"Been there, done that, got the t-shirt" podia ser o lema de Tiago Catarino, que trabalhou 10 anos no mercado de Outsourcing, percebendo por dentro os problemas relacionados com a contratação e com a insatisfação dos profissionais, e que decidiu dar voz a este descontentamento, criando aquela que garante ser a primeira plataforma mundial de IT Fair Contracting, a Job Deploy, da qual é um dos fundadores e CEO.
Lançada no dia 1 de maio, Dia do Trabalhador, a plataforma pretende ser "uma alternativa a milhares de profissionais de tecnologias de informação que são contratados indiretamente via empresas de outsourcing para executarem projetos nos clientes finais". E tem um Manifesto onde alinha as principais ideias do movimento.
Em entrevista ao TeK, Tiago Catarino admite que o modelo de outsourcing existe e ganhou raízes por várias razões: os clientes finais não podem aumentar o quadro de pessoal ou simplesmente têm projetos que exigem apenas algumas competências técnicas por um tempo determinado, mas garante que o sistema pode ser diferente.
Os profissionais de TI estão reféns de um modelo de negócio que está obsoleto e é explorador!
"As empresas de outsourcing, na qualidade de intermediários, apropriam-se de uma fatia significativa do valor gerado pelo trabalho dos profissionais IT. A prática normal do mercado situa-se entre os 20% e os 40%", refere. Em muitos casos, os profissionais ficam reféns de práticas contratuais profundamente injustas, por vezes mesmo abusivas, que põem em causa o seu crescimento profissional e a sua justa remuneração. "Certas situações atiram os profissionais de IT para a margem da legalidade, comprometendo o seu futuro com riscos fiscais e legais", avisa.
Confrontado com a questão de que o outsourcing de TI é muitas vezes apenas "body shopping" sem valor acrescentado, Tiago Catarino explica que "A nossa perceção é exatamente essa e as dos profissionais de IT é igual. Estão reféns de um modelo de negócio que está obsoleto e é explorador!"
A Job Deploy acredita que o valor do trabalho está assente nos colaboradores, nas pessoas, nos profissionais IT que trabalham nos clientes, e que as empresas de outsourcing não acrescentam qualidade ou diferenciação," são meros intermediários que se apropriam de uma percentagem muito significativa do valor gerado pelo trabalho dos profissionais IT". Por isso mesmo quer ser uma alternativa para os milhares de profissionais de TI que são contratados através destas empresas, e fazer um processo de "higienização".
O outsourcing é uma prática que já não acrescenta valor ao mercado e que amordaça os profissionais de IT. No fundo, achamos que as pessoas não podem continuar a ser tratadas como mercadoria e queremos dar-lhes mais poder, importância e relevância. Somos um veículo para se libertarem de empresas que não lhes trazem qualquer mais valia, defende Tiago Catarino.
O modelo de contratação promovido pelo projeto é baseado num manifesto registado de IT Fair Contracting que defende os valores de transparência, justiça, reconhecimento e responsabilidade. "A Job Deploy quer eliminar intermediários e cadeias de subcontratação, que não permitem que exista transparência entre todas as partes, nem que todas consigam saber qual é o valor que está a ser gerado pelo trabalho e qual é a parte a que cada um tem realmente direito", justifica.
Um mercado deficitário
São muitos os analistas que referem a falta de profissionais de TI qualificados em Portugal para responder às necessidades das empresas e a verdade é que muitas organizações internacionais têm escolhido localizar em Portugal Centros de Competências que tiram partido da qualidade, versatilidade e baixo custo da mão de obra portuguesa especializada nestes domínios.
Tiago Catarino recorre a dados de 2015 para contabilizar em 32% a percentagem de empresas que tiveram dificuldade em preencher as vagas disponíveis para contratação em Portugal. E na União Europeia esse valor sobe para 41%.
Embora os valores de remuneração variem muito consoante a senioridade e a especialidade tecnológica dos profissionais de TI, o CEO da Job Deploy reconhece que as condições em Portugal são muito competitivas, especialmente se comparadas com outros países europeus, e que, mesmo assim, muitas vezes as práticas remuneratórias estão à margem da legalidade.
E o que propõe a plataforma? A ideia é fazer uma espécie de curto circuito a este modelo, substituindo o intermediário. "A Job Deploy aparece como um facilitador nesse processo, vai cobrar uma taxa de serviço de 10% e o valor remanescente pago pelo cliente final vai inteiramente para o profissional de IT, permitindo um incremento salarial bastante positivo".
O contrato de trabalho será sempre celebrado com a Job Deploy que terá um contrato de serviço com a empresa, associado à duração do projeto desse cliente, com garantias de pagamento, sendo que estas vão financiar os encargos salariais dos membros, numa relação de total transparência entre todas as partes.
O nosso serviço é claro, facilitamos através da nossa plataforma uma relação mais livre e mais transparente dos profissionais IT com as empresas clientes finais. Se os profissionais IT estiverem a trabalhar com um cliente final em regime de outsourcing, podem fazer uma simulação na plataforma jobdeploy.com para perceber qual é o valor do salário líquido que vão receber, tendo em conta todos os encargos para a Segurança Social, Finanças, Seguros, Formação e a taxa de 10% que é cobrada pela Job Deploy e estabelecer o seu contrato de trabalho diretamente connosco, afirma Tiago Catarino.
A garantia de qualidade está nas próprias pessoas. "A qualidade para as empresas clientes finais está sempre associada à performance do profissional IT que atualmente já está num processo de subcontratação nas suas instalações, a Job Deploy não traz mais qualidade nessa perspetiva ou estaríamos a fazer o mesmo embuste que as empresas de outsourcing, garante.
Para já a plataforma tem por objetivo chegar aos 1.000 membros, mas Tiago Catarino acha que o número e as expectativas são conservadoras. "Acreditamos que estamos a quebrar com um modelo de contratação que está viciado há muitos anos em Portugal", refere o CEO da plataforma que admite que os profissionais de IT têm medo de se revoltarem, receiam perder o seu trabalho ou a relação que têm com o cliente final onde estão a trabalhar e que valoriza a sua performance.
"Temos sem dúvida objetivos de crescimento de número de membros mais ambiciosos, mas mais que isso queremos mudar o paradigma. No caminho, certamente vamos alargar o nosso conceito".
O balanço pode ser feito a médio prazo, mas por enquanto é a mudança de paradigma que move o projeto e os seus fundadores. Até lá fica o registo do Manifesto em versão integral, que também pode ser consultado no site da empresa.
MANIFESTO IT FAIR CONTRACTING
Milhares de profissionais das tecnologias de informação são hoje contratados indiretamente via empresas de outsourcing, cujo papel principal se limita à intermediação das relações laborais. Em troca, apropriam-se de uma fatia significativa do valor gerado pelo seu trabalho.
Em muitos casos, os profissionais ficam reféns de práticas contratuais profundamente injustas, por vezes mesmo abusivas, que põem em causa o seu crescimento profissional e a sua justa remuneração. Certas situações atiram os profissionais de IT para a margem da legalidade, comprometendo o seu futuro com riscos fiscais e legais.
Uma sociedade responsável exige aos clientes finais práticas contratuais alinhadas com os princípios básicos do IT Fair Contracting:
Princípio Um.
Transparência: na forma como é distribuído o valor gerado pelo trabalho do profissional de IT pelos vários intervenientes no processo.
Princípio Dois.
Justiça: na remuneração do trabalho do profissional de IT.
Princípio Três.
Reconhecimento: por parte das entidades contratantes da evolução profissional do contratado, permitindo que possa assumir novos desafios e responsabilidades, com a atualização remuneratória equivalente.
Princípio Quatro.
Responsabilidade: os clientes devem implementar práticas de compliance que exijam aos seus fornecedores o cumprimento rigoroso da lei, banindo do mercado práticas ilegais e de concorrência desleal.
Os profissionais de IT devem receber o valor justo gerado pelo seu trabalho e terem maior controlo sobre a sua carreira.
Os profissionais de IT tem consciência do seu valor para os projetos em que estão inseridos.
Os profissionais de IT reivindicam o poder de decidir como e por quem querem ser contratados.
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