Apesar de 2021 ter sido “um ano particularmente difícil” com um ambiente de grande incerteza motivado pelos vários confinamentos, com o impacto na economia e desempenho das empresas a que se somou o constrangimento na produção mundial de componentes e problemas de logística com bloqueios nos portos, a área das tecnologias da informação beneficiou da elevada procura e da necessidade de recursos para trabalhar e estudar em casa.
“Para a HP Portugal este foi um ano excelente. Em termos de receita foi o melhor ano desde que temos as contas organizadas desta forma e conseguimos manter a liderança da quota de mercado no segmento de consumo e profissional, excluindo o tema da educação”, afirmou José Correia, diretor geral da HP Portugal, em entrevista ao SAPO TEK.
Os números partilhados na entrevista não deixam dúvidas sobre o crescimento das vendas globais de computadores no mercado de consumo e no segmento profissional, mas sobretudo na educação, que “foi o grande catalisador em 2021”. Também na impressão se registou crescimento, mesmo no consumo, com as famílias a comprarem impressoras para ter em casa para o trabalho ou as necessidades escolares dos filhos.
“Foi muito forte o crescimento do mercado de PCs”, afirma José Correia. Depois de um ano de 2020 com grande crescimento, o segmento de consumo voltou a crescer a dois dígitos em 2021, com uma subida de 10%, com a HP a vender 140 mil unidades, mais 66% e muito acima da média do mercado. A IDC já tinha confirmado dados para o mercado português e um crescimento de 43,7% só no 4º trimestre de 2021.
“Ficámos com uma quota de mercado de 29%, 10 pontos acima de 2020”, adianta José Correia que detalha que na área de gaming o volume de negócios em unidades e receita mais do que duplicou.
O segmento profissional teve também um desempenho positivo, crescendo 15% em 2021, depois de ter subido 22% em 2020, uma tendência que se explica “pela urgência em renovar os equipamentos que continuou a existir em 2021”. “Muitos computadores não tinham as características técnicas que eram necessárias para as novas exigências, em termos de processamento e de câmara e som, que permitissem responder ao maior número de videoconferências”, justifica o diretor geral da HP Portugal.
José Correia admite também que no consumo houve claramente um acréscimo do preço médio de venda dos equipamentos, com menos disponibilidade de oferta em entrada de gama, a aposta nos modelos premium e também no gaming. “As pessoas procuraram equipamentos com melhores características e isso beneficiou os segmentos mais premium”, defende.
Na área profissional José Correia separa os equipamentos vendidos para o segmento da educação do resto das vendas empresariais, embora nos dados de consultoras como a IDC estes estejam agregados. O crescimento com a área de educação foi de 136%, mas se retirarmos esta fatia de negócio da equação o crescimento do mercado profissional fica pelos 10%.
A estratégia do Governo para a educação mereceu elogios e José Correia destaca que o peso do programa Escola Digital é muito importante nos dados de vendas, com a entrega de mais de 1 milhão de computadores a alunos e professores que decorriam de três fases de concursos e que são responsáveis pela venda de 660 mil unidades em 2021.
“Este é um número extraordinário […] pelo que conheço, em países da Europa, face à população e ao número de unidades que o Governo colocou, fomos dos países que mais investiram num projeto desta natureza”, destaca.
Nesta área a HP Portugal acabou por ter um contributo reduzido, entregando apenas 90 mil computadores em 2021 que se somam a cerca de 20 mil em 2020 porque a empresa não conseguiu ter mais disponibilidade aos preços definidos pelos cadernos de encargos.
Expectativa positivas para 2022
E depois destes dois anos de crescimento, quais são as perspetivas para 2022? José Correia admite que é preciso olhar para 2022 de forma mais cautelosa, apesar de não abdicar de expectativas positivas. “Acreditamos que ainda há espaço para a renovação do parque instalado. Muitos PCs ainda não têm as características atualizadas, em termos de câmara, som e até peso. A hipermobilidade já faz parte da nossa vida”, justifica.
No consumo o diretor geral da HP defende que “a renovação do parque de computadores das famílias não se esgotou nestes dois anos”, mas o contexto económico não é favorável, com o aumento dos custos de energia, combustíveis e a inflação a influenciarem negativamente o rendimento disponível. Ainda assim, José Correia afirma que a HP Portugal não desiste de proporcionar melhores condições. “Temos consciência do peso que temos e da força da marca e estamos empenhados em trazer dinâmica na oferta, com inovação e promoções para ver se conseguimos contrariar esta situação”, explica.
Para o mercado profissional a visão é mais otimista, baseada na necessidade de continuar a apostar num estilo de trabalho híbrido que exige maior mobilidade e boas condições para produtividade. “Vemos dinâmica forte em projetos de renovação de parques de computadores”, adianta José Correia que diz que isso acontece nas empresas e também na Administração Pública.
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem como um dos pilares a transição digital, é mais um elemento que vai ajudar bastante no reforço do parque de equipamentos na Administração Pública e nas empresas, e há uma necessidade de compra de equipamentos que não foi satisfeita nos últimos anos por causa dos problemas do mercado de semicondutores que começa agora a ser recuperado.
“O ano de 2022 já vai ser mais estável na cadeia de fornecimento e podemos recuperar o backlog que existia, mas ainda vai ser difícil”, admite José Correia, lembrando que na China a política de fechar cidades devido a casos de COVID-19 acaba por ter um grande impacto na produção.
A inovação na linha de equipamentos é também uma das apostas da HP que pode ajudar a dinamizar o mercado. “Investimos mais de 2 mil milhões de dólares só em inovação, não só de produtos mas também em serviços e processos internos […] queremos transformar indústrias e temos uma aposta muito forte na área gráfica e na melhoria da experiência do utilizador para um trabalho cada vez mais em modelo híbrido […]hoje a qualidade das câmaras, do som, a capacidade de processamento e a bateria não têm nada a ver com o que existia há três anos”.
No segmento profissional a empresa não faz concessões e quer garantir a melhor segurança. “Queremos ser a empresa de computadores e impressoras mais seguros do mundo […] Continuamos a insistir muito nos serviços, hardware e software, num ecossistema que queremos que seja totalmente seguro mas ao mesmo tempo eficiente para ser gerido remotamente, o utilizador exige esta simplicidade”, adianta.
A tendência para o device as a service, que já está bem implementada no segmento de impressão profissional, vai continuar a crescer e José Correia acredita que o trabalho híbrido é um catalisador para que as empresas venham a adotar estes modelos de serviço e garantia de funcionalidade do posto de trabalho. “Hoje o principal tema é como se pode conseguir criar uma experiência de gestão tecnológica para os postos de trabalho”, uma área onde antecipa crescimento também em 2022.
Nota da redação: Foi feita uma correção no número de computadores entregues aos alunos e professores
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