As palavras da poeta Alice Neto de Sousa deram o mote para uma conferência Women Create Value que assinala o Dia Internacional das Mulheres e que trouxe para a Fundação das Comunicações a visão e experiência de mulheres que trabalham na área das ciências e tecnologia, mas também de empresas que estão a apostar na igualdade como fator de desenvolvimento.
Luisa Ribeiro Lopes, coordenadora do programa de inclusão digital InCoDe.2030 lembrou que a igualdade de género tem evoluído positivamente em Portugal mas que ainda há muito para fazer e que é essencial que o trabalho das mulheres tenha mais visibilidade. Os números mostram que na educação superior a percentagem de mulheres inscritas é de 53%, mas que nas TIC apenas 17% são mulheres e nas áreas emergentes o número é ainda mais reduzido.
Os objetivos de paridade do programa InCoDe.2030 foram alargados na reprogramação da iniciativa e a coordenadora lembra que vão da educação à empregabilidade, mas também da inclusão digital, onde as mulheres continuam a ser em maior número do que os homens.
Os efeitos negativos da pandemia e da guerra na Ucrânia são fatores que agravam as desigualdades, em especial também de género, e esta preocupação foi sublinhada durante a abertura da sessão, com o desafio para criar um movimento #mulheresReclamamaPaz. Esta iniciativa de solidariedade com as mulheres que sofrem com a guerra foi lançada pela secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, que no encerramento da conferência apontou as desigualdades que se mantêm e que questionam até a racionalidade económica, sublinhando que o combate a estas desigualdades tem de ser um trabalho de todos, numa lógica intersectorial e de parceria.
Veja algumas imagens da conferência
Continuar a lutar pela igualdade no ecossistema
Apesar dos avanços que se têm sentido, Mariana Vieira da Silva, ministra de Estado e da Presidência, deixou um repto a todas as mulheres. “Desafio a que lutem quando vos tentarem conformar com um estereotipo, quando vos atribuírem um papel desigual em vossas casas ou no trabalho […] É essa luta que nos compete”, lembrando que os direitos adquiridos não devem resultar num conformismo mas ajudar a consolidar as conquistas e ambicionar mais.
Seis mulheres foram convidadas a subir ao palco para falar sobre as suas experiências, percursos e visão sobre o papel na Investigação e Desenvolvimento e na liderança, em áreas que vão do Mar à Inteligência Artificial e engenharia de materiais. Ana Colaço falou sobre as oportunidades que existem na investigação do Mar profundo e o aproveitamento das descobertas noutras áreas económicas e sociais, lembrando que todos fazem falta para mostrar o valor que o mar tem para o Planeta.
Numa abordagem mais económica, Céu Mateus falou sobre a forma como no seu percurso profissional teve de quebrar barreiras, algo comum transversalmente a todas as oradoras neste painel. O “teto de vidro” que precisa de ser quebrado resulta numa barreira à progressão de grupos sociais, que impedem as mulheres de alcançar cargos de liderança e sucesso profissional, assim como paridade de salários. E é essa barreira que a economista quer ver removida.
Joana Gonçalves de Sá abordou a forma como a inteligência artificial pode trazer discriminação, e como exemplo apontou o facto da Siri e Alexa não reconhecerem temas relevantes como a declaração das mulheres a dizer que estão a ser atacadas ou violadas porque não tinham sido programadas para isso. A preocupação com a igualdade de género existe mas também a ética e a diversidade. “Estamos a criar uma sociedade by design, a pergunta é ‘que mundo queremos ter’”, afirma, defendendo que é preciso regulação, porque a autorregulação não funciona.
Professora e formada em engenharia de materiais, Paula Vilarinho contou como nunca se sentiu discriminada como mulher até chegar à universidade mas que no ensino superior e no início da sua carreira profissional foi confrontada com essa realidade, que teve de combater. Experiência semelhante teve Sara Paiva, que no curso de engenharia informática era uma minoria, mas que defende que nos vários projetos onde está envolvida o desafio é não deixar ninguém para trás.
Também Susana Sargento foi primeira e única em vários momentos do seu percurso de investigadora, professora e empresária na Veniam. A trabalhar na Internet do futuro, a investigadora defende é preciso também mostrar como estamos a definir o futuro nestas áreas, o que torna o percurso mais gratificante.
O valor criado pelas mulheres que se reflete em resultados económicos
A igualdade de género não é só um tema de paridade e de números, mas também de valor económico, e Vanda de Jesus, do Portugal Digital, destacou esta realidade na sua intervenção, recorrendo a dados de um estudo da McKinsey que mostram que as organizações com mais de 30% de mulheres têm mais valor de mercado, de 10 a 15%.
A diferença salarial ainda existe, e atualmente estima-se que serão necessários 136 anos para conseguir a paridade, ao ritmo atual, um número que regrediu com a COVID-19. O Portugal Digital tem em curso uma série de iniciativas de transformação digital e estão a ser consideradas a criação de programas dedicados e focados nas mulheres mas decidiu abrir o palco de forma alargada e lançou um desafio aos seguidores nas redes sociais para apresentarem ideias que pudessem ser colocadas em prática.
Um júri escolheu 4 vencedores que estiveram também no evento para partilharem as suas ideias, que vão desde a criação de mentores digitais nas escolas, escuteiros digitais, uma task force para formação desde tenra idade no STEAM, lançar as bases para uma associação de Tech Leaders no feminino, aproveitar os municípios para a aplicação de políticas de igualdade com uma figura da embaixadora municipal digital.
O que está a ser feito nas empresas?
Um último painel destacou a experiência das empresas na criação de iniciativas e políticas de diversidade de género, tornando o ambiente e a cultura de trabalho mais inclusivas e atraentes para as mulheres, promovendo um balanceamento equilibrado entre o trabalho e a vida pessoal.
Da Natxis à Huawei, Cisco, Microsoft e E-Redes, as empresas que participaram no evento têm políticas ativas que promovem ações na área da educação, atração e fixação de talento, e medidas para apoiar as mulheres e as mães. São todas membro da Aliança para a igualdade nas TIC que já conta com mais de 100 parceiros.
Liderar pelo exemplo, criar uma cultura onde não há distinção negativa, são algumas das iniciativas que foram destacadas, desconstruindo estereótipos que afastam as mulheres da ciência e da tecnologia.
Isabel Neves, Clube de Business Angels de Lisboa, sublinhou também que é preciso trazer mais raparigas para estas áreas para “ter produto” de forma a que as empresas possam conseguir contratar mais mulheres e alcançar a maior paridade que é desejada.
“Há vários problemas que uma empresa única não consegue resolver”, lembra José Ferrari Careto da E-Redes, que alerta para o facto de habitualmente nos preocuparmos muito com a oferta nas TIC mas que nos esquecemos de outras áreas de tecnologia, como a eletrotecnia e outras, mas também eletricistas e outras competências técnicas onde há muito pouca oferta no feminino.
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