Por Francisco Jaime Quesado (*)
Agora que voltamos a ter em breve eleições surge novamente o tema do imperativo de dar passos estruturados conducentes à verdadeira consolidação de um Estado Inteligente no nosso país. Num tempo de mudança, em que só sobrevive quem é capaz de antecipar as expectativas do mercado e de gerir em rede, numa lógica de competitividade aberta, as pessoas lançam a questão e perguntam-se se cabe de facto ao Estado o papel de intervenção ativa na preparação do futuro ou se pelo contrário não caberá à sociedade civil a tarefa de reinvenção de um novo modelo de criação coletiva de valor centrado na participação e criatividade individual. Num mundo de incertezas, mais do que nunca se torna decisivo saber apostar numa nova relação entre o Estado e a sociedade, de forma a encontrar novas respostas para um tempo cada vez mais complexo.
São muitas as expectativas que se criam em relação ao futuro. Esta crise está a alterar por completo a forma de nos organizarmos em sociedade e de projetarmos um contexto de estabilidade relacional na nossa intervenção individual e coletiva. O processo de criação de valor envolve hoje outras variáveis e uma dimensão estrutural mais exigente e que nos vai obrigar a um sentido de inteligência coletiva mais forte e melhor percecionado por todos. O Estado tem que se assumir como a plataforma central de uma nova modernidade estratégica que seja a base sustentada de uma nova ordem competitiva assente num novo contexto de competência e confiança assumidos para o futuro. E as respostas a esta pandemia têm que assentar neste compromisso claro, bem percecionado por todos e que tenha um contexto de demonstração para a própria sociedade.
As perguntas que as pessoas lançam, a propósito da intervenção do Estado num contexto de incerteza em tempo de pandemia, correspondem sem dúvida a um sentimento coletivo de uma nova geração que cresceu e amadureceu numa sociedade aberta onde a força das ideias é central para o desenvolvimento da responsabilidade individual num quadro colectivo. A nova geração que ganhou dimensão global através da força dos instrumentos da sociedade digital acredita na felicidade e na justiça humana mas à custa duma adequada aposta na criatividade individual e no reconhecimento do mérito na criação de valor. Por isso, importa que se desenvolvam ideias que apresentem uma solução diferente para os próximos tempos do país. Precisamos de facto de um sentido de urgência na definição de um novo paradigma de organização em sociedade e de integração no mundo global. A oportunidade existe. Mas importa que haja respostas concretas.
A consolidação do papel destes novos atores entre nós passa em grande medida pela efectiva responsabilidade nesse processo dos diferentes actores envolvidos – Estado, Universidade e Empresas. Todos eles têm que nesta matéria saber estar à altura destas expectativas de participação / colaboração tão próprias da Sociedade Aberta atrás referida. Impõe-se neste sentido uma articulação adequada ente estes actores relativamente a um consenso estratégico à volta do adequado aproveitamento do capital de contribuição destes novos actores. Um desígnio de reinvenção que acelere uma verdadeira acção colectiva de mobilização de ideias e vontades em torno duma mudança desejada.
É aqui que entram os novos atores. Compete a estes atores de distinção um papel decisivo na intermediação operativa entre os que estão no topo e os que estão na base da pirâmide. Só com um elevado índice de capital intelectual se conseguirá sustentar uma participação consistente na renovação do modelo social e na criação de plataformas de valor global sustentadas para os diferentes segmentos territoriais e populacionais. Só assim se conseguirão desenhar uma mais do que necessária nova relação entre o Estado e a sociedade.
(*) Economista e Gestor - Especialista em Inovação e Competitividade
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