Durante o BIG Festival, o SAPO TEK sentou-se à mesa com Eliana Russi, diretora internacional da Abragames, depois de ter sido apresentado o estudo sobre o estado da indústria de videojogos no Brasil. O mercado brasileiro cresceu exponencialmente nos últimos anos, mas também o consumo, sobretudo em plataformas mobile. Os smartphones, a maioria modelos antigos, continuam a ser a plataforma principal de acesso aos videojogos dos brasileiros.
O papel da Abragames é reunir todos os players da indústria, dos investidores ao Governo, de forma a dotar os estúdios, independentemente do seu tamanho, de ferramentas para prosperar, seja a nível nacional, mas sobretudo com projeção internacional. Eliana Russi explicou ao SAPO TEK que a associação tem o papel de ensinar as empresas a ter acesso às opções necessárias para o mercado internacional, seja com a escolha do caminho A ou B que optem seguir.
Veja na galeria imagens do BIG Festival:
Também promete instrumentos para alavancar os gestores públicos para que os estúdios e developers tenham acesso a dinheiro local. Afirma que o brasileiro é empreendedor, e que com pouco dinheiro consegue realizar “proezas”. E que o papel da associação não é procurar soluções milionárias para os estúdios, mas sim resolver os seus problemas fundamentais, nem que seja adquirir material para a produção dos seus projetos.
Salientou que o estudo foi muito importante para poder entregar aos investidores aquilo que afinal está a vender, onde investir e em quem se pode investir. E nos últimos anos o crescimento do mercado brasileiro foi muito grande. Eliana Russi tinha algum receio de que os grandes estúdios chegassem ao Brasil e começassem a absorver os mais pequenos, mas teve a surpresa de constatar que afinal havia mais de mil estúdios em atividade no país.
Sem querer entrar em questões políticas, disse que o governo de Bolsonaro já baixou duas vezes os impostos no preço das consolas, mas na verdade, apenas milionários continuam a poder comprar uma PlayStation. “O brasileiro joga em smartphone de gerações antigas”, deixando no ar que baixar o preço das consolas é como baixar o dos Ferraris. O que se pretende é que as pessoas tenham mais poder no acesso à cultura dos videojogos.
Portugal e Brasil podem formar uma simbiose perfeita entre os dois mercados de gaming
A Abragames existe desde 2004 e não tem fins lucrativos, representando as empresas de videojogos no Brasil, reunindo as políticas públicas, a academia, indústria e como papel de conseguir alternativas para fortalecer este sector. Com isso em mente, e aliado à Apex Brasil, a empresa parceira que funciona como braço internacional, estão a ser mostrados videojogos além-fronteiras. “A Apex Brasil vai montar um stand na Gamescom na Alemanha, com a representação de 50 estúdios brasileiros”. Toda a parte de marketing, negócio, contratação e até acessória de empresa que os pequenos estúdios não têm é realizado pelas duas organizações durante o ano todo.
O BIG Festival é o exemplo de uma dessas iniciativas, ou seja, em vez de levar os estúdios para montras internacionais, a associação traz os grandes nomes estrangeiros ao Brasil. E esse trabalho já está a gerar frutos palpáveis, sendo já um hub de desenvolvimento de jogos muito forte. Diz que há muitos jovens e mesmo as empresas mais antigas não têm mais de 20 anos no mercado. E agora chegou o momento de reconhecimento internacional, como o investimento da Epic Games na Aquiris e a Otagon que foi comprada pela Fortis são exemplos práticos. E o estúdio Wildlife que já é considerado o primeiro unicórnio brasileiro e da América Latina. “Não são sinais de fumaça, tudo isto já é real”, rematou Eliana Russi.
Nesse sentido, a associação quer que os estúdios brasileiros falem de forma global e para o mundo, como potencial de negócios. E isso levou recentemente à oportunidade de fazer uma ponte para Portugal, com a assinatura de protocolo de cooperação com o movimento Digital Valley e o BIG Festival. O objetivo é trazer a Portugal uma representação B2B na área dos videojogos com o Digital Valley durante o Lisboa Games Week, em novembro.
“O papel de construção com Portugal tem todos os motivos do mundo, culturais, da língua inerentes às duas nações. Há muitos talentos brasileiros que já estão em Portugal. E Portugal tem condições de ser um hub”. Apesar de não conhecer ainda o panorama português de produção de videojogos, sabe que há muitas empresas a criarem hubs tecnológicos, assim como startups e empresários a apostarem no país. Obviamente que o Web Summit realizado anualmente em Portugal é, por si, uma bandeira do potencial tecnológico do país, destacou Eliana Russi.
“O papel de construção com Portugal tem todos os motivos do mundo, culturais, da língua inerentes às duas nações. Há muitos talentos brasileiros que já estão em Portugal."
Portugal pode ser uma porta de abertura do mercado brasileiro na Europa, numa estratégia de chegar à Alemanha, por exemplo. Salienta ainda o papel de Jefferson Valadares à frente da associação de videojogos em Portugal. E por isso, será a soma de todas estas coisas que Eliana Russi vê com bons olhos a vontade de formar uma estratégia de ligação com Portugal.
Apesar da terrível doença que é a COVID-19 e todos os problemas relacionadas com a pandemia, esta mostrou que agora não existem mais barreiras geográficas, “não é preciso mais um visto de trabalho”, uma vez que é possível trabalhar do Brasil para qualquer parte do mundo. “Com a tecnologia e a pandemia, o Brasil ficou perto de tudo”, referindo que a única distância é o fuso horário e nesse sentido o país encontra-se geograficamente bem colocado para o trabalho remoto, entre os Estados Unidos e a Europa. Ainda assim, diz que nada substitui o contacto humano, os vínculos que se constroem com essa ligação presencial. Um projeto demora 3 ou 4 anos a ser concluído e não se fecham com uma chamada de Zoom”.
E ainda sobre a ligação de Portugal e Brasil, descobriu que há uma grande mistura de emigrantes. Ambos são países multiculturais, mostrando-se muito entusiasmada por essa troca, e com a possibilidade de ter uma porta aberta na Europa através de Portugal, uma vez que o Brasil já tem o know how.
Para concluir, falou-se na importância do metaverso no futuro dos estúdios e deu o exemplo de como a Lockwood (que também já tem escritório em Lisboa) criou experiências dentro do mundo virtual Avakin no Brasil, tal como a abertura de uma loja digital do Boticário e uma cervejaria. “Está a acontecer e é uma revolução, vamos acabar por ser absorvidos pelo metaverso”.
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