A missão Juno recolheu dados que apontam para a presença de sais minerais e compostos orgânicos na superfície gelada de Ganimedes, atestando o seu passado salgado. Os cientistas acreditam que a descoberta pode ajudar a entender a origem daquela que é a maior lua do planeta Júpiter, assim como a composição do seu oceano profundo.

A informação foi registada na passagem de 7 de junho de 2021 por Ganimedes, quando a sonda da NASA sobrevoou a lua a uma altitude mínima de 1.046 quilómetros.

Durante a aproximação, o espectrómetro JIRAM (Jovian InfraRed Auroral Mapper) entrou em ação para recolher os dados que revelaram a presença de sais minerais e compostos orgânicos à superfície, indica o estudo agora publicado no jornal Nature Astronomy.

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Maior do que o planeta Mercúrio, Ganimedes sempre foi um alvo de interesse para os cientistas devido ao vasto oceano interno de água escondido sob a sua crosta congelada. Observações anteriores feitas pelas sondas Galileo e pelo Telescópio Espacial Hubble, bem como pelo Very Large Telescope insinuaram a presença de sais e compostos orgânicos, mas a resolução espacial dessas observações era limitada.

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Os dados do JIRAM obtidos durante a passagem próxima da Juno apresentaram uma resolução espacial sem precedentes para a espectroscopia infravermelha, possibilitando a deteção de características espectrais únicas de materiais que não são gelo de água, explica a NASA, como cloreto de sódio hidratado, cloreto de amoníaco, bicarbonato de sódio e possivelmente aldeídos alifáticos.

As descobertas sugerem que Ganimedes pode ter acumulado materiais suficientemente frios para condensar amoníaco durante a sua formação e os sais de carbonato podem ser remanescentes de gelo rico em dióxido de carbono.

Os investigadores descobriram também que as maiores quantidades de sais e compostos orgânicos estavam nas áreas protegidas pelo campo magnético de Ganimedes, indicando que podem ser vestígios de uma salmoura oceânica profunda, que alcançou a superfície deste mundo congelado.

Lançada em 2011, a Juno orbita Júpiter desde o dia 4 de julho de 2016, com o primeiro sobrevoo científico a ocorrer 53 dias depois. Durante este tempo, já percorreu centenas de milhões de quilómetros, espreitando também a igualmente lua gelada Europa, além da ardente Io.

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Chegou a ter o seu o fim marcado para o verão de 2021, que seria concretizado num mergulho na vasta atmosfera do planeta gigante, com “morte assistida”, para o derradeiro objetivo de recolher o máximo de dados possível, antes das elevadas pressões destruírem a nave. Só que a NASA mudou de ideias.

A agência espacial decidiu prolongar a missão Juno até setembro de 2025, atribuindo-lhe novas “áreas” para explorar. A sonda ficou de alargar a sua capacidade de observação a todo o sistema joviano, ou seja, planeta, anéis e luas. O próximo destino é a lua Io, marcado para uma passagem próxima em 30 de dezembro.