Por Levi Figueira (*)

O FOMO - “Fear of Missing Out” ou medo de ficar de fora - é um síndrome psicológico com consequências reais no ser humano. Se por um lado pode estimular a curiosidade e a envolvência social, por outro pode ser nocivo para a saúde mental de qualquer pessoa. Estes efeitos visíveis levaram-me a questionar: como podemos atenuar os aspetos debilitantes deste fenómeno sem menosprezar os positivos? Neste texto deixo seis sugestões concretas extraídas da minha carreira e ligação à tecnologia.

Comecemos por desbravar o problema. O medo de ficar de fora (ou FOMO daqui em diante) é algo comum na nossa rotina. Pode ser o ímpeto que nos leva a sair de casa para um evento social ou o instinto que nos leva a subir uma aposta quando o jogo parece perdido. No fundo, é o medo de perdermos uma oportunidade.

Quando analisamos a presença e o impacto do FOMO nas decisões centrais da nossa vida, é fácil compreendermos o seu poder de influência. No universo da tecnologia, por exemplo, o ritmo de evolução é estonteante. Quer seja uma nova linguagem ou framework que ganha popularidade, um novo produto ou serviço lançado, ou uma tecnologia emergente que promete revolucionar o nosso trabalho, é fácil constatar a existência do FOMO e a forma como impacta a vida das pessoas.

Os profissionais envoltos no medo ficam presos num ciclo de aprendizagem contínuo, que pode ter um impacto mais leve, quando se torna num fator de constante distração, ou evoluir para estados mais sérios como o burnout ou a depressão.

Mas será que o FOMO é inevitável para quem trabalha em tecnologia? A resposta simples é “não”, mas há que ter um plano e muita intencionalidade para nos mantermos afastados dos aspetos mais nocivos deste fenómeno. Como em qualquer caso de saúde física ou mental, o primeiro passo deverá ser sempre consultar um médico especializado na área para diagnóstico e acompanhamento adequado à situação. Porém, há princípios e hábitos que nos podem ajudar a manter o discernimento e a lidar com o FOMO de uma forma mais saudável.

A saúde física e mental estão intrinsecamente ligadas, e isso faz com que qualquer decisão referente à saúde física tenha um impacto crítico na saúde mental. Uma dieta ajustada, a prática regular de exercício, e hábitos de sono estáveis e saudáveis são fundamentais para mantermos a mente na melhor forma possível.

Viver um dia de cada vez é outro princípio importante na manutenção do equilíbrio. “O futuro a Deus pertence” é uma frase muito utilizada em diferentes contextos e cheia de sabedoria. Se vivermos diariamente numa constante procura de otimizar tudo o que fazemos com base nas infinitas possibilidades que o amanhã nos pode trazer, vamos estar sempre preocupados com possibilidades que nunca se concretizarão e a descurar problemas reais que requerem a nossa ação hoje.

O maior envolvimento social surge como terceira arma neste combate ao FOMO. Reduzir o tempo passado em redes sociais, substituindo-o por tempo de socialização na vida real pode parecer difícil para algumas pessoas, porém o contacto humano é fundamental. A criação de laços ajuda-nos a ganhar estabilidade mental e emocional, e isso terá um impacto enorme nos períodos de dúvida pessoal ou profissional. A solidão é um dos maiores fatores causadores do FOMO.

Saber dizer “Não” é também decisivo no combate ao medo de ficar de fora, já que um dos fatores mais debilitantes do FOMO é o receio de negar qualquer oportunidade que surja. Aprender a reconhecer as nossas limitações (de tempo, atenção ou interesse) é algo extremamente poderoso para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional, com consequências tanto ao nível do foco como da confiança.

Ignorar a “relva do vizinho” é outra forma de mantermos o foco e evitarmos sensações de inferioridade. O “Síndrome Greener” refere-se à perceção de que a “relva do vizinho é sempre mais verde do que a minha”. Quando nos expomos a uma quantidade infinita de sugestões, ficamos com a impressão que os prados são mais verdejantes noutras paragens. Porém, os nossos prados serão mais verdejantes amanhã se tratarmos deles hoje. Deixemos de viver preocupados com a constante comparação, num sentimento de inferioridade, e investamos no presente e na expectativa de melhorarmos o nosso amanhã com o crescimento que construímos hoje.

O FOMO pode também surgir a partir de uma má escolha de carreira. Tech ou não? Eis a questão.
Vejo cada vez mais pessoas interessadas numa carreira em tecnologia, na esperança de melhorar a sua qualidade de vida, atraídas por salários mais altos e maior número de oportunidades de emprego. Com base na célebre frase de Confúcio - “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida” – questiono-me se esta será uma opção acertada para muitas destas pessoas. Nenhum trabalho será sempre um mar de rosas, mas escolher um trabalho apenas com base na sua compensação financeira pode rapidamente tornar-se numa “prisão” deprimente. Convém, por isso, ponderarmos seriamente cada escolha de vida ou carreira que fazemos.

Em jeito de conclusão, o FOMO pode ter efeitos positivos ou nocivos em qualquer profissional, mas também pode ser atenuado. Se voltarmos aos princípios fundamentais da vida, trabalharmos a estabilidade emocional e desenvolvermos a nossa intencionalidade na gestão da vida pessoal e da carreira, estaremos mais perto de superar o medo de ficar de fora e viver uma vida equilibrada, aumentando significativamente as nossas possibilidades de realização pessoal e profissional.

(*) Senior DevOps Engineer na Fabamaq