O mercado de smartphones continua em evolução e as principais marcas procuram oferecer um modelo específico para gaming, embora as linhas de hardware que os separem da oferta convencional sejam cada vez mais estreias. Ou seja, os flagships de gaming já não são aqueles que introduzem as mais recentes gerações de processadores e memórias, mas sim a otimização personalizada para quem tenha os videojogos na sua prioridade de utilização. Neste caso, os modelos têm um design bem característico, mais agressivo e repleto de estilo, funcionalidades específicas como a introdução de gatilhos na lateral.
Mas há uma característica comum a todos os modelos de gaming: a otimização da sua temperatura. Os videojogos são os conteúdos que mais puxam por qualquer equipamento, seja o processador, memórias, GPU e armazenamento estão em constante “rotação”, o que faz com os equipamentos aqueçam. Isso torna-os mais lentos com a utilização, a bateria é consumida num ápice e o desconforto de manuseamento dos smartphones obriga a fazer pausas nas sessões de jogo.
Veja na galeria fotos do smartphone:
É nesse sentido que fabricantes como a Xiaomi com a linha Blackshark, a Lenovo com o Legion Y, o Nubia Red Magic e claro, os ROG Phone da Asus colocam a sua tecnologia de refrigeração como principal característica do equipamento, a sua autonomia e o ganho de processamento face a outros modelos. Isso porque sabemos que todos eles são equipados com o mais recente processador Snapdragon da Qualcomm ou que têm o máximo de memória RAM dos smartphones atuais.
Mais que um smartphone, um novo ecossistema de gaming
O novo smartphone de gaming da Asus, o ROG Phone 6 Pro que o SAPO TEK tem vindo a testar é realmente uma “besta” poderosa. É um equipamento enorme, mas nem por isso muito pesado (220 gramas), concebido para jogar com as duas mãos, mas otimizado para ser manuseado apenas com uma. Este ano a Asus decidiu que a sua linha principal, o Zenfone 9 fosse propositadamente pequeno, fazendo um grande contraste e uma reviravolta das tendências dos equipamentos.
Não fosse um smartphone ROG (Republic of Gamers), a Asus apresenta um modelo esteticamente “hi-tech”, com um design que transpira a gaming, sendo altamente apelativo a começar na própria embalagem. A sua caixa tem uma forma de obelisco, abrindo-se na vertical, revelando o equipamento como que guardado numa urna de um monumento.
Um cartão de plástico salta à vista, encaixado na tampa e trata-se no fundo de um convite para os utilizadores se juntarem à “República”. O cartão serve mesmo como trigger para ativar conteúdos de realidade aumentada no smartphone, transportando o utilizador para um ambiente de gaming tridimensional, semelhante aos cenários que a Asus tem utilizado nas suas apresentações e comunicações de equipamentos para videojogos. A caixa é tão apelativa, que certamente a vai querer guardar para colocar na estante como objeto decorativo.
Já o smartphone apresenta-se com linhas curvas e cantos arredondandos, confortável de agarrar, mesmo apesar do seu tamanho. De salientar esteticamente a sua traseira, um painel branco com o módulo de câmaras fotográficas no topo, mas o destaque vai para as suas linhas decorativas e os mostradores LED. Um deles apenas ilumina a mensagem “Dare to Play” (atreve-te a jogar) sempre que acorda o smartphone e que pulsa mediante a utilização. O outro é um pequeno ecrã LED com mensagens de Republic of Gamers mas que pode ser configurado para apresentar notificações, por exemplo.
No geral, tem um design que promete não deixar ninguém indiferente e com proteção Gorilla Glass Victus e cantos em molduras de metal, caso deixe o equipamento cair ao chão. E segundo a empresa, o smartphone tem certificação IPX4, ou seja, proteção contra derrames ou gotas de água, mas não o pode mergulhar.
E o melhor é que quando se prime o botão de energia e se liga o equipamento, os motivos do ecossistema de gaming continuam ao nível do grafismo dos menus, sons e animações em geral dos tutoriais. É uma mensagem direcionada ao público gaming que outros utilizadores podem ficar confusos até se adaptarem, mas provavelmente se não for gamer também não deverá ter grande interesse num equipamento semelhante.
Sendo um smartphone para gaming, nada como testá-lo com alguns dos títulos mais exigentes disponíveis, incluindo Apex Legends, New State Mobile, o já inevitável Asphalt 9, o recente MMO Noah’s Heart e o mais recente título a chegar ao mercado Tower of Fantasy. Os jogos correram sem problemas, mostrando que as produções para smartphones são cada vez mais complexas. Apex Legends é um battle royale tático, mas oferece uma experiência de imersão e diversão já bastante próximo das respetivas versões para PC e consolas. A grande diferença é toda a remodelação de interface para se adaptar aos smartphones.
E é nesse campo que a Asus continua a apostar nos AirTriggers, sensores colocados na lateral do smartphone, posicionados como se fossem gatilhos de um comando das consolas. Não se trata de uma novidade neste tipo de equipamentos para gaming, mas ao contrário dos rivais que optam por botões físicos, o ROG 6 são sensores sensíveis à pressão. A pressão pode ser regulada mediante a sensibilidade que desejar e identifica movimentos de deslizar do dedo nos mesmos, que podem ser personalizados individualmente mediante o que desejar. E é impressionante a resposta dos mesmos, juntamente com o efeito sonoro e o breve trepidar de feedback do equipamento. E quando não se está a utilizar, é como se os botões “não existissem” no equipamento. Também pode utilizar o sensor de movimentos e giroscópio como opções de controlos.
Mais tempo de uso, menos aquecimento
De considerar que os smartphones de gaming da Asus oferecem acessórios como comandos que podem ser encaixados e transformar o equipamento como uma espécie de Switch, da Nintendo. Apesar de não termos recebido o acessório para testar, outras marcas estão a apostar nos smartphones e a oferecer alternativas destes periféricos. E é uma experiência a realçar para quem prefere botões e sticks analógicos físicos, aos sistemas virtuais através dos painéis táteis dos ecrãs.
O que a Asus introduziu para o ROG Phone 6 Pro é a nova versão do periférico Aeroactive Cooler, a ventoinha externa que pode ser encaixada na traseira do smartphone, ligado ao seu USB-C lateral. Esta versão é também menos complicada de montar que a versão do ano passado, em menos de dois segundos.
Veja imagens oficiais do smartphone:
De ter em conta que o equipamento mantém a entrada USB-C na parte inferior, para carregamento, mas um segundo na lateral para encaixar o periférico. A possibilidade de escolher a qual das portas USB ligar o cabo de alimentação garante maior conforto de carregamento enquanto joga.
O acessório oferece diversas funcionalidades, além de ajudar a manter o smartphone refrescado, sobretudo no seu exterior, ajudando a dissipar o ar quente que sai do interior. Este pode também ser utilizado como suporte de moldura. Pode pousar o smartphone para jogar ou simplesmente assistir a um filme ou série sem estar a agarrá-lo. Além disso, introduz quatro botões físicos na traseira do equipamento que podem ser configurados nos jogos.
E o Aeroactive Cooler oferece pass through, ou seja, mesmo que a entrada seja ocupada, vai manter-se disponível para ligar outro acessório, como um comando externo, por exemplo ou claro, o carregador. Ainda assim, se o utilizar como moldura, a entrada está alocada na lateral que fica virada para baixo, pelo que fica tapada pela superfície onde pousa o equipamento.
Apesar de aumentar o volume do equipamento, não há duvida que o Aeroactive Cooler dá um ar ainda mais profissional ao setup do smartphone, destacando-se os seus LEDs luminosos e o símbolo da ROG projetado. No entanto, prepara-se para um aumento de barulho, pois sendo uma ventoinha externa vai senti-la sempre a funcionar. Mas considerando que é um equipamento de gaming, estar de auriculares ou mesmo com o som das colunas ativo conseguem disfarçar o mesmo.
De notar que mesmo sem o acessório da ventoinha externa, estamos perante um smartphone construído para ser utlizado por diversas horas seguidas a jogar, mantendo a sua temperatura controlada. E isso notou-se durante o teste, numa das sessões de jogo de cerca de duas horas, alternando entre os títulos testados, que o equipamento nunca se tornou desconfortável nas mãos, ao contrário dos smartphones convencionais, como por exemplo o Zenfone 6 que ainda utilizo que sobreaquecem rapidamente.
Isso deve-se à sua nova estrutura térmica no interior que a Asus procurou como missão principal puxar o calor dos seus componentes vitais, aqueles que estão sobrecarregados como o processador, memórias e armazenamento. A empresa já tinha explicado que usou um composto utilizado na indústria da aviação e automóvel elétrico no interior, que foi projetado para absorver até 10º graus adicionais, o que é uma diferença notória na prática. Dessa forma, o calor é dissipado pelo equipamento, através da sua câmara de vapor que foi aumentada em 30%, segundo dados da fabricante, procurando dessa forma percorrer todos os recantos do smartphone.
Mas com o acessório Aeroactive Cooler, o calor não existe, pelo menos na traseira do equipamento. No papel a Asus tinha prometido uma diminuição até 25º o aquecimento do novo smartphone e pode ser afinado na sua app dedicada.
Hardware topo de gama
Obviamente que uma das vantagens da nova geração de chips da Qualcomm não é apenas maior capacidade de processamento. A redução de energia e consumo de bateria pela sua otimização são fatores que estão a ajudar na performance dos smartphones. E não há dúvida que isso é visível no Snapdragon 8+ Gen 1 que equipa o ROG Phone 6, juntamente com o GPU Adreno de nova geração. A nível de hardware não existe nada mais poderoso no mercado, opções que estão a ser atualizadas nos equipamentos de topo de outras fabricantes.
E tal como os mais recentes smartphones, este equipamento conta com 18 GB de RAM, mais que muitos portáteis de gaming lançados no mercado. A sua bateria é também “monstruosa” com 6.000 mAh, ou como a empresa tinha explicado, são duas baterias de 3.000 mAh divididas pelo equipamento, suportado por carregamento rápido de 65 W. Seja pela rapidez de carregamento ou autonomia do equipamento, não me lembro de ter ficado nunca sem energia durante o teste.
É difícil puxar pelo hardware num novo smartphone, porque está “virgem”, sem muitas aplicações a consumir recursos. Mas é possível verificar que os jogos testados “voaram” em termos de performance. Sendo de longe mais poderoso que uma Nintendo Switch (até porque a consola híbrida tem cinco anos de vida e já não foi lançada com especificações de topo), é possível ter uma ideia da performance dos jogos, sejam eles de condução, FPS, battle royales ou MMOS, os géneros testados nesta análise.
A consola do Armor Crate oferece diversas opções rápidas e gestor com perfis individuais para cada jogo, além das devidas monitorizações de temperatura do GPU e CPU. Aqui também pode configurar rapidamente a capacidade do smartphone em termos energéticos, desde o Modo X para melhor desempenho do jogo, o Dinâmico para um desempenho otimizado para o dia-a-dia ou o Ultra Durável, quando o objetivo é preservar o máximo possível a energia. Cada opção tem diversas funcionalidades, desde a configuração da iluminação do equipamento à gestão automática da mudança entre as redes 4G e 5G, para dar alguns exemplos. E no caso de ter o periférico de ventoinha ligado, pode aceder ao Modo X Plus, para puxar ainda mais pelo sistema.
O smartphone apresenta um ecrã com uma imagem cristalina e cores vívidas, assim como excelentes contrastes num AMOLED de 6,78 polegadas. A fluidez das imagens nos jogos deve-se à sua taxa de refrescamento de 165 Hz (a versão anterior tinha 144 Hz), numa resolução máxima de 1080p. Pode optar por taxas de refrescamento físicas ou automáticas, que se adaptam aos conteúdos. O Touch Sample é de 720 Hz, o que confere uma experiência háptica muito agradável não só quando está a jogar, mas na navegação em geral pelos menus. Todos os mimos tecnológicos de imagem estão presentes, incluindo HDR10+, cores a 10-bit.
De considerar que o sensor biométrico de impressões digitais se mantém alocado em baixo do ecrã, sendo bastante rápido a desbloquear. Mesmo que não acerte no local correr para a leitura, a área ilumina-se, conduzindo o dedo até estar habituado.
O smartphone oferece um jack 3,5 mm para ligar auscultadores por fio, o que por norma são utilizados no gaming, sobretudo para não incomodar quem está no redor. Mas neste modelo o som das colunas é realmente muito bom, nítido e sem distorções, seja a jogar como a ouvir música ou a assistir a vídeos. O equipamento tem duas colunas colunadas em cada extremidade do equipamento, viradas para a frente, o que ajuda a projetar a potência do áudio.
A Asus já tinha falado no seu sistema de virtualização de espaço espacial e otimização GameFx Audio, mas independentemente dos termos utilizados, o resultado é um dos melhores sistemas sonoros que testei num smartphone. E claro, através das opções de som, os puristas podem definir os baixos e graves, num pequeno equalizador.
A fabricante oferece o seu próprio design no sistema operativo sobre o Android 12. Inicialmente é complicada a adaptação de executar tarefas como comutar entre aplicações e fechá-las, descartando os habituais símbolos dos sistemas Android. Tudo funciona com swipes para as laterais e chegou mesmo a aborrecer querer sair de um jogo e o sistema parecer não responder, porque não estava a fazer corretamente. É preciso uma habituação, embora se quiserem, podem optar pelo formato convencional do sistema operativo. E o layout Game Genie disponível em cima dos jogos, garante o acesso rápido a diversas opções, desde a desativação de notificações e chamadas enquanto jogam, alterar o brilho ou captar em vídeo o gameplay.
Módulo fotográfico apetrechado
Quem compra um smartphone para gaming certamente não terá as câmaras fotográficas como principal prioridade e as fabricantes sabem disso, cortando por norma nas respetivas especificações. Mas isso não significa que este equipamento não tenha um bom módulo com três sensores. O principal é uma câmara alimentada pela lente Sony IMX 766, utilizada nos equipamentos topo de gama atuais. Junta-se uma ultra grande angular de 13 MP e uma macro de 5 MP. A câmara frontal é de 24 MP e tem qualidade para poder fazer streamings enquanto joga, por exemplo.
A qualidade das fotografias é muito boa, pelo menos para o uso diário, nas partilhas para as redes sociais ou mesmo para alguns trabalhos. De notar os detalhes e cores nas fotos captadas na natureza, as texturas dos ramos e flores, mas até o pelo de animal. O zoom é relativamente bom, garantindo captar imagens a 8X, embora na aproximação máxima seja para evitar, por destorcer os objetos. O modo Portrait já é uma função obrigatória para quem deseja captar fotografias de pessoas com o fundo desfocado, no seu efeito bokeh.
E os close ups com a macro que experimentámos também ofereceram detalhes interessantes e cores apuradas. Se procura captar fotos de noite ou em locais menos iluminados, o equipamento é igualmente competente, aliás, a Asus sempre procurou refinar os seus algoritmos para reduzir o máximo de ruído nas imagens noturnas. O modo Trilho de Luz serve para criar fotografias mais artísticas jogando com efeitos de luz e movimento, sejam carros a passar na estrada de noite, a água em cataratas, multidão de pessoas a circular ou noites repletas de estrelas. O que o sistema faz é processar diversas imagens, criando uma composição estática de elementos em movimento com menos desfoque possível.
Veja na galeria fotos captadas com o módulo fotográfico do smartphone:
Se precisar de gravar vídeos, este sistema não o vai deixar mal. Pode gravar a 4K a 60 FPS com o módulo principal e até mesmo a 8K, embora o framerate máximo seja de 24 fotogramas. O estabilizador de imagem HyperSteady garante vídeos sem tremer e com qualidade bastante aceitável. Nas opções da câmara vai encontrar diversas funções, manuais ou automáticas, que permitem melhorar a experiência, sobretudo para utilizadores que não tenham muito jeito para registar o mundo em redor.
A nível geral, a Asus não se limitou apenas a construir uma máquina de jogos em forma de smartphone adicionando-lhe os componentes topo de gama do mercado. O pedigree de gaming da fabricante e a experiência da linha ROG significa a otimização geral a nível de software e aplicações. Muitos dos elementos que vemos no ecossistema de computadores de gaming são diretamente aplicados no ROG Phone 6 e por isso, apesar do mercado oferecer outras alternativas igualmente poderosas, o packing geral é bastante completo. Por isso, caso procure um smartphone poderoso para gaming e esteja disponível a pagar os 1.329 euros por este modelo Pro (existe uma versão standard), certamente vai ficar bem servido. Até porque o equipamento tem um design lindíssimo na sua traseira graças aos pequenos ecrãs e LEDs.
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