Durante o “Estado da Nação dos Media”, o painel que encerrou o primeiro dia do 26º Congresso da APDC, estiveram em discussão as alterações sofridas pelos meios de comunicação e pelos players da indústria dos conteúdos audiovisuais às mãos das novas tecnologias.

Numa altura de mudança substancial dos padrões de consumo de conteúdos televisivos, programas e séries, pensar no futuro das emissoras televisivas e dos respectivos canais está na ordem do dia.

Gonçalo Reis, CEO da RTP, afirmou que os canais abertos, ou free-to-air, continuam vivos e fortes e sublinhou a sua resiliência face a todos os desafios. Acrescentou que estes canais têm a capacidade de atingir um número muito maior de consumidores comparativamente aos canais de TV paga.

Desengane-se quem pensa que a dimensão digital é o futuro das emissoras televisivas, pelo menos no futuro próximo. Rolando Oliveira, administrador da Controlinveste, disse que “o salto para o digital” por parte destas entidades não tem sido bem-sucedido.

A publicidade é ainda o “ar” que os serviços online respiram e que lhes fornece as receitas indispensáveis à continuidade dos seus negócios. Rolando Oliveira disse que 90% das receitas publicitárias na Europa são açambarcadas pelo colosso Google, uma empresa extra-europeia. Isto deixa uma parcela de 10% sobre a qual têm que competir as entidades de todo os países do Velho Continente.

O executivo da Controlinveste considera que é por isso que as emissoras televisivas não têm conseguido singrar no meio online. Mas, como referiu Gonçalo Reis, tem de se registar a presença forte que os canais abertos têm nas redes sociais e a sua aproximação aos consumidores através destas ferramentas.

A produção de conteúdos esteve também em cima da mesa desta sessão e Francisco Pedro Balsemão, CEO do Grupo Impresa, destacou que a produção de conteúdos audiovisuais “é uma indústria fortíssima” e altamente exportável.

No entanto, o executivo sublinhou que a produção de conteúdos nacionais, como séries, filmes ou telenovelas, custa dinheiro e que é mais dispendiosa do que a compra deste mesmo género de produtos no estrangeiro.

Neste âmbito, Francisco Pedro Balsemão disse que seriam “bem-vindas” ajudas governamentais que permitissem “nivelar o terreno” de competição, com estações televisivas que beneficiam já desse tipo de subvenções.

O presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Carlos Magno, considera que o futuro ainda é visto com “olhos analógicos”, apesar de hoje ser mais do que evidente que o digital é o próximo passo.

“É preciso libertar o futuro digital da ditadura do passado analógico”, sentenciou o responsável, aludindo a uma frase do filósofo espanhol Daniel Innerarity, que escreveu que “é preciso libertar o futuro da ditadura do presente”.