No ano passado, com o primeiro confinamento, o ensino à distância foi considerado um sucesso com o esforço de adaptação das escolas, professores, alunos e famílias, identificando-se porém a falta de recursos. Os dados do levantamento realizado pelos professores junto dos encarregados de educação nunca foram partilhados, mas não faltaram relatos de alunos que não tinham computador e assistiam às aulas no telemóvel, ou os que não tinham internet e tinham de recorrer a “empréstimo” da rede.

Em setembro as aulas arrancaram em modo presencial, e a entrega dos computadores planeada no programa Escola Digital foi sendo adiada, apesar das referências de que os concursos e entregas estavam por semanas. O SAPO TEK foi questionando o Ministério e teve a indicação de que até ao final do primeiro período seria entregue o primeiro lote de 100 mil computadores.

Com o agravamento da pandemia e a decisão de retomar agora o ensino à distância, que também se tentou evitar com uma primeira decisão de interrupção letiva até 8 de fevereiro, o processo de equipar os alunos para voltarem a ter aulas em casa tornou-se outra vez urgente. E nos últimos dias foram conhecidas várias iniciativas a mobilizarem-se para conseguir garantir as ferramentas para que seja possível acompanhar as aulas pela internet.

As associações de diretores das escolas garantem ao SAPO TEK que há condições para que as aulas continuem à distância, apontando porém algumas falhas, mas a Federação Nacional dos Professores, Fenrpof,  é mais radical e afirma que a decisão do Governo de retomar o enino não presencial, acontece “sem garantir as condições para a sua realização, incluindo as fixadas na lei sobre teletrabalho”, referindo ainda “constrangimentos” como a falta de computadores e ligação à Internet..

Escolas preparadas mas com falta de recursos

“Desde o início do ano letivo que todas as escolas estão preparadas para várias possibilidades de trabalho. Todas as escolas prepararam durante o período de Verão planos de Contingência para dar resposta a todas as situações possíveis. Para avançar com ensino presencial; Ensino Misto ou Ensino à distância. Portanto todas as escolas, desde setembro passado, estão preparadas para qualquer uma dessas três possibilidades”, explicou ao SAPO TEK Manuel António Pereira, presidente da ANDE - Associação Nacional de Dirigentes Escolares.  Mas avisa também que “sobram problemas que nunca foram totalmente resolvidos”, entre os quais os computadores prometidos, apenas chegaram para alunos do Ensino Secundário apoiados pela ASE (Ação Social Escolar).

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Segundo adiantou em entrevista, na região da Grande Lisboa e Algarve também chegaram para os outros alunos do Ensino Básico.

Para Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas,  “estão em falta milhares de computadores, tendo em conta a promessa referida e as necessidades de cada escola, tendo em conta o levantamento efetuado”.

Manuel António Pereira diz que não tem o levantamento rigoroso das necessidades, mas que “pensamos que só para os alunos que são apoiados pela ASE serão ainda necessários cerca de 300.000 computadores”, e a este número somam-se também as necessidades das escolas.

“É preciso também pensar que as escolas precisam urgentemente de ver o seu parque informático atualizado para além de que, também, será necessário apoiar alguns professores”, afirma o presidente da ANDE.

Na prática a situação é bastante melhor do que foi em março de 2020, admite, até porque entretanto houve vários apoios, nomeadamente de autarquias, que forneceram alguns computadores e disponibilizaram acesso à internet para alguns alunos.

“Sobrarão ainda assim muitos alunos sem meios informáticos disponíveis. Para esses, agora bem menos, está previsto recorrer a diversos apoios locais ou paroquiais para que ninguém seja esquecido ou abandonado”, justifica, dizendo que “o grande desafio é, em todas as circunstâncias, não deixar ficar ninguém para trás e garantir o cumprimento de princípios constitucionais básicos fundamentais como o direito à igualdade e à equidade”.

É preciso mais técnicos informáticos nas escolas para garantir o programa Escola Digital
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As autarquias mas também algumas iniciativas solidárias têm vindo a mobilizar-se para fornecer equipamentos aos alunos mais necessitados. A Student Keep, por exemplo, já terá entregue 2 mil computadores recondicionados.

Equipamentos à parte, a experiência de ensino à distância no final do ano passado, que teve de ser preparada em muitos casos com grande dose de improviso, é uma mais valia para esta nova fase. “A experiência fez aumentar as competências digitais e informáticas dos nossos alunos e professores, recorrendo a diversas metodologias para aprender/ensinar”, defende Filinto Lima.

Computadores a menos e entregas tardias

O programa Escola Digital, que foi apresentado no início de 2020 para equipar as escolas com computadores, software, manuais digitais e também com programas de formação, foi decidido antes da pandemia mas acabou por avançar tarde, e ter alguns problemas de fornecimento de Pcs, com admitia o ministro da Educação, face a uma procura intensa a nível global. Mas até final do primeiro período o Governo garantia que teriam sido entregues 100 mil computadores nas escolas, que ficaram com a responsabilidade de os distribuir pelos alunos do ensino secundário, dos escalões A e B, a titulo de empréstimo.

Os últimos dados partilhados pelo ministro Tiago Brandão Henriques dão conta de que já foram adquiridos mais 335 mil computadores, que chegarão às escolas ainda no segundo período.

O SAPO TEK foi recebendo muitas perguntas dos encarregados de educação que não tinham ainda sido contactados para entrega dos equipamentos e questionavam até se os filhos teriam direito, e esta semana já tivemos conhecimento de casos, na zona da Grande Lisboa, onde os PCs estão a ser entregues a alunos do Escalão B.

Estes serão equipamentos do “lote” dos 100 mil computadores que terão sido entregues até dezembro e que são agora distribuídos, provavelmente por atraso dos serviços ou até por redistribuição já que também foi tornado público que alguns encarregados de educação estarão a recusar-se a receber os equipamentos por não aceitarem que isso aconteça a título de empréstimo e por não quererem responsabilizar-se. Recorde-se que há um auto de responsabilização que obriga à devolução do computador sem danos no final do ciclo de estudos.

Ensino presencial ou à distância?

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues deixou bem claro na semana passada, em conferência de imprensa, a sua preferência pelo ensino presencial, que afirma ser aquele que garante maior equidade para todos os alunos. Mas com o agravamento da pandemia e as novas medidas ontem assumidas pelo Governo, acabou por admitir que as aulas serão retomadas depois de 8 de fevereiro, em regime não presencial, afirmando também que as escolas estão preparadas como vinham a garantir os diretores das associações.

Manuel António Pereira, da ANDE - Associação Nacional de Dirigentes Escolares, e Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, são também unânimes a defender que o ensino presencial tem vantagens, apesar de garantirem estar preparados para modelos à distância.

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“Naturalmente que concordamos plenamente com a afirmação de que nada pode substituir o ensino presencial e que esta deve ser sempre a primeira opção. A prova é exatamente a experiencia do ano letivo anterior”, afirma Manuel Pereira, explicando que “há muitos alunos que precisam da presença dos seus professores para poderem consolidar aprendizagens fundamentais. O melhor exemplo é o caso do 1º Ciclo”.

“À distância só é possível se as crianças tiverem forte e constante apoio em casa. Como se sabe esse apoio não existe em muitos casos”, reforça o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares.

Mas a proteção da Saúde tem de ser colocada de forma prioritária, avisa Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas. “Só devemos substituir o ensino presencial por outro plano de ensino, mediante parecer dos especialistas em saúde pública, pois o prejuízo para todos é notório. O ensino a distância é um mal…menor. Se tiver de ser…que seja pela nossa saúde”.

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