Ainda faltam muitos meses para que a primeira edição em Portugal do Web Summit se realize, mas já é seguro dizer que o momento será um dos pontos altos do ano para o empreendedorismo em Portugal. Ter na capital portuguesa um dos eventos mais mediáticos do mundo nesse domínio promete fazer virar muitos olhos para este cantinho da Europa e para os projetos que por cá se desenvolvem. “A Web Summit é um evento com alcance mundial e durante esses dias também os olhos de investidores do Estados Unidos estarão voltados para Portugal. É certamente mais um selo de validação e de afirmação de Lisboa como uma das novas capitais do empreendedorismo Europeu”, acredita Carlos Silva, presidente da Seedrs.

O também cofundador da plataforma de financiamento para startups sedeada no Reino Unido defende que Portugal já estava no mapa do empreendedorismo para quem acompanha esta área mais de perto, mas reconhece que a presença da Web Summit em Lisboa “trará certamente mais visibilidade ao ecossistema nacional e colocará as nossas startups no radar de muito mais gente”.

Em cinco anos a Web Summit passou de uma audiência de 400 pessoas para 42 mil e transformou-se num evento de referência mundial. Já deu palco a várias empresas portuguesas e também já teve empresas nacionais entre as vencedoras dos concursos que atravessam os dias do evento, até agora sempre realizado em Dublin na Irlanda. Nos próximos três anos assenta arrais em Lisboa e espera-se que gere um impacto positivo na economia de vários milhões de euros.

Mas nem só a vinda da Web Summit para Portugal permite antecipar um ano positivo para o empreendedorismo no país. Carlos Silva vê outros sinais: 2016 “segue-se a um ano em que várias startups (Seedrs, Talkdesk, Feedzai e Uniplaces) levantaram rondas de financiamento consideráveis e por isso irão certamente crescer de uma forma ainda mais acentuada”. Crescer mais depressa pode significar chegar mais rapidamente ao patamar de maturidade que permita a saída e remuneração dos investidores que suportaram a viagem destas empresas até esse momento. É um degrau que poucas empresas suportadas neste tipo de investimento já conseguiram atingir e seria importante reforçar esse universo, defende o empreendedor.

“Iremos também certamente ver outras startups a levantar mais rondas Series A com capital internacional” e assistir ao nascimento de novos fundos investimento patrocinados por investidores nacionais.

Mais financiamento nacional. É preciso, mas não falta só isso

O tema do financiamento continua a estar na ordem do dia. É hoje mais fácil para os novos projetos encontrarem parceiros de capital, mas o investimento estrangeiro continua a ter primazia, sobretudo em rondas acima dos 10 milhões de euros, sublinha Carlos Silva, que também ainda identifica algumas falhas nas fontes de capital disponíveis para alguns sectores, sobretudo para startups já com negócio estruturado e à procura de apoio para ganhar escala ou chegar a novos mercados (Series A).

A Seedrs divide-se entre Portugal e o Reino Unido, mas é no maior ecossistema de startups da Europa que a plataforma de equity crowdfunding (investimento em troca de participações de capital) opera. Comparando as duas realidades, Carlos Silva defende que Portugal já deu passos importantes para se afirmar com uma das novas capitais do empreendedorismo. Destaca a ação de estruturas como a Startup Lisboa ou a Beta-i e o esforço dos próprios empreendedores com projetos conseguiram ganhar visibilidade fora do país, mas também reconhece que ainda há muito trabalho a fazer.  

“Ainda assim pecamos no que toca a atrair projetos internacionais, no que toca a lei laboral, simplificação de processos administrativos ou estabilidade fiscal”, identifica o empreendedor.

No capítulo da legislação, 2015 foi o ano em que Portugal fez aprovar regras para o crowdfunding. Isso trouxe enquadramento legal a domínios do crowdfunding que até à data não tinham enquadramento jurídico no país, como o equity crowdfunding, e alguma expectativa em relação ao impacto destas ferramentas no financiamento de novos projetos, mas Carlos Silva dúvida que a alteração venha a ter grande impacto no mercado.

Nota que a lei portuguesa se inspira demasiado no modelo norte-americano, que está longe de ser o mais evoluído e que até pode ser revisto em breve. Por outro lado considera que o impacto do crowdfunding no empreendedorismo nacional passará muito mais pela capacidade de as plataformas nacionais se conseguirem implementar e pela capacidade dos empreendedores aproveitarem as plataformas que já existem a nível internacional.

 

Cristina A. Ferreira