A Nintendo introduziu no mercado a Switch, um conceito híbrido de uma portátil e uma consola doméstica. O seu formato foi revolucionário, tornando-se um sucesso que tem vindo a inspirar as diversas fabricantes a introduzir diversos clones. Os smartphones passaram a ter acessórios encaixados, simulando os Joycons da Switch e outras fabricantes arriscaram em lançar consolas dedicadas totalmente ao cloud gaming, como a Logitech e a Razer. Mas são consolas que não acrescentam muito ao que é possível fazer com um tablet ou smartphone.
Foi preciso esperar pela Valve para introduzir no mercado o Steam Deck, que no último ano tem feito as delícias dos jogadores PC, pela sua portabilidade. Por um lado, porque apresenta o mesmo formato híbrido da Switch, por outro, porque oferece a possibilidade de jogar todo o catálogo de jogos da Steam. Rapidamente as produtoras abraçaram o modelo e têm vindo a otimizar os seus títulos para correr na portátil.
Depois das Steam Machines, que basicamente eram computadores em formato de consola, que nunca tiveram grande adesão, a Valve acertou na fórmula do Steam Deck, que passou a ser a melhor alternativa à Switch, uma máquina que pode ser utilizada com a biblioteca de jogos PC. No entanto, esta portátil foi mesmo criada para ser uma consola, optando por um sistema operativo próprio, o SteamOS, baseado em Linux. É possível instalar o Windows 11 e com isso o Game Pass e outras aplicações de jogos, mas não é algo imediatamente acessível, sendo preciso dar algumas voltas para o conseguir.
A estreia do poderoso processador AMD Ryzen Z1 Extreme
É neste contexto que a Asus revelou a sua proposta, a ROG Ally (que significa “All Your Games”). A fabricante é especialista em computadores, acessórios e componentes de gaming, inclusivamente tablets com especificações de meter inveja a muitos computadores de topo, como é o caso do ROG Flow. A sua resposta ao Steam Deck pretende elevar o gaming em portáteis a um próximo nível.
Isto porque a consola estreia a nova classe de processadores da AMD, o Ryzen Z1 Extreme a 3,30 Ghz. Este processador foi desenhado especificamente para consolas portáteis, marcando a sua estreia no ROG Ally, o que significa que outras fabricantes poderão começar a oferecer as suas próprias soluções baseadas neste novo hardware.
Olhando ao detalhe, o chip foi construído com base na arquitetura Zen 4, de 4 nanómetros, e gráfica baseada em RDNA 3, ou seja, utiliza a mesma base que os mais recentes processadores e GPUs da AMD, suportando diversas tecnologias, incluindo FSR (o sistema semelhante ao DLSS da NVidia, que ajuda na performance das placas gráficas através de IA). No caso da versão Extreme do processador, este apresenta 8 núcleos e 16 threads, o que o torna uma autêntica “besta” compacta.
A Asus vai lançar durante o terceiro trimestre do ano uma versão mais “light” da consola, suportado pela variante standard do processador Ryzen Z1, com 6 núcleos e 12 threads. No campo técnico, ambos os processadores utilizam tecnologia de upscalling AMD FidelityFX Supere Resolution e AMD Radeon Super Resolution, no processamento gráfico dos jogos.
E se calhar já se perguntou: é mais potente que o Steam Deck? Sem dúvida. A consola da Valve já tem um ano no mercado, o que infelizmente se traduz numa desatualização face á nova tecnologia. A arquitetura do Steam Deck é de segunda geração, o Zen 2 e gráficos RDNA 2, com metade dos núcleos e threads do que o Ryzen Z1 Extreme que equipa agora o ROG Ally. Ambos apresentam as mesmas soluções de memória, ou seja, 16 GB de RAM LPDDR5, o que é mais que suficiente para a maioria dos jogos atuais.
Veja na galeria imagens da Asus ROG Ally
E tem 500 GB de armazenamento interno PCIe Gen 4. Este espaço é pouco para os jogos atuais mais complexos e pesados. Bastam três ou quatro dos jogos AAA mais complexos da atualidade, que ocupam cerca de 50 GB, para ficar sem espaço na consola, até porque parte da sua capacidade é ocupada pelo sistema operativo e respetivas aplicações. No entanto, tem uma bem-vinda ranhura de cartão MicroSD, permitindo expandir a sua capacidade, o que será certamente um bom investimento. Por outro lado, tal como no Steam Deck, pode aceder à traseira, desapertar os parafusos e expandir o armazenamento.
A consola tem um generoso ecrã IPS tátil (multitoque de 10 pontos) com 7 polegadas, com uma resolução nativa de 1920x1080. E conta com uma taxa de refrescamento de 120 Hz, tecnologia FreeSync Premium e brilho de 500 nits, tornando-se ideal para jogar em ambientes no exterior. Tem um tempo de resposta de 7 ms, 100% compatível com as cores sRGB e suporta Dolby Vision HDR.
A Asus salientou que a consola tem um sistema de arrefecimento Zero Gravity da ROG, utilizando duas ventoinhas, em conjunto com dissipadores de calor ultrafinos e “heat pipes” de alta fricção. Na prática, e durante a minha experiência com a consola, nunca senti desconforto nas áreas onde se agarra. O plástico é rugoso e confortável, nunca aquecendo durante a sua utilização.
Mas o ar quente é projetado pelos exaustores no topo da consola, onde estão os botões de energia, volume e entradas de cabos. Aqui vai sentir o calor a sair, mas onde se tornou mais intenso foi no ecrã, que aquece demasiado. Há um sistema de monitorização da performance da consola, que mantive sempre ativo, que inclui informação da sua temperatura. Não foi difícil estar com a consola a mais de 80 graus, sobretudo nos jogos mais exigentes, em ambientes interiores de casa.
Uma coisa é certa, não se ouve qualquer ruído a sair dos exaustores da portátil, ao contrário dos computadores de gaming, que quando abrem as “turbinas” não se consegue estar por perto. Independentemente do calor e da velocidade das suas ventoinhas, o sistema é realmente muito silencioso.
Consola portátil é um Mini PC com Windows 11
Um aspeto a ter em conta é que a consola é suportada pelo Windows 11, ou melhor, foi construída em torno do sistema operativo da Microsoft, tendo inclusivamente recebido suporte da gigante tecnológica. E trata-se da mesma versão completa que encontrará em qualquer computador desktop, com todas as vantagens inerentes, e claro desvantagens, tais como ter recursos ativos em fundo que provavelmente não precisaria, a gastar bateria do equipamento.
Isto quer dizer que a consola permite jogar, literalmente tudo o que tiver no seu computador. Aceder não só à biblioteca do Steam, como também do Game Pass (a consola oferece três meses deste serviço), da Epic Games, Battle.net ou qualquer outro serviço onde tenha adquirido jogos, incluindo apps Android. Basta apenas instalar as aplicações (launcher) e os respetivos títulos. Para o teste experimentei o Steam e Game Pass e a experiência foi semelhante ao PC, exceto os menus minúsculos das aplicações, que obrigavam a tocar no ecrã tátil ou então mudar para o modo cursor, controlado com o analógico. Não é problema da consola, apenas o sistema operativo, por não ter uma versão adaptada a ecrãs deste tamanho. Também pode emparelhar um teclado e rato wireless, se preferir.
Fui um pouco mais longe e cheguei a instalar o Remote Play da PlayStation para jogar títulos da PS5 em streaming. Funcionou como esperaria, exceto o comando da consola não ser reconhecido, o que obrigou a configurar externamente um DualSense. Mas isto para mostrar que o ROG Ally é um PC muito compacto, com um formato de consola portátil. E isso pode dizer muito sobre o futuro deste segmento.
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O design da consola é bastante minimalista, apresentando-se num tom branco, mas cheio de relevos alusivos às linhas da ROG. O layout da consola é inspirado no comando da Xbox Series X, incluindo os dois botões de funções. Tem os habituais gatilhos e “bumpers”, neste caso com design prolongado, mas apelativo e bem confortável ao encaixe dos dedos. E como extra, tem dois gatilhos alocados na traseira, como os comandos Pro, que permitem ser configurados como o jogador entender. Estes botões estão alinhados na concavidade das pegas do comando, de fácil acesso, mas sujeitos a serem premidos inadvertidamente em momentos mais quentes da ação. A consola é mais pesada que um típico tablet, pensando cerca de 600 gramas, mas não senti desconforto a jogar.
Na parte superior conta com uma entrada USB-C, que serve para ligar o cabo de alimentação e os botões de volume. Além de suportar a entrada de auscultador, de cartão MicroSD UHS-II (suportando diversos formatos de cartão como SD, SDXC e SDHC), a Asus não deixou os seus créditos em mãos alheias e oferece uma entrada ROG XG Mobile. Com esta entrada pode ligar uma placa gráfica externa até GeForce RTX 4090 – apenas a mais potente do mercado. São acessórios que os entusiastas de tecnologia vão querer certamente experimentar, mas pouco amigo das carteiras. Além de perder, claro, o fator de portabilidade.
A consola conta ainda com dois botões adicionais para funções da Asus. O primeiro é o atalho para o Armory Crate, que se trata de uma aplicação que reúne num único lugar todos os jogos instalados, sejam eles do Steam ou outro serviço. Este HUB reúne ainda todas as funcionalidades da consola, desde a configuração das luzes LED Aura Sync dos anéis em torno dos analógicos.
Também pode selecionar as funções e aplicações a adicionar ao menu rápido, no outro botão dedicado. Por exemplo, alternar rapidamente entre 60 e 120 Hz da taxa de refrescamento do ecrã, mudar a resolução entre 1080p a 720p, alternar entre o modo de desempenho e Turbo, ou outras funcionalidades como captura de ecrã, ativar o modo AMD RSR ou fazer a limitação de FPS dos jogos. Tudo com apenas um toque. As funções deste menu podem oferecer afinações rápidas nas definições que vão melhorar a performance dos jogos.
O ecrã é protegido por Gorilla Glass Victus, prometendo uma maior proteção contra as quedas. E é sempre necessário precaver o efeito da gravidade, uma vez que a consola não tem correia de prender ao pulso. De salientar que a consola tem um sistema de feedback háptico, vibrando nos momentos-chave dos jogos, como sentimos nos comandos das consolas. Tem também giroscópio de seis eixos, para os jogos ou apps que suportem a tecnologia.
Por falar nisso, não é possível retirar as extremidades dos comandos, como na Switch, o que significa que partilhar a consola, para uma partida cooperativa com um amigo é impossível neste formato. E isso continua a salientar a engenharia da Nintendo e a sua prioridade de oferecer experiências familiares. Obviamente que pode colocar a consola na mesa, emparelhar comandos wireless e jogar os mesmos títulos que suportem multijogador.
O desempenho com os jogos
Sendo uma máquina para jogos, o que é mesmo importante é o desempenho dos títulos. E pode-se dizer que este pequeno “monstro” não desilude. Se esperam jogar com os detalhes em ultra, a uma resolução de 1080p a 60 FPS, estão na consola errada. Os jogos em geral ainda não foram otimizados para correr nestas configurações, mas sim para os demais computadores portáteis e desktop. E ainda assim, o desempenho superou as expetativas, sobretudo no modo Turbo ligado à corrente. Tal como qualquer outro portátil, jogar em modo bateria reduz drasticamente a performance dos jogos.
A Asus diz que já tem parcerias com diversas editoras para otimizar os seus jogos para a ROG Ally, como a própria Microsoft Game Studios, Capcom, 505 Games, Techland, Team 17 e outros estúdios. E por isso será uma questão de tempo até mais jogos começarem a ser otimizados com esta máquina (ou formato) em mente, tal como tem acontecido com o Steam Deck, que merece uma certificação própria.
Ainda assim, não tive problemas em correr Marvel’s Spider-Man com um framerate decente de 40 FPS em médio, aumentando com as definições inferiores. E ainda assim o jogo manteve-se bonito, para o pequeno ecrã. Considerando que jogamos a maior parte dos jogos da Switch a 720p e a 30 FPS, a sua performance a 1080p é consideravelmente superior. E isto, quando estamos a falar em jogos que puxam pelo sistema. Experimentei Forza Horizon 5 e não houve qualquer soluço, revelando-se um luxo de jogar em modo portátil o famoso título de condução da Microsoft.
Jogos menos exigentes como Hi-Fi Rush revelou-se igualmente fluído, com uma latência praticamente inexistente. Este talvez tenha sido o jogo com o melhor desempenho dos testes. Poderia ter continuado a instalar mais jogos que puxam pelo sistema, mas mudei o teste para um ambiente de utilização contínua. Ou seja, em vez de andar a instalar e desinstalar mais jogos para perceber se corriam (todos correm), instalei Yakuza Kiwami 2, título onde fiz os testes de performance prolongada. Mais uma vez, este ROG Ally respondeu positivamente, fazendo-me esquecer que estava perante uma portátil. A qualidade de imagem do ecrã, a fluidez da jogabilidade, revelou-se um bom companheiro durante os vários serões de teste.
Autonomia deixa a desejar no geral
Dependendo das configurações, praticamente todos os jogos correm sem problemas nesta máquina, mesmo que tenha de configurar nas definições aquelas que aumentem a sua performance, nada que um jogador de PC não esteja habituado. Obviamente que este tipo de configurações retira o conceito plug and play típico das consolas, mas é de recordar que a Ally é um PC Windows em formato miniatura, com um design de portátil de jogos. Mesmo a nível de segurança, no topo da consola tem um sensor de impressões digitais, caso utilize a consola para além de jogos, utilizando a autenticação Windows Hello.
As configurações também vão decidir se a bateria é para durar mais ou menos tempo. E esta pode ser o calcanhar de Aquiles, como qualquer computador ou consola portátil. A autonomia deixa um pouco a desejar nos jogos convencionais AAA, ou seja, os mais complexos e exigentes. Como referi, uma sessão de Yakuza permitiu jogar durante 1h40, o que é muito pouco para quando estamos fora e não temos uma tomada por perto.
Claro que reduzindo definições, o brilho e se optar por jogos indie mais simples, menos exigentes a nível de hardware, certamente que vai manter a consola ligada por mais tempo. Mas a média dos testes foi entre 1h30 e 2 horas de autonomia, no máximo. Pode durar mais horas se tiver a ver filmes ou vídeos no YouTube, claro. E obviamente que ter o Windows 11 puro, certamente com diversas funções desnecessárias a correr em fundo, também não ajuda na performance e autonomia.
O seu adaptador de corrente é de 65 W, alimentando a consola por USB-C. Mas se optar por jogar enquanto está a carregar, o carregamento é demasiado lento. Senti que a energia “puxada” pela consola com o peso do jogo não compensa o recarregamento.
O som da ROG Ally é bastante potente. As duas colunas com tecnologia Dolby Atmos oferecem uma qualidade de som superior, salientando as explosões, os diálogos e as melodias dos jogos. Mesmo ao nível de consumo multimédia, esta pequena consola mete bastante respeito, seja a ver um vídeo no YouTube ou uma série no Netflix. A Asus refere que utiliza uma tecnologia de amplificação inteligente do som, justificando-se assim a qualidade adicional. A portátil tem um sistema de microfone Array incorporado e tecnologia de cancelamento de ruído, caso precise comunicar online. Faltou-lhe apenas a inclusão de uma webcam no equipamento, o que o tornaria ainda mais completo, a nível de multiuso.
Pode utilizar o pequeno acessório que serve de base à consola, mantendo-a em forma de moldura. Trata-se de um pedaço impresso a 3D com material reciclado, apenas para segurar o equipamento numa mesa. A ausência de uma dockstation oficial, para já, vai certamente abrir oportunidades para fabricantes independentes criarem os seus acessórios para a consola.
Senti a ausência de uma saída HDMI, de forma a projetar os conteúdos num ecrã maior. A Asus optou por transferir as conexões para o acessório ROG Gaming Charger Dock (adquirido à parte), de forma a manter a consola alimentada e ligada a um televisor, por exemplo. Por outro lado, a saída USB-C 3.2 Gen2 suporta DisplayPort 1.4, suportando dessa forma monitor. Mas precisa de um HUB USB, caso queira manter a consola alimentada e conectada a outros periféricos por fio.
Poderá ligar a consola a uma rede Wi-fi 6E, ideal para transferir os jogos a maior velocidade ou para manter uma menor latência durante as partidas multijogador online. Ou claro, para aceder aos serviços de cloud gaming disponíveis no mercado.
Tal como o Steam Deck, a Asus refinou a fórmula do gaming de PC em formato portátil. Apostando todas as fichas no mesmo ecossistema Windows 11 dos seus computadores portáteis. E é um pequeno luxo poder aceder à extensa biblioteca de jogos do Steam e Game Pass (entre outros), num pequeno (grande) ecrã com uma qualidade de imagem muito boa e um som impressionante. Apesar de não ter a mesma experiência plug and play de uma Switch, beneficia da familiaridade de utilização de um computador pessoal com Windows 11.
Mas ter um PC de “topo” em formato portátil é um luxo com um preço a pagar: 799 euros para esta versão mais poderosa (ainda não há preço da light). Ainda assim, é bem mais cara que a versão de topo do Steam Deck, que custa 679 euros. Mas a diferença de preço justifica-se no seu hardware portátil de nova geração e funcionalidades técnicas. Considere que um smartphone de gaming, como o próprio ROG Phone 7 começa com preço perto dos 1.000 euros e de outras fabricantes são bem mais caros.
O ROG Ally chega às lojas no dia 13 de junho, mas já pode fazer a pré-reserva a partir de hoje.
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