Por Ricardo Ferreira (*)
É hoje indiscutível que os dados são dos recursos mais valiosos aos olhos de qualquer empresa e, de modo a que o seu valor possa ser totalmente potenciado, devem ser reconhecidos como prioridade no seu quotidiano e operação. Mas em que medida é que esta realidade poderá ser afetada à luz dos recentes desenvolvimentos no setor da Inteligência Artificial (IA)?
Segundo um estudo recente conduzido pela McKinsey, a maioria das aplicações e utilização da IA é dirigida à otimização de operações e serviços da indústria. No mesmo estudo, 24% dos inquiridos afirma ter aplicado IA para melhorar e otimizar os seus processos, sejam eles backoffice ou o acompanhamento de clientes.
Este valor supera o das empresas que utilizam IA para acomodar novas funcionalidades nos seus produtos ou prospeção de novos clientes, fazendo destas novas tecnologias um ótimo aliado na minimização de custos e otimização de processos internos.
Mas, no que diz respeito à cultura de dados interna de uma organização, as metodologias baseadas em IA são apenas a ponta do iceberg – é necessário saber andar antes de querer correr! Este trajeto, que não deve ser descurado, inclui etapas como o estabelecimento de uma governance de dados reconhecida pelas diferentes funções que fazem parte da cadeia de dados; o desenvolvimento de metodologias que permitam facilmente integrar e recolher dados estruturados; e até mesmo planos de mentoria e educação das diferentes estruturas da empresa, no que concerne à literacia de dados.
Os processos que definem como os dados são usados, mas também como foram criados e geridos, permitem chegar a um nível de autoconhecimento do modus operandi do próprio negócio que tornará possível, de forma mais eficiente, analisar o estado da operação de uma empresa, identificar pontos de fricção e, eventualmente, dar o salto para a adoção de sistemas mais completos e inteligentes.
Podemos encontrar várias indústrias e empresas em Portugal que nos mostram como a utilização correta dos dados disponíveis, bem como os diferentes níveis de maturidade da cultura de dados, influenciam o suporte à eficiência das organizações.
Da saúde à banca tradicional, passando pelas fintechs e os call centers, há excelentes exemplos e casos de estudo que ilustram os benefícios de uma abordagem global, integrada e estruturada aos dados, sem perder de vista a necessidade de proteção e privacidade dos utentes e clientes dessas organizações, bem como a conformidade com as regras do RGPD.
Em qualquer destes setores extremamente competitivos, o resultado é uma clara mais-valia em termos operacionais, obtida pelo recurso à análise de dados internos, recolhidos durante as interações com utentes e clientes, bem como a aplicação de metodologias ligadas à IA.
Podemos também olhar para aquele que é o universo das startups no nosso país, mais precisamente para as que atingiram o patamar de “unicórnios”, para no meio dessa comunidade encontramos empresas cuja principal missão é utilizar dados para melhorar a eficiência dos seus clientes.
Também na indústria dos jogos online, setor em expansão no mercado português, a utilização dos dados com vista ao aumento da eficiência no quotidiano das empresas é evidente.
A oferta de produtos e serviços inteiramente online possibilita a recolha de dados sobre as preferências dos utilizadores e a forma como os jogos são jogados. Este ecossistema auxilia na tomada de decisão com base numérica, permitindo desde a simples monitorização de desempenho de um produto junto dos operadores (e, com isso, sugerir a adaptação do portefólio, com base em preferências dos jogadores, ou padrões de utilização), até ao teste de diferentes funcionalidades em plataformas distintas (mobile, laptop, desktop). À semelhança de outros serviços/produtos, o foco é apresentar uma experiência uma fluida possível, baseada em evidências cujos dados tornam cada vez mais claras e inequívocas.
Esta abordagem permite ainda uma validação baseada em evidência, observando-se o comportamento do jogador perante estas mudanças, o que leva a uma redução de operacionais em diferentes áreas da empresa, bem como a um menor “time-to-market” de muitos dos seus produtos.
São vários os exemplos onde a utilização correta dos dados apoia as organizações na melhoria dos seus processos internos e dos serviços prestados aos seus clientes. Esta realidade é válida para diferentes indústrias e níveis de literacia de dados, sendo que parte do caminho para uma maior eficiência nas organizações está em tratar a área dos dados como um pilar fundamental, para que possa desenvolver-se sustentavelmente e, de seguida, dar apoio a outras áreas críticas dentro das empresas.
(*) Business Intelligence Analyst da Evolution
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