O sobrevoo próximo de Marte e da sua lua mais misteriosa, Deimos, correu como esperado e foram agora divulgadas as primeiras imagens captadas pela missão Hera, da ESA. Obtidas a cerca de 5.000 quilómetros do planeta vermelho e apenas 1.000 quilómetros do seu “satélite” Deimos, marcaram uma etapa crucial para a missão e proporcionaram uma oportunidade única de calibrar os instrumentos científicos.

Lançada em outubro de 2024, a Hera realizou um "swing-by" gravitacional em Marte, um movimento cuidadosamente planeado que aproveita a gravidade do planeta para acelerar a nave e economizar combustível. Este impulso permitirá à sonda chegar ao sistema binário de asteroides Didymos em dezembro de 2026, onde analisará as consequências do impacto da missão DART da NASA no asteroide Dimorphos.

Missão Hera usa Marte como trampolim a caminho de salvar a Terra de asteroides perigosos
Missão Hera usa Marte como trampolim a caminho de salvar a Terra de asteroides perigosos
Ver artigo

Enquanto sobrevoava Marte a uma velocidade de nove quilómetros por segundo, a Hera ativou três dos seus principais sensores. Entre eles, uma câmara de alta resolução, uma câmara de infravermelhos e um imageador hiperespectral, que captaram imagens detalhadas do planeta vermelho e da lua Deimos.

Clique na galeria para ver as imagens com mais detalhe

Deimos, um pequeno corpo celeste de apenas 12 quilómetros de diâmetro, foi fotografada sob ângulos raros, incluindo o seu lado menos visível, que permanece permanentemente virado para Marte.

Descobertas nas primeiras imagens

As primeiras imagens mostram Marte numa tonalidade azulada - por refletir a luz do Sol, segundo explicaram os cientistas da ESA -, captada pelo imageador hiperespectral no infravermelho, enquanto Deimos aparece como uma mancha escura no fundo, rodeada por detalhes do planeta. Foi possível observar a região brilhante de Terra Sabaea, próxima do equador marciano, bem como as crateras Huygens e Schiaparelli, ambas com cerca de 450 quilómetros de diâmetro.

Outro destaque das imagens é a enorme Bacia de Hellas, uma das maiores crateras de impacto do sistema solar, visível no canto inferior das fotografias. Estas imagens foram descritas pelos cientistas - entre eles Brian May, físico e guitarrista dos Queen - como “deslumbrantes” e uma oportunidade única de observar detalhes tanto do planeta vermelho como da sua lua mais enigmática.

As imagens divulgadas pela ESA revelaram detalhes surpreendentes de Deimos, ajudando a aprofundar o conhecimento sobre esta lua, cuja origem permanece um mistério. Acredita-se que pode ter sido um asteroide capturado pela gravidade de Marte ou o resultado de um impacto gigante. A análise destas imagens contribuirá para uma melhor compreensão da sua composição e formação.

Além das descobertas científicas, o sobrevoo de Marte serviu como teste essencial para as tecnologias desenvolvidas para a missão, entre eles o sistema de Guiamento, Navegação e Controlo (GNC), desenvolvido em Portugal pela GMV, que demonstrou a sua capacidade de operar em ambientes espaciais complexos. Este software usa características visuais, como sombras ou cores distintas nos asteroides, para guiar a sonda com precisão.

Veja o vídeo de explicação preparado pela ESA

A missão Hera faz parte de uma colaboração internacional entre a ESA e a NASA no âmbito do programa AIDA (Asteroid Impact and Deflection Assessment). Tem como objetivo validar o método de impacto cinético como estratégia para desviar asteroides que possam representar uma ameaça à Terra. Ao estudar Dimorphos, a Hera não só complementará os dados obtidos pela DART como também ajudará a refinar modelos que poderão, no futuro, proteger o planeta de possíveis impactos catastróficos.