoje. Vive-se aí uma competição, para não dizer uma guerra, com a tecnologia, em prol da atenção dos alunos. Os smartphones são sereias a cantar nas mãos dos jovens solicitando a atenção que os desconcentra da concentração que devem ao professor. Sim, os alunos devem concentração ao professor, tal como este lhes deve o despertar de interesse. As duas coisas têm que se alimentar com reciprocidade. Mas o professor, muitas vezes, vive um combate desleal, porque há mais apelos de interesses concorrentes do que vontade de haver um enfoque nas suas palavras, além de existirem mudanças culturais, ou tecno-culturais, que apelam a um desinvestimento na sala de aula.

Não os consegues vencer, junta-te a eles, dir-se-á. Uma das armas possíveis que os docentes podem usar neste combate é a utilização dos smartphones, tablets ou computadores portáteis na sala de aula. Com imaginação, esses dispositivos podem ser instrumentos úteis de aprendizagem, se aliados a métodos de trabalho pedagógicos. A diferença em relação a uma visão mágica do digital é que neste caso este é visto como mais um suporte, entre outros, e não como um conceito central que tudo aglutina.

É fundamental, não obstante, preparar os jovens e os adultos para uma sociedade cada vez mais digitalizada. E isso faz-se de duas maneiras: ensinando tecnologia, como referi; mas também aprendendo a perspetivá-la no seu devido lugar, em vez de, irrefletidamente, mergulhar num computador. Este segundo aspeto passa por reenquadrá-la também no campo da educação, sob pena de se substituírem os professores por máquinas impessoais, sem qualquer vantagem para o aluno.

(*) docente e investigador no ensino superior

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