O Programa MIT Portugal (MIT Portugal Program - MPP) está no terreno desde 2006. Foi renovado em 2013 e novamente em 2018, com um programa de atividades previstas até 2030, mas que deve ser reavaliado em breve. Tem repartido iniciativas pelas áreas da investigação, educação, ideias inovadoras e atividades colaborativas empresariais. Na fase em curso tem concentrado mais recursos em projetos de investigação. Nesse domínio, e tal como também aconteceu nas outras duas parcerias - com a Universidade do Texas em Austin e de Carnegie Mellon - um dos grandes destaques vai para os projetos de grande-escala. Neste caso, em áreas como o espaço e os oceanos, as cidades sustentáveis, alterações climáticas, data science ou transformação na indústria, as grandes áreas de intervenção da parceria neste momento.
Desde que foi assinada, em 2006, a parceria permitiu financiar mais de 180 projetos de investigação colaborativa, de diferentes escalas, num modelo que envolve equipas portuguesas e investigadores do MIT. A fase em curso do programa foi aquela que acolheu mais projetos de investigação colaborativa: 103 no total, sete dos quais de larga escala e liderados por empresas portuguesas.
Pedro Arezes, diretor nacional do programa, acredita que os projetos de I&D que foram ligando o programa às empresas portuguesas tiveram um papel importante para mudar a forma como estas vêm a possibilidade de partilhar projetos de investigação com a academia.
“É certo que se calhar o mote inicial para o interesse [das empresas] em se envolverem nesta parceria tinha a ver com o facto do MIT ter este perfil conhecido em todo o mundo. Era uma oportunidade de trabalhar com uma universidade de topo, mas de facto isso manifestou-se em resultados como patentes, tanto em algumas empresas já com cariz de inovação bem marcado, como as farmacêuticas, mas também noutras, que ainda não estavam tão orientadas para estas áreas, de sectores muito tradicionais, como o têxtil”.
As atividades de Inovação e empreendedorismo têm sido outra vertente desta parceria, através de programas (como o Building Global Innovators) que resultou na criação direta e indireta de cerca de 80 startups, envolvendo alunos e professores. Em conjunto, estas empresas terão já captado investimentos de capital de risco na ordem dos 80 milhões de euros, pelas contas do MIT Portugal (ou MPP).
Os dados da gestão do programa detalham ainda que “30 destas startups nasceram de tecnologias desenvolvidas dentro das universidades, sendo que mais de 20 startups foram criadas pelos alunos do MPP, durante ou após os seus doutoramentos”. Neste leque incluem-se a Sensei, Watt-IS ou a LiMM Therapeutics. Das startups criadas por professores e investigadores do MPP, são exemplos a SilicoLife e a Treat U (que agora integra o grupo Bluepharma).
Na vertente da formação/educação, também menos explorada nesta terceira fase, o modelo inicial foi alterado e acabou por ficar em pausa uma das componentes mais valorizadas. Foram abandonadas as parcerias para doutoramentos com as seis universidades portuguesas ligadas à iniciativa desde o início e foi direcionada para a iniciativa a seleção e avaliação de candidaturas para bolsas de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia. A formação pode ser feita em qualquer universidade portuguesa, desde que a área de investigação escolhida coincida com as áreas científicas estratégicas do programa. Ao longo dos anos foram financiados 120 doutorandos e publicados cerca de 50 artigos em revistas científicas.
Pedro Arezes acredita que, também nesta vertente, o programa deu um contributo importante “para as empresas perceberem que incorporar inovação por via de alunos de doutoramento é um caminho”. Reconhece igualmente a importância das estadias que já estiveram associadas a estas formações na escola americana, por períodos de seis meses a um ano, e que entretanto deixaram de ser feitas. “Foram experiências transformadoras porque orientaram carreiras e para os alunos foi uma oportunidade de viver num ecossistema que é muito próprio, de muita criatividade e que mostra que é possível fazer diferente, do que possivelmente se faria sem aquela experiência”.
O responsável explica sobre isto que, na edição atual da parceria, planeada até 2030, estava previsto o retomar destas estadias a partir de 2024. Tudo dependerá agora da continuidade do programa e dos moldes em que isso será feito, se se confirmar. “Estava já previsto recomeçarem no próximo ano, iniciando com números mais modestos, mas com planos de voltar a ter números significativos como no passado”.
Mais de 200 alunos de mestrados e doutoramentos portugueses passaram pelo MIT em estadias que podem regressar
Recuando a toda a extensão da parceria e às diferentes ações no terreno, terão participado em iniciativas MIT Portugal 300 investigadores e docentes portugueses. Os programas de doutoramento e mestrado do MPP em universidades portuguesas foram frequentados por cerca de 500 alunos, sendo que mais de 200 tiveram períodos de estadia na universidade americana. Dos projetos de investigação realizados resultaram diretamente 15 patentes nos últimos 5 anos, segundo os números oficiais, que podem pecar por defeito porque não consideram os resultados indiretos para as empresas envolvidas.
Uma análise ao percurso posterior dos Alumni do MPP mostrou também que 26% são hoje investigadores no ensino superior, 12% são professores ou docentes em instituições de ensino superior e 27% estão a trabalhar na indústria, sendo que 4% exercem aí atividades de investigação e 5% abriram a sua própria empresa.
Sabe-se ainda que algumas ligações entre a universidade americana e empresas em Portugal, que se envolveram por via dos projetos de I&D realizados, perduraram mas não há dados concretos.
“Algumas empresas já fizeram o seu caminho pós-participação no programa e mantêm contactos ou projetos com o MIT, ou com outras universidades americanas a quem se ligaram por essa via, mas que escapam já ao nosso radar, embora saibamos que tiveram como ponto de partida a participação no programa”.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, através da Fundação para a Ciência e Tecnologia está a reavaliar a continuidade das parcerias com três universidades norte-americanas, assinadas em 2006 e 2007 por Mariano Gago. Antes da crise política que fez cair o governo de António Costa, a ministra Elvira Fortunato tinha já dito que este seria o último ano das parcerias, nos moldes atuais.
Este artigo integra-se num especial do SAPO Tek sobre o tema, onde fomos perceber o que tem sido feito no âmbito dos acordos e conhecer alguns dos projetos de larga escala que mobilizaram a maior parte dos recursos dos programas desde 2018. Na esfera do MIT Portugal, os projetos de I&D que juntaram academia e indústria lançaram as bases para desenvolver uma nova geração de pequenos satélites que chega ao espaço em 2024, um sistema de sensores que vai aproveitar as infraestruturas de cabos submarinos para monitorizar o fundo do mar, soluções mais inteligentes e mais eficientes para disseminar o 5G nas cidades, entre outras. Algumas delas vamos abordar também em maior detalhe, noutros artigos deste especial, ao longo da semana.
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