O mundo precisa de um tratado para evitar que um ciberataque desencadeie uma guerra, defendeu o secretário-geral da União Internacional de Telecomunicações (UIT), Hamadoun Touré, este fim-de-semana, em Davos, na Suíça.

Com o tema dos alegados ataques ao Google por parte da China a marcar presença na discussão, o chefe da agência para as telecomunicações e tecnologia da ONU aproveitou o Fórum Económico Mundial para alertar para o risco de "ciberconflitos" entre dois países que, segundo disse, cresce a cada ano, reporta a Agência France Press.

Um tratado em que cada país se comprometa a não perpetrar o primeiro ataque informático contra outra nação, foi a proposta apresentada pelo secretário-geral da UIT para fazer face à situação actual de "eminência" daquilo que, segundo Touré, seria "pior que um tsunami": uma ciberguerra. Como exemplo de quão desastroso poderia ser um conflito apoiado nos meios informáticos, o responsável citou o exemplo dos ataques à Estónia durante o ano passado.

Hamadoun Touré alertou também a necessidade de evitar que um ataque informático comece uma guerra nos moldes "tradicionais", até porque, durante o encontro, peritos em segurança terão sustentado que actualmente um ciberataque pode ser considerado uma "declaração de guerra".

Para este responsável, o tratado proposto seria como um "tratado de paz", antes de iniciada a guerra. Com a assinatura do documento, os países deverão garantir a protecção dos seus cidadãos e o seu direito ao acesso à informação, comprometendo-se a não albergar "ciberterroristas" e a não atacar os outros países pela via informática, detalhou Touré.

O ex-director dos serviços de inteligência norte-americanos, John Negroponte, já disse que os serviços de inteligência das grandes potências mundiais serão os primeiros a "apresentar reservas" a um acordo deste género.

A perspectiva de um ataque informático desencadear uma guerra que extravase as fronteiras "informáticas" é cada vez mais uma realidade assumida, até porque os ataques são passíveis de causar estragos em várias estruturas vitais a um país.

"Se alguém bombardear a nossa rede eléctrica e virmos os bombistas a caminho isso será claramente encarado como um acto de guerra. Se o mesmo país recorrer a esquemas informáticos sofisticados para desactivar a nossa rede eléctrica, eu penso que estamos definitivamente mais perto de considerá-lo um acto de guerra", disse à AFP Susan Collins, uma senadora norte-americana com assento em vários comités na área da defesa e administração interna do país.