Se há uns anos as medidas eram de incentivo à digitalização do espaço escolar, no presente decisores de vários países parecem estar a reconsiderar as vantagens da tecnologia, nomeadamente o uso de smartphones nas escolas, principalmente nos primeiros anos de escolaridade, mas não só.
Há por isso um movimento global para banir os telemóveis das escolas, que tomou vários países “de assalto”, uns mais do que outros, e que também já chegou a Portugal. As opiniões dividem-se e discutem-se argumentos sobre o prejuízo da aprendizagem e os danos para a socialização e a alienação tecnológica e a perda de oportunidades educativas que medidas do género poderão causar.
É um facto que de Paris a Seul, de Amsterdão a Miami, são muitas as vozes que apontam os efeitos nocivos para a aprendizagem e socialização que crianças e adolescentes experimentam quando se permite o uso de smartphones nas salas de aula e nos intervalos.
Estima-se que um quarto dos países em todo o mundo proíba, de alguma forma, o uso de telemóveis nas escolas. A França foi um dos primeiros, em 2018. A medida versou alunos com menos de 15 anos e só abrangia o momento de aula, permitindo a utilizações nos intervalos.
Atualmente o Ministério da Educação francês quer ir mais além e tem a decorrer um teste em 200 escolas para a proibição total dos equipamentos. Implementar uma “pausa digital” visa melhorar o desempenho académico e combater o bullying, alega o Governo, mas pode ser ineficaz e custoso, defende quem é contrário à proposta.
A França não está sozinha: na Suécia é o Ministério da Saúde que tem andado a falar de "desdigitalizar" os jovens. Citando "graves danos à saúde física e mental", a pasta defende legislação para banir smartphones das escolas para alunos até ao 9º ano. Algumas instituições de ensino já adotaram a medida voluntariamente.
O Brasil é outro país onde o assunto está na ordem do dia, com a preparação de um projeto de lei que dará força jurídica a uma medida e proibição já adotada por escolha própria em várias escolas. Num primeiro momento, os telefones só seriam permitidos em casos excecionais, como para aulas focadas em competências digitais ou para pessoas com necessidades especiais.
Em Portugal o Governo fez uma recomendação às escolas, sugerindo a proibição da entrada e uso de telemóvel nos 1.º e 2.º ciclos e restrições no 3.º ciclo que desincentivem a utilização dos telemóveis, sugerindo que no ensino secundário os próprios alunos deverão estar envolvidos na definição de regras.
"Hoje, temos muita evidência de que a utilização de smartphones pode ser uma desvantagem para as aprendizagens e temos também muita evidência de que, em determinadas idades, pode deteriorar o bem-estar das crianças", referiu o Ministro da Educação, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do Conselho de Ministros que aprovou a recomendação.
Estão previstas exceções, por exemplo, para os alunos com "muito baixo domínio da língua portuguesa", para que os telemóveis possam servir como instrumento de tradução, ou para aqueles que "beneficiem comprovadamente de funcionalidades do smartphone por razões de saúde". O responsável ressalvou, além disso, que as medidas serão de adesão voluntária por parte das escolas.
À margem da entrevista sobre eMental Health que deu ao SAPO TEK , Tom Van Daele confessou que de início estava um pouco cético em relação à proibição, mas que agora reconhece que tais políticas podem ser válidas, quando o foco é a aprendizagem e a promoção das interações pessoais, mas sem “demonizar” a tecnologia, que também tem os seus benefícios.
“A tecnologia por si só não é má, nem as interações sociais online são prejudiciais por padrão. Às vezes, com todas as histórias sobre body shaming, bullying e outras coisas terríveis, há tendência para esquecer que o online e as redes sociais têm potencial para fazer coisas realmente impressionantes”.
O equilíbrio será a melhor abordagem ao assunto. “Para mim o tema por vezes é controverso pela maneira como é frequentemente enquadrado, da proibição dos telemóveis porque são intrinsecamente maus. Não: os telemóveis devem ser proibidos nas escolas para criar espaço para as interações sociais tradicionais ou para não prejudicar a aprendizagem”.
As medidas também devem promover a educação para o uso saudável, acrescentou, porque se por um lado os telemóveis prejudicam a aprendizagem, também podem ser ferramentas úteis para o mesmo fim. O desafio será sempre encontrar o equilíbrio entre proibir o uso excessivo e explorar o potencial educativo.
Tom Van Daele encara a questão dos telefones nas escolas semelhante à forma como olha para a saúde mental. “As ferramentas tecnológicas são algo adicional às interações convencionais. No momento em que começam a substituí-las completamente, algo está errado”.
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