No começo de mais uma edição do BIG Festival, foram revelados os resultados daquela que é a primeira pesquisa nacional da indústria dos videojogos no Brasil, apresentando o país como um hub crescente na produção de videojogos, assim como uma "incubadora" de talentos.
Neste primeiro painel do festival, esteve presente Rodrigo Terra, presidente da Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Games) e Eliana Russi da diretora da Abragames, Cláudio Lima da Druid Creative, Eros Ramos da Silva da Apex Brasil e Carolina Caravana, vice-presidente da Abragames.
Eliana Russi salientou a importância de fazer o evento físico e deu os parabéns dos 18 anos da Abragames, revelando que esta é agora uma nova marca. Foi assim criada uma nova marca e imagem da Associação que represente os jogos “made in Brasil”. Ou seja. “Abragames: Play é made in Brasil” é a nova tagline da associação.
"Precisávamos de fazer mudanças na comunicação, aproveitando o crescimento no Brasil, referindo que é outro país no que diz respeito ao desenvolvimento", disse Rodrigo Terra. O trabalho feito foi colocar a Abragames como um dos polos de desenvolvimento de videojogos a nível mundial. Pretende trazer essa representação para a comunicação, em que os estúdios e developers se sintam representados. A partir de 2022 começam a ver a Abragames como um catalisador dessa indústria, numa questão visual de comunicação.
Rodrigo Terra pretende ouvir o público e intervenientes da indústria e dessa forma desenvolver o negócio das empresas. Carolina Caravana, vice-presidente da associação brasileira, salientou que a comunicação nos últimos 18 anos precisava de ser remodelada. “Daqui para a frente vamos mudar esse diálogo”. A Abragames pretende chegar a todo o mundo, com o seu novo posicionamento. Na sua visão, Rodrigo Terra diz que o objetivo é elevar o nível da comunicação no interior do desenvolvimento de jogos no Brasil.
Veja na galeria imagens do BIG Festival
Mas um dos pontos deste painel é o estado da indústria no Brasil. A Abragames diz que representa developers, não produz jogos. Tem desde 2012 a parceria com a Apex Brasil, uma empresa que representa a indústria brasileira a nível internacional. Eliani Russi diz que a empresa tem como objetivo a internacionalização dos projetos nacionais. E como nota, diz que o evento online tem tradução direta em inglês, numa mensagem clara da porta aberta à exportação.
O presidente da Abragames salientou a pesquisa que fez à industria brasileira. Diz que o mapeamento contínuo de desenvolvimento de jogos no Brasil já tem os olhos postos dos grandes players, com investimentos, compra de estúdios, e outras iniciativas. Até aqui não haviam dados concretos sobre o valor do mercado nacional. É referido que o mercado de jogos ultrapassou os 2,3 mil milhões de dólares em 2021, colocando o Brasil como o 10ª maior mercado do mundo. Diz que 74,5% da população brasileira joga com frequência, sobretudo em plataforma mobile.
A multiculturalidade do povo brasileiro está expressa e abre novas possibilidades temáticas com narrativas regionais. A flexibilidade e adaptabilidade facilitam a comunicação e interação em equipas remotas, estrangeiros que ajudam na produção. Rodrigo Terra diz que além da facilidade do trabalho à distância, também o fuso horário é compatível com o resto do mundo, sendo o meio caminho para trabalhar com Estados Unidos e Europa. “Brasil está no centro da América latina”.
Diz que o maior número mais feliz é que existem 1.009 estúdios de videojogos no Brasil. Tem estúdios a trabalhar com a Guerrilla de Horizon Zero Dawn e outros jogos AAA. O estúdio Wildlife é considerado o primeiro unicórnio brasileiro e da América Latina, uma empresa de São Paulo que já é global. A Árvore é um estúdio de realidade virtual que ganhou prémios no Festival de Cinema de Veneza e Primetime Emmy. A Netflix já distribui jogos feitos no Brasil. A Aquiris recebeu investimento da Epic Games, sendo considerado o primeiro grande investimento no mercado da América Latina. A Otagon foi comprada pela Fortis, como outro marco deste mercado.
Olhando para o número de estúdios, em 2014 havia 133 estúdios, em 2018 eram 375 e em 2022 são agora 1.009 developers. Estas empresas sobreviveram nos últimos três anos de pandemia, disse Eliana Russi. Por território, o Brasil tem praticamente estúdios em todos os estados, mas tem uma maior concentração nas regiões de sudoeste, com 57%, no sul é 21% e noroeste 14%. O Norte representa 3% da concentração dos estúdios.
O Brasil já tem distribuição nas principais plataformas de jogos, como o Steam, Google Play e Apple Store. Em 2021, 57% dos estúdios já obtiveram receitas internacionais. No que diz respeito aos mercados, os países lusófonos já representam 41% do mercado mundial. Quanto à tecnologia, o motor Unity é o mais utilizado com 83%, seguindo-se o Unreal com 23%, o Blender com 13% são a principal base da produção no Brasil.
O estudo foca ainda na mão-de-obra qualificada e diversificada, salientando que 12.441 pessoas já são empregadas pela indústria de gaming no Brasil. O número de mulheres tem crescido, em 2014 eram 15%, em 2018 eram 20%, mas atualmente, 29,8% já são mulheres. Também há cursos de graduação de jogos, com 4.11 ofertas de cursos de jogos digitais e design, listados no Ministério da Educação. O sector privado é o principal responsável, com 99,73% da oferta de cursos. 3.965 graduados anuais na área dos videojogos, revelando que é possível fazer uma carreira académica em gaming.
É referido que 93% dos developers brasileiros criam propriedades intelectuais e mais de metade (59%) utilizam a sua própria IP, sendo que 13% fazem licenciamento a terceiros. Praticamente todos os produtores nacionais desenvolvem jogos ou prestam serviços associados, seja a localização de jogos, a sonorização, monetização ou gamificação. A propriedade intelectual pode dar origem a brinquedos e outros produtos associados.
Os pequenos estúdios têm assim novos contratos de parceria de licenciamento. E a Abragames pretende “atacar” esse assunto com a própria comunidade, abrindo dessa forma uma maior fonte de receita para os mesmos. Na sua capacidade de produção, os estúdios nacionais desenvolvem jogos completos com IPs próprias e conquistam não só jogadores no Brasil, como no panorama internacional, prestam ainda serviços de valor acrescentados para esses clientes estrangeiros, demonstrando dessa forma a sua capacidade técnica e comercial.
E pelo estudo, praticamente todas as áreas de desenvolvimento já são preenchidas pelo talento do Brasil, estando pronto para licenciar a terceiros esse mesmo. “Vivemos no mundo dos dados e só com estes é que podemos mudar a visão do Governo”, disse o Eros Ramos da Apex Brasil, como estratégia de desbloquear o apoio do Estado para a indústria.
Rodrigo Terra afirma que o mapeamento é atual, mostrando um crescimento de protótipos de projetos, provas de conceitos para mostrar às grandes editoras. Na principal fonte de receita de um jogo passam pelo entretenimento (76%), os educacionais são 12%, advergames 6% e simulador 1%. O mobile, como referido, representa a maior fatia das receitas.
Já a fonte de rendimentos dos estúdios é, ainda, investimentos próprios dos empreendedores ou empresas, atentos a oportunidades de aceleração de crescimento. Os recursos públicos são de origem de editais específicos para jogos, para tecnologia e cultura, a nível municipal e estadual. A Sony, Tencent, Ubisoft, Riot Games, Microsoft, Blizzard e Google são algumas das grandes empresas tecnológicas internacionais com olho no Mercado brasileiro.
No fim, a mensagem que fica para os developers é manter-se no ecossistema, independentemente do tamanho, da faturação ou da área. A Abragames pretende abraçar todos os projetos e projetar a nível internacional. O Brazil Games é assim o programa de exportação de videojogos, numa parceria entre a Abragames e a Apex Brasil, aberto a todos os estúdios que se querem lançar além-fronteiras.
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