Por Mariana Delgado (*)

Durante muito tempo, dominar uma linguagem de programação, conhecer algumas ferramentas e ter raciocínio lógico apurado era suficiente para garantir uma carreira promissora na área tecnológica. Hoje, esse cenário mudou. As empresas procuram (e exigem) muito mais do que competências técnicas.

Embora o setor tecnológico continue entre os mais atrativos para os profissionais aos dias de hoje, é também um dos que enfrenta maiores desafios na captação de talento qualificado. Um estudo da Qibit, publicado em 2024, revelou que 47% das empresas têm dificuldade em recrutar profissionais para esta área.

Atualmente, saber programar é apenas o começo. Aquilo que realmente distingue os profissionais é a sua capacidade de comunicar, colaborar, adaptar-se à mudança e trabalhar em equipa: as chamadas soft skills. Contudo, estas continuam a ser subvalorizadas num meio onde o foco permanece maioritariamente nas hard skills.

A verdade é que, mesmo num contexto profundamente técnico, as competências humanas são cada vez mais determinantes. Trabalhar em tecnologia implica, hoje, diálogo constante com outras equipas, colaboração multidisciplinar e atenção às necessidades do utilizador final.

Um relatório da McKinsey (2024), indica que, até 2030, as as competências comportamentais representarão até 30% mais peso nas funções ligadas à tecnologia, especialmente em áreas como pensamento crítico, criatividade, empatia e capacidade para resolver problemas complexos. Este fator influencia diretamente o crescimento na carreira, não apenas em posições de gestão, mas também em funções técnicas que exigem iniciativa, partilha de conhecimento e atitude de liderança.

Neste contexto, a inteligência emocional ganha protagonismo. A capacidade de dar e receber feedback, lidar com falhas e crescer com elas é hoje tão valiosa quanto saber escrever código. Quem conseguir reunir as competências técnicas e comportamentais terá vantagens claras em termos de progressão e valorização profissional.

A mudança é real. Cada vez mais vemos empresas a apostar em programas de desenvolvimento pessoal, formações em comunicação e empatia, e processos de recrutamento centrados em comportamentos e valores. O mundo é, sem dúvida, cada vez mais tecnológico, mas esse mundo tech é, acima de tudo, feito de pessoas. De profissionais que saibam programar, sim, mas que saibam também relacionar-se com os outros e tirar o melhor partido destes dois mundos. Porque as linguagens de programação podem mudar, mas as soft skills ficam.

(*) Head of QiBit Portugal