Um artigo publicado na revista Science alerta para o problema causado pelo número crescente de satélites, mas também para o lixo espacial, e defende que não se repita no espaço o mesmo erro que foi feito no Mar, onde só esta semana se conseguiu um acordo para a proteção do alto mar.
O artigo é assinado por Imogen Napper, da unidade de investigação marinha da Universidade de Plymouth, Melissa Quinn do Spaceport Cornwall e Kimberley Miner do laboratório JPL da NASA na Califórnia, peritos na tecnologia de satélites e também na poluição do oceano.
O alerta não é novo e tem sido feito por várias entidades. Recentemente a ESA indicava que o número de objetos à volta da Terra está a chegar a um ponto crítico, e nos últimos meses têm sido realizadas manobras arriscadas para desviar a Estação Espacial Internacional de lixo que está em rota de colisão com a estação e que pode causar acidentes e roturas graves.
Segundo a ESA, os mais de 2.700 satélites em funcionamento partilham as suas órbitas com 8.800 toneladas de lixo espacial, nomeadamente estágios descartados de foguetes e outros satélites inativos. O número de satélites está também a crescer com o lançamento de novos equipamentos, em especial com as constelações de satélites, como a Starlink de Elon Musk que quer ter 12 mil satélites em órbita até 2026.
Existem iniciativas para estudar este problema e até remover parte do lixo, entre as quais a Net Zero da ESA onde participa GMV e a ClearSpace da Agência Espacial britânica, onde a portuguesa Critical Software é uma das empresas envolvidas.
Compromisso vinculativo para proteger o espaço
Entre os signatários do artigo estão cientistas que estiveram envolvidos no desenvolvimento do compromisso para um tratado global contra a poluição de plásticos, que foi assumido em março de 2022 por mais 170 países na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
A ideia é que seja criado um tratado vinculativo para a proteção da órbita terrestre contra a poluição por lixo espacial com medidas que responsabilizem as fabricantes e utilizadores de satélites a partir do momento em que são lançados para o espaço, considerando também os detritos que possam gerar. Os custos comerciais devem ser considerados na responsabilização.
As estimativas apontam para que até 2030 estejam em órbita mais de 60 mil satélites e um comunicado da universidade britânica de Plymouth avisa que "há receios de que o crescimento previsto na indústria possa inutilizar grande parte da órbita terrestre".
“Se formos muito lentos e não tivermos essas discussões agora, vamos criar uma grande confusão”, sublinha Imogen Napper, cientista da Universidade de Plymouth. “Temos uma oportunidade inicial de causar um impacto positivo, mas o tempo está a esgotar-se”.
O alerta aponta também para os custos que grandes colisões em órbita podem ter em termos económicos e ambientais.
Os cientistas defendem que pode ser criado um tratado internacional vinculativo ou uma série de acordos menos pesados mas que ajudem a definir comportamentos, até porque os países devem começar a mostrar liderança nesta área onde a iniciativa privada está a ganhar mais espaço.
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