Por Paulo Veiga (*)

Nos últimos seis meses, escreveu-se mais sobre transformação digital do que nos três anos anteriores. É normal que assim seja. A transformação digital está relacionada com uma mudança e a que estamos a experienciar, enquanto sociedade e organização das empresas, é algo a que nunca assistimos.

É verdade que o mundo é cada vez mais digital, mas nós ainda somos, tanto quanto sei, seres analógicos. O uso equilibrado da tecnologia é fundamental, ela nunca vai resolver todos os nossos problemas, até porque a imperfeição é bastante humana e os computadores só fazem o que lhes dizemos para fazer.

Esta digitalização do mundo tem, naturalmente, impactos brutais nas empresas. Os negócios continuam, mas o seu suporte mudou. Usamos cada vez mais plataformas e softwares para os operacionalizar e ficamos refréns das mesmas.
As organizações que desejavam ou planeavam a sua transformação viram-se obrigadas a fazê-la à “bruta”, procurando implementar mudanças que deveriam levar meses ou anos!

São muitas as organizações e indústrias que despertam agora para as oportunidades e outras tomam consciência dos perigos da transformação digital. Por estas razões, nunca é demais alertar para todos os cuidados a ter para implementar uma estratégia consistente de transformação digital na sua organização.

O primeiro tema a endereçar tem que ver com o objetivo, na procura da pergunta para a qual desejamos obter uma resposta. Todos sabemos que uma pergunta mal formulada dá origem a uma resposta descabida. Respostas erradas custam tempo e dinheiro às organizações. Portanto, um projeto destes deve ter um propósito definido e os benefícios e métodos da sua implementação devem estar claros para todos os intervenientes.

Em segundo lugar, esta estratégia tem de estar alinhada com o negócio e valores da organização. Depois de alinhar a estratégia de transformação digital com os valores da sua organização, o passo seguinte é garantir que esta vai ao encontro dos seus objetivos de negócio. Defina quais são esses objetivos e depois demonstre que conduzir a empresa para o digital é o caminho inevitável para atingi-los. Este alinhamento é imperativo para uma transformação digital bem-sucedida.

Em terceiro lugar, testar é fundamental, criar milestones e testar, testar, testar. Sabemos que durante esse processo vão existir ajustamentos e isso nem sempre é mau, antes pelo contrário. Identificar um problema em ambiente de testes não tem nada que ver com o mesmo já em produção.

Em quarto lugar, deveremos fazer uma análise SWOT do processo. Só assim poderemos avaliar corretamente os riscos e oportunidades associados ao mesmo.

O cálculo do esforço de cada um deles é fundamental para o êxito.

Finalmente, estes processos são feitos por pessoas e para as pessoas. Como tal, é preciso ter uma comunicação clara, objetiva e assertiva. Como sabemos, o ser humano, por natureza, é avesso à mudança. Um processo desta natureza, bem conduzido, trará consigo maneiras diferentes de realizar os mesmos atos e isto é desafiante para todos. Uma forte culta de pertença à organização é fundamental.

Em conclusão, há um oceano de oportunidades e parece evidente que a transformação digital traz consigo inúmeros benefícios para as organizações, mas todos têm de ser envolvidos e o projeto deve ser bem desenhado, caso contrário, pode representar um passo à retaguarda no desenvolvimento das organizações. Como costumo dizer muitas vezes, “brutal” é diferente de “à bruta”.

Gostaria de levar a sua empresa rumo à transformação digital? Porque não começar esta semana? A época do ano, em período de férias e reflexão, são duas boas razões para tal. Pense nos processos que são da sua responsabilidade, veja as suas ineficiências, fale com o chefe e avaliem se a “digitalização” pode ajudar e se estará em linha com o negócio, as pessoas e os valores da sua organização.

Lembre-se é importante correr, são assim os nossos tempos, mas temos de saber para onde!

(*) fundador e CEO da EAD – Empresa de Arquivo de Documentação