O uso das tecnologias emergentes e espaciais na gestão do território na Europa esteve no centro da discussão do mais recente workshop online do Panel for the Future of Science and Technology (STOA).
A União Europeia investe em projetos de investigação e desenvolvimento (I&D) principalmente através do programa Horizonte 2020 e, a partir de 2021, do Horizonte Europa e promove iniciativas espaciais em colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA), através de programas como o Galileo e o Copernicus.
Em destaque estiveram quatro projetos europeus que estão a usar as novas tecnologias para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, assim como a experiência das empresas e entidades da Administração Pública.
Na abertura da sessão, Maria Manuel Leitão Marques, eurodeputada e membro do STOA, afirmou que a apresentação de projetos que cujo âmbito de atuação é transversal aos programas europeus permite aos Estados-Membros ganhar uma melhor compreensão de como as tecnologias emergentes e espaciais poderão a ajudar a dar uma resposta a desafios como as alterações climáticas, ou ainda a gestão dos ambientes urbanos dinâmicos.
Já para Manuel Heitor, ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, o futuro será certamente marcado pela transição digital com uma forte ênfase nestas tecnologias, porém, o uso massificado dos dados, inclusive em áreas como a gestão do território, precisa de ser regulado, sem esquecer questões de transparência e da proteção da privacidade dos cidadãos.
De acordo com Ricardo Conde, presidente interino da Agência Espacial Portuguesa (Portugal Space) que também marcou presença no evento, a falta de dados é uma outra problemática que necessita de mais atenção.
O responsável sublinha todas estas tecnologias são essenciais para dar resposta aos grandes desafios que o mundo enfrenta, mas, sem dados suficientes, concretizar os projetos inovadores torna-se muito mais difícil. Democratizar os dados com políticas adequadas é uma prioridade e Ricardo Conde apela à União Europeia para que abra o debate em torno da questão.
Da monitorização terrestre e do Oceano Atlântico à melhoria da vida urbana
A monitorização da cobertura terrestre assume uma forte importância, tanto para a gestão de recursos naturais, como para uma melhor prevenção de desastres naturais e para a mitigação das consequências das alterações climáticas.
No entanto, tal como revela Mário Caetano, diretor da Direção-Geral do Território em Portugal, o processo de caracterização através dos tradicionais mapas apresenta vários desafios, como, por exemplo, o elevado custo de produção, o facto de por vezes não cumprirem todos os requerimentos necessários ou de não se adaptarem às dinâmicas existentes no terreno.
É neste âmbito onde a combinação entre IA e as imagens captadas e dados recolhidos através dos satélites Copernicus é fulcral, traduzindo-se no Sistema de Monitorização de Ocupação do Solo (SMOS).
O sistema permite gerar novos mapas mais pormenorizados, detalhando a heterogeneidade dos terrenos. No caso das florestas, é possível mapear a densidade da florestação existente, permitindo classificar e identificar, por exemplo, irregularidades nas zonas em análise e fazer uma melhor prevenção de incêndios.
Passando para a área da intervenção marítima, Miguel Bello, CEO do AIR Centre, explica que há uma longa lista de problemas que afetam o Oceano Atlântico. Para encontrar respostas aos desafios é necessária uma maior colaboração entre entidades europeias e internacionais de diferentes áreas de atuação, algo que a arquitetura APPOSS tem em conta.
A utilização das tecnologias emergentes e especiais é particularmente útil em problemáticas como a poluição do oceano, onde as imagens de satélite podem ajudar os especialistas e autoridades a mitigar as consequências de um derrame petrolífero ou, então, a prever situações como erupções vulcânicas em pleno Atlântico.
A prevenção de desastres naturais, a luta contra a pirataria marítima, o controlo do tráfego humano e de drogas, assim como a monitorização de práticas danosas para o meio-ambiente são outras áreas onde as tecnologias se apresentam como ferramentas-chave, elucida o responsável.
Já no que toca à monitorização das emissões humanas de dióxido de carbono, Richard Engelen, responsável do Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS) indica que há um grande desafio. Os satélites não medem as emissões diretamente, apenas as que estão na atmosfera. Além disso, veem o total das emissões, sem diferenciar as que partem de humanos e as que são naturais.
Porém, é possível treinar modelos de machine learning, alimentando-os” com as observações terrestres e as estimativas dos especialistas, para melhorar o processo e torná-lo mais eficiente. Richard Engelen exemplifica que a tecnologia permitiu aos investigadores tornar as suas observações mais exatas, em particular, no que respeita às emissões de NO2 nas principais cidades europeias durante o confinamento devido à pandemia de COVID-19.
Com aceleração da transição digital as cidades estão a mudar e as tecnologias como IA podem ser usadas em contexto urbano para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Maarten Sukel, data scientist e investigador na área de IA em Amsterdão, está a pôr em prática um projeto chamado Object Detection Kit (ODK) que tem como objetivo manter as ruas da capital holandesa mais limpas.
O ODK envolve a monitorização das ruas da cidade através de uma aplicação para smartphone. À medida que as câmaras vão captando imagens enquanto o utilizador conduz, o sistema de IA do ODK vai detetando zonas com lixo, disponibilizando a informação obtida às entidades competentes. Todo o sistema foi treinado para manter a privacidade dos transeuntes, assim como de elementos à semelhança de matrículas de automóveis.
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