
Desenvolvida pela Agência Espacial Europeia (ESA) e com participação de tecnologia portuguesa, a missão HERA realiza um importante sobrevoo por Marte esta quarta-feira. A manobra, conhecida como swing-by, permitirá à sonda ganhar velocidade adicional, economizando combustível para alcançar o sistema binário de asteroides Didymos em dezembro de 2026.
O principal objetivo da HERA é estudar Dimorphos, o asteroide impactado pela missão DART da NASA em setembro de 2022, como parte de um teste de defesa planetária. Este estudo é essencial para validar o método de impacto cinético como estratégia para desviar asteroides que possam representar uma ameaça à Terra.
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Francisco Cabral, da GMV Portugal, uma das empresas que desenvolver tecnologia para o projeto europeu, explicou em entrevista as SAPO TEK que o swing-by é uma manobra cuidadosamente planeada desde o início da missão.
“Vamos passar por Marte por necessidade. Vai-nos dar um impulso, aproveitando a gravidade do planeta como uma espécie de empurrão, sem gastar tanto combustível. Isto torna toda a missão bastante mais barata”, referiu.
Este método, comum em missões espaciais, usa o balanço gravitacional de corpos celestes para economizar recursos e otimizar trajetórias.
Além do impulso gravitacional, o sobrevoo de Marte oferece uma oportunidade valiosa para testar as tecnologias da missão.
Veja o vídeo de explicação preparado pela ESA
Entre as tecnologias testadas vai estar o software de guiamento, navegação e controlo (GNC) desenvolvido pela GMV. Este sistema permite à sonda operar de forma autónoma nas proximidades do asteroide.
A tecnologia funciona através da identificação de características visuais únicas – como sombras ou cores distintas – no asteroide. Estas são seguidas ao longo do tempo para determinar com precisão a posição da sonda.
“Vamos ativar o sistema durante o sobrevoo de Marte, mas sem realizar manobras. É só um teste. Depois, analisaremos os dados reais obtidos, o que nos permitirá otimizar o desempenho antes de chegarmos ao asteroide”, detalhou Francisco Cabral.
A recolha e análise dos dados será concluída sem pressa, dado que a HERA só se aproximará de Dimorphos no final de 2026. Após o swing-by, as operações focar-se-ão na monitorização e transferência de dados até os últimos meses antes da chegada ao asteroide.
O sucesso do desenvolvimento e teste do sistema GNC na missão HERA abre caminho para futuros projetos. A GMV Portugal já está a trabalhar na missão RAMSES - Rapid Apophis Mission for Space Safety, sucessora da HERA, que estudará um asteroide que passará extremamente próximo da Terra em 2029.
Mais especificamente, a RAMSES vai estudar o asteroide 99942 Apophis durante a sua aproximação à Terra em 2029. Apophis, com cerca de 375 metros de diâmetro, passará a cerca de 32.000 km da superfície terrestre a 13 de abril de 2029, oferecendo uma oportunidade única para a investigação científica.
O objetivo principal da missão é caracterizar as propriedades de Apophis que são críticas para a defesa planetária, antes do seu "encontro" com a Terra.
A sonda será lançada em abril de 2028, com chegada prevista ao asteroide em fevereiro de 2029, dois meses antes da sua máxima aproximação ao nosso planeta. Durante este período, a RAMSES observará e registará as alterações físicas induzidas pela gravidade terrestre, como mudanças na rotação, orientação e possíveis movimentos na superfície e no interior do asteroide.
A carga útil da RAMSES incluirá pelo menos duas câmaras visuais, sendo uma delas do tipo Asteroid Framing Camera (AFC), para mapear globalmente Apophis, e um imageador térmico infravermelho (TIRI), fornecido pela Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA). Além disso, está prevista a inclusão de dois CubeSats 6U, que serão lançados nas proximidades do asteroide e utilizarão a RAMSES como retransmissor, ampliando as capacidades de observação e análise da missão.
Para facilitar o seu rápido desenvolvimento, a missão RAMSES aproveitará grande parte da tecnologia desenvolvida para a missão HERA, de forma adaptada às necessidades específicas. “Mais uma vez, Portugal tem um papel importante numa missão da ESA, o que obviamente nos enche de orgulho”, rematou Francisco Cabral.
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