Os últimos números do DESI são positivos e mostram que Portugal está a melhorar no número de mulheres nas áreas de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), ultrapassando a média europeia, mas há ainda um longo caminho a percorrer, defende Luisa Ribeiro Lopes, coordenadora do programa InCoDe.2030, que assumiu as medidas de promoção de igualdade de género de forma transversal depois da reformulação do programa no ano passado.

A estratégia tem garantido uma maior visibilidade para a necessidade de trazer mais mulheres para as áreas da ciência e tecnologia, e também para as mulheres que se destacam nesta área, da investigação ao empreendedorismo. Iniciativas na área da formação e emprego, mas também no programa de inclusão Eu Sou Digital, fazem parte das várias frentes de trabalho que é assumido como essencial para combater uma situação de desigualdade que historicamente tem afastado as mulheres destas áreas no emprego e nos cargos de liderança.

“Não podemos desperdiçar o valor de metade da população do mundo”, defende a gestora que admite que é preciso dar mais visibilidade ao que as mulheres estão a fazer nas áreas da ciência e da tecnologia. Luisa Ribeiro Lopes lembra que, nos últimos dados europeus do DESI 2021 (o indicador de desenvolvimento para a sociedade da informação), Portugal até tem uma avaliação positiva, num percurso importante, tendo subido 4 pontos percentuais no indicador de mulheres nas TIC, de 18 para 22%, e ultrapassando a média europeia que é de 19%.

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Mesmo assim, “nas profissões mais viradas para as tecnologias mais disruptivas, como blockchain, cloud, computação avançada ou cibersegurança, ainda temos um défice muito grande de mulheres” a trabalhar nestas áreas.

“Há um longo caminho a percorrer para conseguirmos aproveitar este talento das mulheres, numa área onde é tão necessário”, afirma, por isso mesmo explica que “é uma questão de igualdade de género mas também é uma questão económica e social”, afirma Luisa Ribeiro Lopes

Amanhã assinala-se o Dia da Mulher e há várias iniciativas que promovem também a paridade nas áreas de TIC, que são fundamentais para o desenvolvimento da economia portuguesa e europeia, entre as quais uma conferência organizada pelo InCoDe.2030, com o nome “Women Create Value” que vai juntar várias mulheres na Fundação das Comunicações e que também pode ser acompanhada online.

Paridade de género que cria valor

“Não podemos ter um país desenvolvido sem transição digital e transição sustentável e o investimento que tem de ser feito tem de ser feito de forma paritária. Não podemos olhar para o desenvolvimento económico se não incluirmos todas as questões de género associadas, e as mulheres têm estado sempre afastadas das profissões que fazem desenvolver o país e das posições de topo e de liderança”, defende.

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Este é um trabalho que está longe de estar completo. “Temos de continuar a trabalhar de forma persistente, olhando para alguns avanços que têm sido feitos mas sem nunca esquecer que os avanços às vezes têm recuos”, afirma, lembrando que a pandemia de COVID-19 “foi péssimo para a paridade”, até porque as mulheres são mais cuidadoras e acabaram por ficar com menos disponibilidade para as questões do digital, mas que agora a guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem de ser vista como mais um obstáculo.

“Diz-se que os homens criam a guerra e as mulheres sofrem as consequências, mas além de serem vítimas as mulheres têm também um papel fundamental num palco de guerra como combatentes e cuidadoras”, afirma. O conflito na Ucrânia está a provocar uma deslocação massiva de refugiados, sobretudo de mulheres e crianças já que os homens com mais de 18 anos estão impedidos de abandonar o país.

Alteração de estereótipos é um processo lento

A coordenadora do InCoDe.2030 admite que para trazer mais mulheres para as profissões de tecnologia é preciso trabalhar com as raparigas desde mais cedo, na área da educação e formação, rompendo estereótipos que persistem sobre o que podem ser os empregos para as mulheres e até mesmo as aptidões. “

É um processo lento, esse trabalho que se faz hoje vê-se daqui a uma década”, afirma, lembrando que por isso é necessário desenvolver políticas ativas. “Não podemos esperar por essa mudança, temos de ter políticas de discriminação positiva”, alerta, adiantando que as quotas são importantes.

A ideia não é deixar ninguém de fora, mas trazer mais mulheres para programas como o Eu Sou Digital ou o UpSkill. “O simples facto de alertarmos para a paridade nestes programas faz com que se traga mais mulheres”, defende.

Luisa Ribeiro Lopes está confiante de que as medidas definidas para uma maior igualdade de género nos vários programas e iniciativas públicas vão ter continuidade e “até um aprofundamento”. Este é um objetivo que está inscrito no programa definido pelo PS para a nova legislatura, mas a gestora lembra também que há ainda consequências da pandemia e que não se estava à espera de uma guerra.

E o que diria às jovens raparigas que podem estar a considerar qual a área de carreira pela qual devem seguir? “Mais importante do que aliciá-las para as áreas da tecnologia, é explicar que não há áreas reservadas aos homens”, afirma.

“Não deixem que ninguém vos diga o que devem escolher e escolham de entre todo o leque de áreas que existem, porque não há áreas exclusivamente femininas ou masculinas”, sublinha a coordenadora do InCoDe.2030. “Estas são áreas que precisam de talento e diversidade, não só de género”.