Por José Pedro Fernandes (*)

O Dia Internacional do Trabalhador abre uma janela essencial para uma reflexão profunda, não só sobre os triunfos e avanços alcançados no mundo do trabalho ao longo da história, mas também sobre as direções futuras que o trabalho poderá tomar numa era de avanços tecnológicos sem precedentes.

A digitalização surge como um pilar central, com a inteligência artificial (IA), a robótica e a automação a liderar o caminho para uma transformação acelerada do ambiente de trabalho.

Esta reconfiguração da paisagem laboral, impulsionada a uma velocidade vertiginosa, pode inicialmente ser entendida como uma ameaça à estabilidade e segurança do emprego tradicional. No entanto, longe de ser um beco sem saída, esta evolução oferece uma oportunidade única para reconsiderar e reformular a forma como as nossas sociedades valorizam e estruturam o trabalho. Abre o debate sobre a necessidade de adaptar as políticas laborais e educativas para preparar a mão de obra para os empregos do futuro, muitos dos quais podem exigir novas aptidões e competências.

A Inteligência Artificial está a emergir como uma das forças mais transformadoras no local de trabalho contemporâneo, oferecendo o potencial para revolucionar a forma e o tipo de trabalho que realizamos. Ao automatizar tarefas repetitivas e morosas, a IA promete libertar os trabalhadores de cadeias de atividades monótonas e pouco inspiradoras. Isto abre a porta a que os trabalhadores dediquem mais energia e tempo a tarefas que exigem um nível mais elevado de pensamento crítico, criatividade e tomada de decisões estratégicas. Estas atividades não só são mais gratificantes a nível pessoal e profissional, como também são cruciais para o crescimento e a inovação nas organizações.

Normalmente, o avanço da IA e a sua capacidade de assumir funções tem tradicionalmente exigido a intervenção humana, levantando questões sobre o valor intrínseco do trabalho humano. Surgem preocupações sobre como podemos garantir que a tecnologia atua como um complemento às nossas capacidades humanas, melhorando as nossas competências e enriquecendo as nossas vidas profissionais, em vez de se posicionar como um substituto direto que poderia deslocar os trabalhadores e minimizar a importância do toque humano em muitas profissões.

A expansão da economia gig, caracterizada por empregos temporários e freelancers que operam como contratantes independentes, marca uma tendência crescente para uma maior flexibilidade laboral no mercado global. Este modelo de trabalho, potenciado pela digitalização e pelas plataformas em linha, permite aos trabalhadores usufruir de uma autonomia sem precedentes para determinar quando, como e onde querem trabalhar, oferecendo uma adaptabilidade que se alinha com as exigências de um estilo de vida moderno mais dinâmico e personalizado. A capacidade de escolher projetos que se alinham com os seus interesses e competências, bem como a capacidade de gerir mais eficazmente o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, são atrações claras deste sistema.

A melhoria do equilíbrio entre a vida profissional e familiar através da utilização de ferramentas que permitem aos trabalhadores gerir o seu tempo de forma mais eficaz não só aumenta a produtividade, como também melhora o bem-estar geral, assinalando uma evolução para um ambiente de trabalho mais humano e sustentável.

A implementação de plataformas integradas de gestão da força de trabalho e de análises avançadas de dados exige uma análise cuidadosa da privacidade e da ética.

A tecnologia deve servir para "humanizar o emprego". Esta visão capta o cerne do que deve ser o nosso objetivo na era da tecnologia: garantir que, ao procurarmos a eficiência e a inovação, não perdemos de vista os valores humanos. À medida que avançamos para este novo mundo do trabalho, é crucial que todas as partes interessadas - empresas, trabalhadores, governos e sociedade em geral - se empenhem num diálogo aberto e construtivo sobre a forma como podemos utilizar a tecnologia para criar um futuro do trabalho que seja não só mais produtivo, mas também mais justo, equitativo e humano.

(*) Vice-Presidente da SISQUAL® WFM