O lançamento de um satélite é sempre um momento de inquietação e de ansiedade, mas a descolagem do CryoSat foi mais tensa do que a maioria. Foi a 8 de abril de 2010 que o satélite da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) descolou à boleia de um foguete para dar início a uma missão muito clara: medir variações na altura do gelo da Terra e revelar como as mudanças climáticas estão a afetar as regiões polares. E para isso contou com a ajuda de tecnologia portuguesa.
Definido pela ESA como um dos seus “satélites de observação da Terra mais notáveis”, o CryoSat foi lançado em menos de cinco anos após a perda do satélite original, devido a um mau funcionamento do foguete. Mas, tal como a ESA observa, a necessidade de entender o fenómeno do degelo na Terra levou a uma “rápida” decisão de reconstrução.
No projeto participou a portuguesa Critical Software, cuja tecnologia foi usada na preparação da missão que colocou em órbita o satélite CryoSat-2, recolhendo informação para estudar as alterações climáticas. A empresa validou os sistemas de software mais críticos.
Veja algumas imagens do CryoSat na galeria
Enquanto outras missões de satélites podem medir mudanças na extensão do gelo da Terra, o CryoSat completa essas imagens. Como? Registando alterações na altura do gelo, que são usadas para calcular mudanças de espessura e volume, “essenciais para entender a quantidade total de gelo perdido”, explica a ESA.
Na prática, o CryoSat foi projetado para observar dois tipos de gelo: as camadas de gelo da Antártida e da Gronelândia que repousam no solo e o gelo do mar que flutua nos oceanos polares. Para além dos diferentes impactos para o planeta destes tipos de gelo, existem também desafios diferentes ao tentar medir a sua espessura.
Para superar estas dificuldades, o CryoSat integra um sensor que deteta blocos de gelo marinho enquanto flutuam no oceano e estuda os glaciares que drenam as camadas de gelo polares. Para além disso, o satélite atinge latitudes de 88º Norte e Sul.
Veja o lançamento do foguetão que levou o satélite da ESA para o espaço em 2010.
Em comunicado, o diretor de programas de observação da Terra da ESA, Josef Aschbacher, refere que o CryoSat é um bom exemplo de um “explorador da terra da ESA”. O satélite recorre a "uma tecnologia completamente nova para preencher lacunas do conhecimento científico", garante.
Quais têm sido os contributos do CryoSat nos últimos dez anos?
Recentemente, os dados recolhidos pelo satélite apoiaram investigações sobre a Gronelândia e a Antártida. De acordo com o estudo, ambas as regiões estão a perder gelo seis vezes mais rápido do que nos anos 90, o que tem implicações para o futuro aumento do nível do mar.
"Informações dadas pelo satélite são essenciais para a formulação de políticas internacionais em resposta às mudanças climáticas”, explica Josef Aschbacher
Já Andrew Shepherd, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, garante que a contribuição do CryoSat para a ciência polar é "surpreendente". O especialista destaca o facto de o satélite ajudar a melhorar os modelos usados para prever futuras mudanças climáticas, "informações críticas para a sociedade se adaptar”, refere.
O CryoSat também revelou como as 200.000 montanhas de glaciares situadas nas montanhas em todo o mundo sucumbiram às mudanças climáticas. Através das medições feitas com o seu radar, é possível mapear com detalhe essas regiões, o que permite ao próprio satélite ir para além da sua missão de estudar apenas o gelo polar.
O satélite tem sido ainda fundamental no mapeamento de mudanças na espessura e no volume do gelo do Ártico no mar. Mas mesmo com uma década de medições, a ESA garante que é essencial continuar esse trabalho de forma contínua para compreender de uma melhor forma qual a tendência a longo prazo.
Revelando também o que está de baixo da superfície do oceano, o satélite tem recorrido à sua capacidade de detetar pequenas alterações na gravidade marinha, que refletem a forma do fundo do mar. "As cartas batimétricas do CryoSat são agora uma ferramenta importante para o estudo da dinâmica, correntes e marés dos oceanos, bem como para a segurança dos navios", explica a ESA.
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