Por Miguel Oliveira (*)
À medida que entramos na era dos Grandes Modelos de Linguagem (LLMs), como o GPT-4, testemunhamos uma transformação paradigmática não apenas no âmbito da capacidade de fornecer respostas, mas também na arte de formular perguntas. Este fenómeno redefinirá o futuro da aprendizagem, da investigação e da criatividade, incumbindo-nos da tarefa de refinar as nossas perguntas para explorar de forma eficaz o vasto mar de informações disponíveis.
O êxito na aquisição de conhecimento e na solução de problemas está frequentemente interligado com a capacidade de encontrar respostas. Contudo, com a ascensão dos LLMs, a ênfase migra para a aptidão de fazer as perguntas certas. Esta mudança reflete uma evolução significativa na interação homem-máquina, onde a qualidade das perguntas formuladas determina a precisão e a relevância das informações recebidas.
Os LLMs incentivam-nos a ser mais curiosos, críticos e criativos. Desafiam a ir além da superfície, a questionar o status quo e a explorar perspetivas inexploradas. Esta competência de fazer perguntas eficazes torna-se uma ferramenta poderosa para a inovação e para o avanço do conhecimento.
A transição de um paradigma centrado em respostas para um focado em perguntas traz consigo implicações profundas para a educação, investigação e desenvolvimento profissional. Na educação, por exemplo, os LLMs podem ser utilizados para fomentar uma abordagem mais inquisitiva da aprendizagem, incentivando os alunos a desenvolverem perguntas que promovam um entendimento mais profundo dos conteúdos estudados. Na investigação, a capacidade de formular perguntas pertinentes e desafiadoras pode abrir novos caminhos para descobertas científicas.
Além disso, a transição para um modelo onde a ênfase está nas perguntas salienta a importância de outro tipo de competências cognitivas, como o pensamento crítico, o raciocínio abstrato, a curiosidade e a criatividade. Estas competências tornam-se ainda mais valiosas num mundo onde a capacidade de interagir efetivamente com a IA pode determinar o sucesso em várias esferas da vida.
No entanto, este novo paradigma também apresenta desafios, incluindo a necessidade de “reeducar” as pessoas sobre como formular perguntas eficazes, com clareza e especificidade para obter respostas úteis, refletindo a importância de uma comunicação precisa. Dominar a arte de fazer boas perguntas prepara as pessoas para um futuro tecnológico onde a busca por soluções se torna mais eficaz e direcionada. Imagine um estudante que, para entender conceitos complexos de matemática, ao invés de perguntar "O que é a teoria dos números?", aprende a formular perguntas como "Como posso aplicar a teoria dos números para resolver problemas práticos em criptografia?", obtendo assim respostas que não só explicam o conceito, mas também demonstram sua aplicação real, facilitando a aprendizagem e a aplicação do conhecimento.
Os Grandes Modelos de Linguagem (LLMs) estão a revolucionar a paisagem do conhecimento e da criatividade, mudando o enfoque da procura por respostas para a valorização da capacidade de fazer perguntas. Este paradigma desafia-nos a descobrir novas formas de aprendizagem e inovação. À medida que progredimos nesta era de questionamentos, é fundamental que aproveitemos a oportunidade de aprofundar a nossa compreensão do mundo que nos rodeia, formulando perguntas que nos conduzam a novas descobertas. As respostas que obtemos dos LLMs serão o espelho das perguntas que fazemos, sublinhando a nossa responsabilidade em moldar esta interação de forma consciente.
(*) membro da Direção Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses
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