Existe alguma confusão e desconforto nas redes sociais e comunidades dedicadas ao gaming pela quantidade de eventos dedicados aos videojogos que existem atualmente em Portugal. Até aqui, o Lisboa Games Week sempre foi a meca para qualquer fã e entusiasta de videojogos e vai voltar nos dias 21-24 de novembro, mas 2019 já viu acontecer a “estreante” Worten Game City em maio, o MOCHE XL ESPORTS no passado fim-de-semana de junho, e há ainda a Comic Con, que ainda que seja mais focado na cultura pop, os videojogos são uma presença forte. E agora surge um novo evento, o XL Games World, revelado esta semana e que vai acontecer em 14-17 de novembro, ou seja, no fim-de-semana anterior ao Lisboa Games Week (21-24 novembro) e com apenas quatro dias de distância um do outro.
Tal como o SAPO TEK tinha adiantado anteriormente, no final do MOCHE XL ESPORTS, Pedro Silveira, responsável pela E2Tech anunciou oficialmente o novo evento, XL Games World, o que suscitou estranheza, visto que a empresa era a coorganizadora com a AIP FIL do Lisboa Games Week (LGW), dando assim a confirmação dos rumores de que ambas as empresas tinham rumado em direções distintas.
Logo após o anúncio, o SAPO TEK teve oportunidade de questionar Pedro Silveira para saber um pouco mais sobre o novo evento, que respondeu que se trata de uma experiência diferente de uma feira de videojogos, ainda que em linha com tudo o que a empresa fez até agora, “vamos transportar os visitantes para uma outra dimensão”, remata. Os detalhes estão ainda no segredo dos deuses, destacando que o evento vai contar com grandes parceiros, uma grande componente de eSports, mas quer introduzir novas experiências e antestreias de novos títulos, rematando para mais tarde mais informações sobre o XL Games World, até porque nenhum “grande parceiro” tinha ainda garantido a presença no certame.
Questionado sobre a separação da E2Tech da organização com a AIP FIL do Lisboa Games Week, Pedro Silveira afirmou que as empresas não se entenderam este ano. “Nós coorganizávamos o LGW desde 2014. A FIL dava os pavilhões e nós o know how de todos os anos que temos a organizar eventos de videojogos em Portugal, desde a XL Party. Mas não nos entendemos, por razões variadas, não partilhamos das mesmas visões e decidimos não continuar com a parceria”.
Pedro Silveira afirmou ainda, durante a entrevista, que solicitou à AIP FIL, que registou a marca Lisboa Games Week, que esta fosse descontinuada, mas a resposta foi que a Fundação iria dar continuidade à mesma. “Eu não respeito, nem compreendo, porque as coisas não se fazem assim”, salientou o administrador da E2TEch, referindo que cada empresa iria seguir o seu caminho.
O empresário tem, no entanto, noção que ambos os eventos se poderão canibalizar, por serem feitos uma semana após outra, mas diz estar preparado para o pior cenário: “podemos não ter o mesmo sucesso que tivemos até aqui neste primeiro ano, mas no segundo tenho a certeza que as pessoas vão perceber onde está a melhor experiência”. Pedro Silveira refere que não deseja comunicar “contra” o Lisboa Games Week, porque “é o nosso bebé, mas tal como fizemos um monstro, faremos um novo monstro”.
O empresário foi, no entanto, cauteloso no que diz respeito às parcerias firmadas, não tendo confirmado quem vai estar presente, e as que já estão confirmadas “estão em segredo”. O SAPO TEK sabe que o IndieX, a montra internacional de jogos indie que estreou no ano passado no Lisboa Games Week transita para o novo evento. Estão ainda confirmadas as finais da quarta temporada da Master League Portugal no XL Games World, dando continuidade à forte aposta nos eSports, vista no MOCHE XL ESPORTS no Altice Arena, que também já tem confirmação de edição no próximo ano para Lisboa e estreia em Braga.
O SAPO TEK teve oportunidade de ouvir o outro lado da “barricada” a AIP FIL, mas antes disso procurou perceber qual era a posição dos “grandes parceiros” essenciais para a realização de eventos de videojogos. Questionada sobre a presença da PlayStation nos dois eventos ou num ou outro, a resposta que o SAPO TEK recebeu foi “de momento a Sony Interactive Entertainment Portugal nada tem a anunciar sobre a sua presença em qualquer um dos eventos que se realizarão no segundo semestre de 2019”, nas palavras de João Lopes, da PlayStation Portugal.
A resposta da Nintendo também não foi conclusiva e até defensiva: “Há vários anos que a Nintendo tem marcado presença numa série de eventos de Norte a Sul de Portugal, sempre com o objetivo de colocar um sorriso na face das pessoas. Em 2019, o cenário mantém-se inalterado e a Nintendo procurará apoiar todos os eventos cujo conceito e público-alvo se enquadrem na estratégia de comunicação para a marca. Para ficarem a par dos planos da Nintendo para os eventos que decorrerão em Portugal até ao final do ano, os consumidores deverão manter-se atentos ao site oficial e redes sociais da Nintendo para conhecerem em primeira-mão todas as novidades”, referiu Jorge Vieira, Product Manager da Nintendo Portugal.
Ainda contactámos a Asus, parceira tecnológica do palco principal de eSports do Lisboa Games Week e presença assídua nos principais eventos. Em resposta, a fabricante respondeu que "neste momento ainda não temos fechadas as presenças em todos os eventos de 2019. No entanto, devido ao nossa colaboração com a Master League Portugal by ASUS a nossa presença com o palco principal de CS:GO da XL Games World está desde já assegurada" adiantou André Gonçalves, Relações Públicas da Asus Portugal.
A versão da AIP FIL do “caso” Lisboa Games Week
Para obter a visão de todos os envolvidos, o SAPO TEK solicitou uma entrevista com a administração da AIP FIL, a detentora da marca Lisboa Games Week, sobre os primeiros detalhes do próximo evento, procurando igualmente esclarecer a separação da organização e a revelação do novo evento por parte do seu antigo parceiro E2Tech. O TEK sentou-se à mesa com Pedro Braga, diretor geral adjunto da FIL e Luis Pinto, gestor de feiras da FIL, que leva a pasta do LGW, que conferiu em primeira-mão ao TEK os primeiros detalhes da sua sexta edição, que vamos revelar num artigo em separado.
“A FIL organiza feiras desde os anos 1890 e o Lisboa Games Week é um projeto pelo qual temos um enorme carinho, mas é mais um projeto entre os 30 que desenvolvemos anualmente”, realça Pedro Braga, destacando que passam mais de um milhão de pessoas por ano entre os eventos que organiza. “A Lisboa Games Week é uma marca pertencente à Fundação AIP e organizado pela FIL e ao longo deste caminho tivemos diferentes parceiros, que aqui e ali, com o seu know how nas diferentes áreas de intervenção em que tenhamos necessidade, vão ajudando a fazer os eventos. Ao longo destes cinco anos tivemos uma afirmação do LGW como o maior evento de gaming no panorama nacional, que nos levou a fazer um plano de estratégia de crescimento em que tomámos algumas decisões”, avançou ao SAPO TEK Pedro Braga.
A estratégia da empresa é aproveitar o bom posicionamento atual de Portugal na área de turismo de negócios, e tentar explorar o caminho da internacionalização do evento, sobretudo a vizinha Espanha, ao longo dos próximos três anos. Para tal, muitos dos conceitos base do Lisboa Games Week irão focar-se no engagement da família e atrair visitantes mais jovens para experimentar os jogos, aquilo que a FIL chama de conceito “inter-geracional”, ou seja, avôs, pais e filhos. A empresa espera reforçar os conteúdos para todos, mas “algo totalmente diferente do que foi experienciado até hoje”, salienta Pedro Braga.
A FIL considerou que o Lisboa Games Week necessitava de um novo impulso para atingir novos públicos, e para isso, requeria conteúdos distintos. A empresa, olhando para dentro, reconhece que no ano passado o evento não estava a ter o crescimento ambicionado, e por isso requereu afinações, quer a nível de conteúdos, como de parcerias.
Quando questionado sobre a ausência de informação no website sobre o evento, uma vez que já estão a ser vendidos bilhetes sem a revelação dos conteúdos, Pedro Braga refere que o anterior website e a página do Facebook desapareceram “misteriosamente” do ar, tendo tomado já as devidas providencias legais, uma vez que alega pertencerem à Fundação AIP. Sobretudo quando a página do Facebook reapareceu com o nome do evento rival.
“Queremos pedir serenidade ao mercado e sobretudo aos parceiros, fornecedores e os expositores que nos têm confiado a honra de estarem presentes, pois a FIL não vai contribuir em nada para entrar num clima de perturbação de um mercado que pretendemos todos seja de crescimento, e que uma vez que hajam regras de boa competição e boa vivência, exista espaço para todos, mediante a apresentação de projetos com qualidade”.
Nos próximos dias e semanas a organização irá começar a anunciar de forma gradual, os conteúdos e surpresas para a nova edição do Lisboa Games Week que já está anunciada há mais de um ano. “Se há alguém que está a causar perturbação no mercado, certamente não será a FIL que é dona do evento que organiza há seis anos”, destaca o administrador da FIL.
“A FIL organiza eventos há muitos anos. Sabemos que vamos estar cá durante muitos anos e merecemos o respeito e o crédito de clientes nacionais e internacionais e mais uma vez, o que vamos fazer com este nosso produto é introduzir todas as nossas nuances e dinâmicas que entendemos que já deveriam ter sido introduzidas no sentido de afirmar o evento para o futuro. Nós não fazemos planos de eventos a um ou dois anos, fazemos a cinco ou 10 anos. Queremos que as pessoas percebam que o Lisboa Games Week é um evento que está para ficar e para consolidar, não como apenas um evento nacional ligado ao sector dos jogos, mas um que vai saltar fronteiras e tornar-se referência internacional no panorama do gaming”.
O SAPO TEK pediu para comentar as palavras de Pedro Silveira sobre o pedido de descontinuação da marca, uma vez que a E2Tech não estaria envolvida na organização. Pedro Braga não quis adiantar muitos comentários sobre o tema, destacando que as regras eram claras no que diz respeito a negócios: “aquilo que chamo de eventos próprios, todas as respetivas marcas são registadas pelo grupo da Fundação AIP. É preciso contextualizar as coisas. Não me parece que a E2Tech tenha competências para organizar feiras relacionados com o sector da formação, mas se formos ao website da empresa, ela tem lá como referências a Futurália, que é uma feira que organizamos há muitos, muitos anos e em que eles tiveram uma pequena intervenção como têm milhares de outras entidades”.
Pedro Braga refere que a E2Tech é um parceiro que lhe merece todo o respeito, que esteve ligado ao longo dos anos ao Lisboa Games Week. “Mas é apenas isso, um parceiro. Pela lógica da E2Tech, a empresa de segurança que temos cá sempre durante os eventos, porque é a mesma que trabalha aqui há muitos anos, ou a das limpezas e a de audiovisuais também podiam reclamar os créditos e sentirem-se donos dos eventos que cá fazemos. Nunca houve um contrato firmado entre ambas as partes, porque a FIL nunca faria um contrato sobre um evento que é seu. Sempre pensei que cada um soubesse qual o seu lugar: um era o prestador de serviços e a outra era dona do evento. Não há mais nada a discutir”.
O SAPO TEK quis saber a opinião da FIL sobre a quantidade de eventos de videojogos em Portugal, sobretudo a realização dos dois eventos concorrentes em novembro, se isso não iria causar a divisão do público e parceiros de negócio. “A concorrência é sempre desejável, mas a dimensão do nosso país, entendo que para um conjunto de parceiros estratégicos neste tipo de eventos, sentem que este não é o cenário mais desejável, porque no fundo vão tomar opções e se posicionar sobre qual o evento que melhor poderá corresponder aos seus interesses. É uma escolha livre, que pertence aos parceiros e aos players do mercado. Mas repito, se alguém fez aqui algum ruído, não foi a entidade que faz os eventos nas mesmas datas do calendário desde há cinco anos até agora. Considerando que a concorrência é muito saudável, e respeitando qualquer outra empresa que realize eventos, como a E2Tech, se fosse, como gestor da FIL, a tomar essa decisão, eu diria que seria desejável que fosse olhado para o calendário de forma mais esclarecida e menos emocional, e tivesse feito as coisas para acontecer noutro timing para que se criasse condições para que todos aqueles que querem coexistir no mercado, tivesse o menor impacto possível por esta decisão que foi tomada. Eu teria feito de outra forma, mas respeito quem decidiu assim”, destaca Pedro Braga.
Findo as explicações da sua versão da história, a FIL revelou ao TEK os planos e estratégias iniciais para a próxima edição, em primeira-mão, que será publicado num artigo isolado.
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