Hoje assinala-se o Dia Mundial do Livro, uma data criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1996 para celebrar a importância da leitura e para promover a literatura como elo de ligação entre passado e futuro e como uma ponte entre gerações de múltiplas culturas.
Numa altura em que o contexto da pandemia levou cada vez mais pessoas a encontrar um “porto seguro” nas obras literárias, Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, sublinha que para podermos aproveitar totalmente o potencial que os livros podem trazer para a nossa vida é necessário garantir que estes sejam acessíveis a todos.
É neste contexto que as tecnologias de assistência desempenham um papel fulcral para quem tem dificuldades ou deficiências visuais, seja em contexto escolar ou como auxílio à leitura. Embora a evolução tecnológica tenha levado à criação de métodos que permitem a estas pessoas cultivar o gosto pela leitura, ainda existem limitações.
A OrCam Technologies está empenhada na missão de tornar o mundo da leitura mais acessível, ajudando os utilizadores a ultrapassarem barreiras. Fundada em 2010 por Amnon Shashua e Ziv Aviram, que também cofundaram a Mobileye, a empresa israelita explora o potencial da visão artificial e materializou-o em dois equipamentos wearable: o OrCam MyEye e o OrCam Read.
Em entrevista ao SAPO TEK, Fabio Rodriguez, Regional Manager da OrCam Technologies para Portugal e Espanha, explica que a “tecnologia de assistência está a crescer a um ritmo acelerado” e que a empresa se quer diferenciar através do seu “profundo conhecimento tecnológico e foco na criação de produtos que têm em conta a experiência do utilizador”.
Tornar os equipamentos o mais “user-friendly” possível para as pessoas cegas e amblíopes, ou com dificuldades visuais, de leitura e de reconhecimento facial é um ponto-chave e o feedback que a OrCam Technologies tem vindo a receber desde que chegou ao mercado tem sido crucial.
“O feedback dos utilizadores tem sido muito positivo”, conta Fabio Rodriguez, destacando as experiências partilhadas durante a pandemia por várias pessoas que, através das redes sociais, davam a conhecer como o OrCam os estava a “ajudar a se manterem ativos e motivados”.
“Muitas histórias tinham um ângulo semelhante: idosos que agora viam-se com menos acesso ao mundo exterior e menos auxílio conseguiam com o dispositivo ler livros e jornais independentemente, o que apesar de tudo levantava o seu ânimo”.
Já no contexto escolar, que se viu profundamente alterado devido à crise de saúde pública, vários estudantes com dificuldades ou deficiências visuais conseguiam, graças ao OrCam, “colmatar a falta de assistência em pessoa dos professores ou auxiliares, progredindo com o seu trabalho nestes meses mais desafiantes”.
“Adicionalmente, do feedback que temos dos nossos parceiros locais consideramos que a maior vantagem sentida está relacionada com a facilidade e instintividade de utilização”, afirma o responsável.
Por exemplo, de acordo com a Ataraxia, um dos parceiros da empresa em Portugal, “o OrCam MyEye tem trazido a simplicidade de utilização e a eficiência de leitura que muitos clientes, mesmo sem conhecimentos informáticos, procuram para a perda de visão tipicamente associada à idade. É simples de usar, fácil de transportar e lê sem erros o que faz toda a diferença para o dia-a-dia das pessoas que dele necessitam”.
Colocar o poder da visão artificial ao dispor de quem mais precisa
Apesar de ambos se basearem a tecnologia de visão artificial desenvolvida pela empresa, o OrCam Read e o OrCam MyEye têm “missões” diferentes. Por um lado, o primeiro dos equipamentos destina-se a pessoas com dificuldades de visão ou dificuldades de leitura, como dislexia ou afasia, assim como para quem lê grandes quantidades de texto.
De acordo com Fabio Rodriguez, o dispositivo, que conta com um formato semelhante ao de uma caneta “traz uma nova abordagem aos assistentes de leitura, já que é o primeiro dispositivo feito para ser agarrado, que captura páginas de texto e as lê em voz alta ao utilizador”.
Através de tecnologia baseada em inteligência artificial, o OrCam Read lê e captura em tempo real o texto de qualquer superfície ou ecrã digital, incluindo secções extensas de duas páginas inteiras. O dispositivo é ativado por dois lasers de precisão, que o guiam para encontrar o texto em questão, ou para selecionar o ponto de partida da leitura.
Já o OrCam MyEye, destinado a pessoas cegas e amblíopes, “combina o poder da visão artificial com um dispositivo do tamanho de um dedo” é “capaz de seguir o olhar do utilizador, permitindo uma utilização mãos-livres”, explica Fabio Rodriguez. O equipamento recorre à sua câmara e a IA para capturar imagens e vídeos e depois converter toda a informação captada em áudio que é transmitido ao utilizador.
O responsável indica que metade de toda a força de trabalho da sede da OrCam Technologies em Jerusalém, a qual faz parte do departamento de Research & Development, se concentrou no desenvolvimento das “soluções avançadas de inteligência artificial e machine learning” que estão por trás de ambos os equipamentos.
Para garantir a segurança dos utilizadores, que podem recorrer aos equipamentos para lerem documentos com informações sensíveis ou confidenciais, o processamento dos dados é todo feito offline. Salvo os updates de software, que são a única funcionalidade que precisa de uma ligação à Internet e que, mesmo assim só ocorre uma a duas vezes por ano, o funcionamento não está dependente de uma ligação Wi-Fi. Além disso, as imagens e vídeos captados pelo OrCam MyEye são eliminadas após a utilização.
Um crescimento baseado na colaboração
Desde que chegou a Portugal em outubro de 2019, a OrCam Technologies tem visto o número de utilizadores a crescer no país, o qual já se tornou no importante mercado, nas palavras de Fabio Rodriguez.
As expetativas da empresa foram mesmo excedidas e, em 2020, “foram vendidos mais 130% dispositivos do que aquilo que tinha sido planeado”. De acordo com o responsável, o crescimento prende-se também com a aposta em iniciativas de sensibilização da população para os desafios que as pessoas com dificuldades ou deficiências visuais enfrentam, tal como aquela que foi lançada no ano passado e que contou com uma parceria com o famoso futebolista Leonel Messi.
A colaboração com instituições nacionais é também uma área de atuação de grande importância para a empresa. A Biblioteca Nacional de Portugal conta já com um OrCam Read disponível para utilização na Sala de Leitura da Área de Leitura para Deficientes Visuais (ALDV), assim como o Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID) da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria.
“Estamos empenhados em continuar a fazer crescer o número de parcerias nacionais”, enfatiza Fabio Rodriguez, indicando que existem muitas oportunidades de crescimento: com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas, mas também permitir que possam disfrutar do prazer da leitura.
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