Apesar do progresso feito nos últimos anos, há ainda muito trabalho a fazer para atingir a igualdade de género nas TIC. Atrair mais raparigas para esta área continua também a ser um desafio, mas há iniciativas que estão a reunir esforços para desconstruir estereótipos e abrir a porta à experimentação, como o STEM Labs: Laboratórios de Engenharia e Tecnologia.
O evento, organizado pelo programa Engenheiras Por Um Dia, assinalou o Dia Internacional das Raparigas nas TIC e teve como palco o Complexo Desportivo Municipal do Casal Vistoso, em Lisboa, reunindo 307 jovens do 3º ciclo e ensino secundário de escolas da capital e arredores.
Os alunos e alunas, divididos em grupos rotativos pelos 21 stands de parceiros do projeto, entre empresas, redes de profissionais e instituições de ensino superior, tiveram a oportunidade de ficar a conhecer mais sobre diversas áreas da tecnologia e engenharia, com um vasto conjunto de atividades práticas para experimentar.
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Desenvolver aplicações mobile, descobrir mais sobre como funcionam tecnologias como Inteligência Artificial, 5G, impressão 3D, exoesqueletos, painéis fotovoltaicos ou sensores e experimentar com realidade virtual e aumentada foram algumas das atividades em que os jovens puderam participar.
Houve ainda espaço para ver como é que consertam smartphones, para construir e lançar aviões de cartão, aprender como funciona a Internet, e aprender mais sobre áreas como cibersegurança, sistemas de tratamento de águas, referenciação geoespacial e construção sustentável.
O interesse, assim como a curiosidade, dos estudantes, fossem rapazes ou raparigas, foi sentido pelos representantes das empresas e entidades parceiras do projeto nos stands, que destacaram também a importância de eventos à semelhança do STEM Labs para captar mais jovens para a área da tecnologia e engenharia.
Já do lado dos jovens, embora sentissem a falta de um pouco mais de animação, os estudantes com quem falámos realçaram as oportunidades de aprendizagem oferecidas pelas atividades em que participaram, sobretudo dos momentos “hands-on”.
Lara Franco, estudante do ensino superior, na área de ciências, contou ao SAPO TEK, que as atividades práticas permitiram realmente ver a utilidade dos projetos e das tecnologias apresentadas, ajudando os jovens a perceber se gostariam de seguir uma carreira semelhante no futuro.
A jovem destaca que ficar a conhecer o que se faz em concreto nas diversas áreas dá uma perspectiva diferente aos estudantes que estão mais indecisos em relação ao que seguir no ensino superior, ao contrário de uma simples pesquisa pelos cursos oferecidos. “Aqui pudemos ver empresas e acabamos por ter uma perspectiva de quais são as possibilidades de emprego, o que é muito mais útil”.
Desmistificar preconceitos para ultrapassar barreiras
Ao SAPO TEK, Margarida Mateus, coordenadora de projeto do programa Engenheiras Por Um Dia, explica que, apesar de os STEM LABS abrirem a porta à participação de tanto de alunos como de alunas, o foco são as raparigas, que, de modo geral, “tendem a não escolher estas áreas”.
“Queremos desmistificar a ideia de que isto não é para elas e mostrar que, no dia a dia, há tecnologia e engenharia em muitas áreas”, afirma Margarida Mateus.
A ideia da iniciativa passa por dar uma visão mais abrangente, com foco na desconstrução de estereótipos através das atividades, que são também feitas por entidades parceiras com mulheres, “porque elas também são role-models”. “Há esta componente de inspiração e de possibilidade de aproximar as escolas do mercado de trabalho através da ligação às empresas”.
Captar a atenção das raparigas para as áreas STEM é um desafio ainda muito relacionado com as barreiras que existem a nível social. Como detalha Margarida Mateus, “há um contexto, uma construção social sobre o papel das raparigas e que desde cedo condiciona a escolha das profissões”.
Há raparigas que “vêm influenciadas ou de alguma forma condicionadas pelo contexto que, muitas vezes, é familiar, onde não existem modelos destas profissões em casa”. Umas “sentem que não têm propriamente conhecimento sobre estas áreas e não as escolhem por desconhecimento” e outras “por desinteresse, porque acham que não são efetivamente boas alunas nestas áreas que estão associadas às engenharia ou à tecnologia, quando na verdade até o são”
Nas palavras da responsável, “as maiores barreiras têm a ver com esta construção social e que está na base da escolha das profissões”, às quais se juntam ainda a “a forma como a escola aborda o tema da igualdade de género e da capacitação das raparigas para estas áreas, o que é muito importante na escolha da profissão”.
Em linha com Margarida Mateus, Cláudia Mendes Silva, embaixadora da Women In Tech e Project Manager na Siemens Portugal, enfatizou que é necessário todo um trabalho de desconstrução de estereótipos de género nas profissões, algo que a empresa está a fazer nas atividades do seu stand.
“O talento não tem género e é muito normal nestas idades haver um enviesamento de género nas profissões tecnológicas”, afirma. “O que fazemos é desconstruir esse mindset delas e mostrar-lhes efetivamente que muitas das ideias preconcebidas que elas têm são amplificadas também pelo meio onde elas cresceram e onde se envolvem”.
Recorde-se que, depois de Lisboa, o evento STEM Labs: Laboratórios de Engenharia e Tecnologia, segue para o Centro Cultural de Viana do Castelo, já no próximo dia 4 de maio. Ao todo, a iniciativa espera receber cerca de 800 estudantes do 3º ciclo e ensino secundário, encorajando-os a experimentarem e a descobrirem mais sobre áreas que, no futuro, se podem afirmar como escolhas de carreira.
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