É de diferenças como esta que é feito o dia-a-dia dos negócios numa área em que tão depressa se assiste à sagração do Facebook como a maior rede social do mundo, como à consecutiva perda de quota de mercado daquele que durante muito tempo disputou a liderança do mercado de pesquisa online e dos serviços de email baseados na Web, o Yahoo.

Na última década são vários os exemplos de ascensões e quedas entre as gigantes da eletrónica. O objetivo deste artigo não passa por oferecer uma lista exaustiva das mesmas, mas sim recordar algumas daquelas que, por uma outra razão, se destaquem Seja pela atualidade dos desenvolvimentos, seja pela importância de que se revestiram. A ideia é também recolher, junto dos nossos leitores, outros exemplos que julguem dignos de serem recordados…

É precisamente pelo exemplo do Yahoo que começamos. A última notícia, datada do início deste mês, dava conta dos planos da empresa para despedir mais 2 mil pessoas (15% da sua força de trabalho), numa estratégia para "encolher" serviços e número de colaboradores, que se começou a desenhar ainda em 2010, com os primeiros rumores sobre despedimentos - e mesmo uma eventual aquisição por parte da AOL, que não se chegou a verificar.

O que se verificou sim, foi um acordo com a Microsoft para partilha da tecnologia que alimentava os motores de busca de uma e outra empresas, em fevereiro de 2010. Alguns meses depois, a Yahoo viria a público explicar como iria apostar numa nova abordagem às pesquisas para diferencia a sua oferta das concorrentes - e da nova parceira.

Um novo design e mudanças na forma como os resultados das pesquisas aparecem associados entre si, ajudando os internautas a encontrar mais facilmente relacionada com aquela a que estão a aceder era a aposta da empresa, que entretanto já contava com 15 anos de vida.

As mudanças não terão sido suficientes e o resultado não estaria a satisfazer os responsáveis. A prová-lo estiveram, entre outros sinais, o despedimento da presidente, Carol Bartz, em setembro de 2011. Na mesma altura, a imprensa internacional garantia que a empresa estaria a avaliar propostas de compra, mas já antes havia rumores sobre tentativas da Microsoft para adquirir a "parceira" de negócios.

Source: StatCounter Global Stats - Search Engine Market Share


Mercado global dos motores de busca. Fonte: StatCounter

Até ver, os anúncios oficiais ficam-se pelas mudanças na gestão de topo da empresa, já em fevereiro deste ano, um mês depois do co-fundador da empresa, Jerry Yang se ter demitido do conselho de administração e de todas as funções que desempenhava na empresa.

Numa altura em que a empresa conta com 14 mil funcionários e cerca de 700 milhões de utilizadores em todo o mundo, será preciso esperar para ver se os "passos importantes" que está a dar "para preparar a empresa para o futuro" trarão, de facto, a Yahoo de volta à tona.

Quem também está a viver uma situação de impasse, após um triénio menos positivo é a Nokia. Conhecida pela "liderança incontestável" do mercado de telemóveis, terá deixado escapar, neste primeiro trimestre de 2012, o número 1 da tabela global de vendas - posição que ocupava há 14 anos.

As previsões são feitas por analistas, uma vez que tanto a (alegada) nova líder como a fabricante finlandesa apresentam os resultados oficiais esta semana. A Nokia já fez, porém, saber que os lucros a anunciar estariam abaixo das estimativas iniciais.

A notícia foi recebida com a descida do valor das ações, recomendações de "venda" e alertas de que a rating da dívida da empresa estaria em risco de cair para "lixo". Os números não são vistos como "dramáticos", mas surgem numa fase em que a fabricante luta para mostrar que continua a conseguir dar resposta às solicitações do mercado global, apresentando equipamentos que lhe garantam a posição que detinha entre os consumidores de equipamentos de gama média e baixa, ao mesmo tempo que supera algum "atraso" no segmento dos smartphones, de que foi acusada por especialistas na área.

Os problemas da marca finlandesa terão começado a agudizar-se com as dificuldades em manter-se entre as líderes de vendas no segmento dos equipamentos topo de gama, com a entrada em cena de smartphones como o iPhone e os dispositivos Android e as dificuldades da Nokia em apresentar alternativas competitivas. A empresa manteve porém a liderança do mercado global, para o qual são contabilizados todos os equipamentos, de todas as faixas de preços. Mas os lucros começaram a descer.

A marca experimentou várias estratégias - da aposta em versões do Symbian com mais funcionalidades e novos serviços - a um sistema operativo de código aberto desenvolvido com o apoio de nomes como a Intel, o MeeGo, que entretanto abandonou. As grandes esperanças foram, porém, depositadas na polémica aliança com a Microsoft, anunciada em fevereiro de 2011.

A Nokia comprometeu-se a criar dispositivos à medida do Windows Phone, dando à Microsoft certezas de que haveria quem apostasse (em força) na sua plataforma. Em troca, poupava-se aos esforços de desenvolvimento para o segmento e beneficiava do ecossistema e aplicações disponíveis para o novo sistema operativo da gigante das pesquisas.

[caption]Nokia Lumia 800 com Windows Phone 7[/caption]

Segundo os últimos dados apresentados, a parceria estará a dar frutos, com estudos como o apresentado em fevereiro Strategy Analytics a garantirem que já é a finlandesa quem mais telemóveis Windows Phone 7 vende a nível global. Se isso terá o impacto no negócio de que a empresa precisa, só o tempo permitirá avaliar, mas os resultados a divulgar depois de amanhã serão um indicador importante.

Como dissemos, à parte do papel desempenhado pelo aumento generalizado da concorrência no mercado móvel, há duas empresas "diretamente implicadas" nesta mudança de panorama para a Nokia. Uma delas é a Apple, que embora esteja perfeitamente implementada no mercado de computadores há mais de três décadas, apenas há cinco anos atrás lançou o iPhone, um equipamento que muitos apontam como uma mudança de paradigma na forma de encarar os telemóveis.

[caption]iPhone[/caption]

A forma como a marca de Cupertino passou a dominar as tabelas de vendas por fabricantes no segmento dos smartphones em mercados de referência, como o norte-americano, terão ajudado a determinar o sucesso que se estendeu a outros países e alimentado uma adoração quase religiosa que os clientes tendem a manter pela marca - como fica patente de cada vez que são lançados novos modelos e vemos, por exemplo, consumidores que dormem nas filas de espera para serem os primeiros a ter um exemplar nas mãos.

O sucesso do iPhone, as novas gerações de Macs e o lançamento do iPad alimentaram o sucesso cavalgante da empresa, que tem batido sucessivos recordes de valorização bolsista, chegando mesmo a estar, temporariamente, cotada como a empresa mais valiosa em Nasdaq - mesmo que não tenha acabado a sessão na liderança da tabela.

Fenómeno de crescimento é também a coreana Samsung. Responsável pela produção daquele que é normalmente apontado como o principal concorrente do iPhone, a marca cobre variadíssimos segmentos da eletrónica, uma política que aplica também no que respeita ao mercado móvel, marcando presença em todos os segmentos - o que lhe deverá valer a superação da Nokia no mercado global de telemóveis.

A marca, que entrou no mercado móvel há 16 anos, assegura também a liderança entre as fabricantes que vendem smartphones Android e da última vez que apresentou resultados foi para dar conta de desempenhos recorde, no último trimestre de 2011. Os números para os primeiros três meses de 2012 serão revelados a 27 de abril.

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Enquanto nomes como os anteriormente referidos dão que falar pela forma como galgam os tops mundiais de vendas, assistimos à queda de marcas que durante anos povoaram o nosso imaginário associado ao mercado de telemóveis, como é o caso da Motorola Mobility, a quem é atribuída a autoria do primeiro telefone móvel, em 1973. Mas também a criação de verdadeiras revoluções ao nível do design, como o Motorola Razr - um equipamento em concha, que cabia no bolso de trás das calças sem comprometer o look dos jeans mais justos.

Há alguns anos que o negócio de telemóveis se vinha tornando um problema para a empresa, que acabou por aceitar a proposta de aquisição pela Google, no valor de 12,5 mil milhões de dólares. A mudança de mão da empresa - e do seu cobiçado portefólio de patentes - recebeu em fevereiro a autorização necessária do regulador europeu e das autoridades norte-americanas, pelo que o negócio deverá estar prestes a ser concluído.

[caption]Razr[/caption]

Queríamos terminar a listagem de hoje com um caso de sucesso e, depois de mencionada a gigante das pesquisas a propósito da compra da divisão móvel da Motorola, optamos por encerrar com o exemplo de um caso de "sucesso instantâneo" - e polémico. Falamos do Facebook.

Criada em fevereiro de 2004, a maior rede social do mundo contava, em dezembro de 2011, com 845 milhões de utilizadores ativos (que usam o serviço pelo menos uma vez por mês), de acordo com os números oficiais fornecidos no site da empresa. Na mesma altura, 483 milhões de pessoas acediam ao site diariamente.

Desde processos para discutir a titularidade da ideia que levou à criação daquilo que começou como um "livro de curso digital", a ações relacionadas com falta de garantias em matéria de proteção da privacidade dos utilizadores, mudanças que design que deixam os utilizadores em polvorosa (como a introdução da Timeline, que já é obrigatória para empresas) a compras que já se situam na ordem dos mil milhões de dólares, não tem deixado de dar que falar, sendo aguardada com grande expectativa a entrada em bolsa da empresa, que é esperada a qualquer momento, depois da os documentos para a oferta pública de ações (IPO) terem dado entrada em fevereiro na comissão do mercado de valores mobiliários norte-americano.

Segundo os dados divulgados, o Facebook poderá angariar no IPO entre 5 e 10 mil milhões de dólares colocando o valor da empresa entre os 75 e os 100 mil milhões, mas há quem projete a valorização para 200 mil milhões a curto prazo.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Joana M. Fernandes