Os sistemas de saúde, da educação e judicial poderiam contribuir mais para a concretização da Sociedade do Conhecimento - e ao mesmo tempo beneficiar dela - se algumas das culturas que lhes estão subjacentes ao nível do funcionamento mudassem, uma conclusão dos intervenientes no painel do Congresso das Comunicações dedicado ao tema "Portugal Digital - eGov, Justiça, Saúde e Educação".
Sem qualquer dúvida de que a utilização das tecnologias terá uma influência positiva nos processos judiciais, a sua mera introdução não é garantia, segundo Proença de Carvalho, para a melhoria da rapidez e da qualidade dos tribunais. "Não numa altura em que com a acção dos media a presunção de inocência e o segredo de justiça são pura ilusão", justificou.
Para o jurista a questão prende-se com a necessidade de mudança de cultura do sistema judicial. "Como conciliar a rapidez da comunicação com uma cultura judicial que continua a recusar ver a enorme evolução da sociedade?", perguntou, adiantando em jeito de resposta que a interrogação impõe a reforma profunda do sistema judicial e a criação de regras que disciplinem os novos poderes que entretanto têm surgido, incentivados, em parte, pelas inovações tecnológicas.
A mudança de cultura também parece ser necessária na área da saúde, segundo opinião de António Correia Campos. Aqui o problema da cultura coloca-se ao nível organizacional. "A questão da eGov na saúde é a da complexidade do sistema organizacional", referiu, apontando de seguida projectos já usuais na área da saúde, como a telemedicina ou o processo clínico electrónico, mas que não se generalizam por falta de protocolos comuns de entendimento entre as instituições.
As escolas da Sociedade do Conhecimento deverão, segundo Marçal Grilo, dar prioridade à autonomia, à interactividade, à promoção da literacia e ao uso da tecnologia e do multimédia, entre outras coisas. "O país tem que decidir entre um sistema de educativo montado centralmente ou um sistema em que cada escola é uma escola, tratada como uma entidade diferenciada" sugeriu, afirmando que a última hipótese era no seu entender a mais indicada.
O antigo ministro da educação mostrou-se preocupado com o atraso do sistema educativo em Portugal face aos restantes países europeus e afirmou que será necessário um grande esforço de investimento para mudar os valores portugueses de modo a que esse gap possa ser diminuído. "Penso que o país tem mais problemas de carácter do que propriamente de conhecimento", salientou. "Além dos saberes e das atitudes, muitos dos problemas estão nos valores, no carácter e moral dos cidadãos. E a transmissão de valores não se faz por decreto".
Falando no impacto que as tecnologias provocam na relação dos cidadãos face à Administração Pública, Diogo Vasconcelos, gestor da UMIC, pensa que a qualidade é um factor essencial, permitindo atenuar ou eliminar a questão actual da credibilidade dos serviços administrativos. "O cidadão da Sociedade do Conhecimento é um cidadão competente, consumidor, inovador e empreendedor e o Estado deverá passar a encarar o cidadão como cliente", defendeu Diogo Vasconcelos.
O gestor da UMIC acredita que as tecnologias da informação irão ajudar a criar um outro nível de desempenho por parte dos serviços públicos.
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