Esta semana o futuro do trabalho vai estar em destaque no Future.Works Lisbon 22, onde os novos modelos de semana de 4 dias e teletrabalho, ou nomadismo digital, vão estar em destaque. A conferência Future.Works Lisbon 22 vai decorrer nos dia 7 e 8 de outubro, num formato híbrido com mais de 100 sessões no Centro de Congressos de Lisboa mas que vão ter transmissão online. Por aqui passam mais de 150 oradores mas há também espaços e atividades complementares na área de formação e colaboração, e mais de 250 oportunidades de trabalho na área da tecnologia.
O SAPO TEK falou com Pedro Moura, chief marketing officer da Landing.Jobs, sobre as tendências para o futuro de trabalho e o evento promovido pela Landing.Jobs e a imatch. Na entrevista fala do potencial de Portugal como um dos principais destinos para nómadas digitais e antecipa o lançamento do Portugal Tech Hub.
Leia a entrevista na integra.
SAPO TEK: Quais são as principais tendências do futuro do trabalho e de que forma a tecnologia pode mudar os paradigmas que se mantêm há décadas?
Pedro Moura: A tecnologia atua sempre como força de mudança, muitas vezes destruindo processos e estruturas do passado, permitindo assim o aparecimento de novas formas de organizar e fazer a realidade, de mudar os paradigmas sobre os quais assentamos a nossa vida e sociedade. Esta destruição criativa permite avançar.
Por exemplo, hoje em dia cada vez mais se questiona o papel demasiado central do trabalho na vida das pessoas, ganhando relevância temas como o equilíbrio vida-trabalho, flexibilidade de horários, trabalho assíncrono, trabalho remoto, semanas reduzidas de trabalho, etc. Esta retirada de foco da função ‘trabalho’ em favor da existência de mais tempo e disponibilidade para outro tipo de atividades é uma tendência que já vem de trás, por exemplo de quando se instituiu a semana de 40h de trabalho e de não trabalho aos fins de semana durante o século XX. Há aqui uma continuidade no sentido de uma perda de importância do fator trabalho, imensamente motivada pela tecnologia.
SAPO TEK: Acredita que sem a mudança a que as organizações foram obrigadas na pandemia de COVID-19 teria sido possível avançar tanto no teletrabalho?
Pedro Moura: Não, obviamente. No entanto o que se observa é que em profissões em que os trabalhadores têm mais direitos reais (ou seja, mais poder no mercado de trabalho), como no caso dos profissionais de tecnologia, a tendência do teletrabalho mantém-se, sendo as organizações obrigadas a adaptar-se. No caso de profissões em que os profissionais não tenham tanta força real, ou seja, em que há mais trabalhadores que ofertas de trabalho, as organizações estão, infelizmente, a reverter o processo de trabalho remoto, algumas obrigando mesmo a voltar-se a um regime 100% presencial. Infelizmente as culturas e práticas organizacionais de muitos gestores assentam ainda na necessidade de controlo e na religião da micro-gestão, revelando uma tacanhez e incapacidade de adaptação tremendas.
SAPO TEK: A descentralização das equipas e o teletrabalho trazem também desafios à gestão das equipas, especialmente em funções que exigem maior colaboração e criatividade. Como ultrapassar estes problemas e fomentar mais a comunicação? As ferramentas existentes são suficientes ou ainda básicas para o que é necessário?
Pedro Moura: Este ‘novo mundo’ cria um conjunto enorme de oportunidades. A capacidade de interagirmos e trabalharmos com pessoas de todo o mundo é brutal em termos de potencial. Mas acarreta também riscos. Embora as ferramentas tenham avançado imenso, pessoalmente acho que sobretudo a criatividade precisa de emotividade, de fatores que são mais difíceis (mas não impossíveis) de conseguir em ambiente de trabalho remoto. Pessoalmente pratico uma mistura de remoto e presencial com as minhas equipas, na tentativa de ter o melhor dos dois mundos. Costumo afirmar que não há um ‘one size fits all’ aqui; é necessário que cada organização e profissional encontre o contexto e método que funcionam melhor para si. Todavia é absolutamente fundamental haver uma abertura para a experimentação, um sentido crítico exercido em contínuo e, sobretudo, uma liderança que saiba lidar com ambientes mais incertos.
SAPO TEK: Há um crescimento do número de nómadas digitais a procurar Portugal para se fixarem. O Governo anunciou medidas para facilitar esta movimentação, mas algumas não saíram ainda do papel. O que precisa de ser feito para promover a maior fixação destes profissionais e quais as vantagens para Portugal?
Pedro Moura: Portugal tem uma enorme oportunidade aqui. Somos já um dos principais destinos para nómadas digitais, e há uma enorme abertura e vontade de profissionais de tecnologia de outros países e continentes de se mudarem, muitas vezes com famílias, para Portugal. É necessário identificar este movimento como prioritário, criar uma ‘via verde’ para estes profissionais que reduza drasticamente a complexidade e tempo para obtenção de vistos, e criar condições por todo o país (não só nos grandes centros urbanos) para a atração e fixação desta população. Com efeito, a normalização do trabalho remoto e a imigração tecnológica pode talvez fazer mais pela revalorização das regiões mais desfavorecidas demograficamente que a maioria dos programas e iniciativas centrais. Olhe-se para o caso do Fundão, por exemplo.
Algo que impera mudar é ajudar as empresas portuguesas (ou seja, os seus responsáveis) a mudar a mentalidade no que toca a recrutamento tecnológico. Com efeito todos se queixam da escassez de profissionais de tecnologia, mas têm ainda muito medo de contratar profissionais da América do Sul, África, Médio Oriente, Leste Europeu e Ásia. Acontece que neste momento Portugal está ‘sob ataque’ de países mais ricos, que ‘descobriram’ que conseguem facilmente contratar talento português para continuar a viver por cá, e trabalhar remotamente para essas empresas. Este facto leva já quase de 20% da força de trabalho tecnológico residente em Portugal a trabalhar remotamente para além-fronteiras, o que coloca uma pressão ainda maior na escassez de talento tecnológico local. As empresas têm de aprender a jogar o jogo da Globalização do Trabalho Tecnológico.
SAPO TEK: Em relação à conferência, quais são os pontos altos que podem ser destacados e quem são os oradores a não perder?
Pedro Moura: Relativamente a oradores, destaco Gonçalo Consiglieri, Co-Founder na Visor.ai, numa sessão sobre Responsible AI; Cassiano Surek, CTO na Beyond, numa sessão sobre NTF'S; Roberto Cortez, Founder da JNation, numa sessão sobre Java Trends; Ami Sohi, Software Engineer (Full Stack) na Cazoo, numa sessão sobre JavaScript Trends; e Marco António Silva, Cloud Solution Architect & AI Ambassador na Microsoft, num fireside chat sobre Strong AI.
Vamos ter também o lançamento da iniciativa Portugal Tech Hub, em que pela primeira vez cerca de 25 entidades públicas e privadas (como o AICEP, IAPMEI, StartupPortugal, Landing.jobs, CM Fundão e outras) irão lançar uma parceria com o objetivo partilhado de tornar Portugal num Hub Tecnológico de topo a nível internacional, ajudando a atrair talento tecnológico e empresas estrangeiros para o nosso país.
Para finalizar o evento, vamos ainda ter uma Boat Party pelo rio Tejo, um excelente final para um evento que embora sendo focado no futuro do trabalho, acha que o trabalho também deve incorporar networking e diversão.
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